UM DOCUMENTO
Governo Civil de Portalegre
Portalegre, 12 de Dezembro de 1936
Senhor Ministro do Interior
Lisboa
Excelência
Pela Comissão Concelhia da União Nacional do Concelho de Niza, foi-me comunicado que na Freguezia de Tolosa, daquele concelho, se vêm passando alguns factos de gravidade, e, entre os quais, os seguintes:
a) Nas tabernas e em todos os locais julgados apropriados, realizam-se verdadeiras sessões de propaganda subversiva, e incita-se o Povo a fazer a divisão da propriedade;
b) No sentido de se conseguir essa divisão, muitas pessoas do Povo, com mulheres à frente desfraldando bandeiras, vermelhas, têem destruído as linhas do concelho ou arrancando os marcos das mesmas;
c) Chegaram mesmo a dividir os terrenos em glebas, semeando-as de feijoaria, que recolheram, e a tal ponto levaram esse abuso, que os respectivos proprietários tiveram que recorrer ao Ministério do Interior, que por intermédio da Guarda Nacional Republicana, mandou desapossar os detentores das ditas glebas;
d) Apedrejaram-se pessoas de responsabilidade, e fazem-se tentativas de fazer rebentar bombas nas casas de alguns dos mesmos proprietários;
e) Vários indivíduos, como eles próprios têem confessado têem tido bombas em seu poder;
f) Faz-se a peito a afirmação pública de que há cerca de cinquenta comunistas em Toloza; e
g) Incita-se o Povo a matar, fazendo-se ao mesmo promessas de impunidade.
Como a averiguação destes factos muito interessa à ordem social, pedi já ao Exmo Director da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado que se dignasse mandar a Toloza, com urgência, um ou mais Agentes da Polícia que superiormente dirige, e, agora, tenho a honra de rogar a Vª Exª que se digne interferir no sentido de não fazer demorar o deferimento daquele meu pedido.
A Bem da Nação
O Governador Civil: Domingos Calado Branco
In “A repressão política e social no regime fascista” – Comissão do Livro Negro sobre o Fascismo
NR: a) O documento revela uma outra faceta da União Nacional - o partido único do regime fascista -, a de delator e de "extensão regional" da polícia política, a PIDE.
b) Os acontecimentos relatados inserem-se, na época, no movimento de contestação popular à atribuição de parcelas no "Baldio das Costas", uma situação que agitou aquela localidade durante alguns anos e não foi resolvida de modo satisfatório.