Eu queria saber, porém
Se alguém souber, explicai!...
Porque tudo escreve amor de mãe
E ninguém escreve amor de pai.
É preciso pensar a fundo,
Quando essa fala se diz,
Procurar ao filho a raiz.
A mãe é já amor segundo;
Está provado em todo o mundo
Que sem pai não há ninguém.
Porque não se há-de escrever também,
Amor de pai com paciência...
Porque lhe acham tanta diferença,
Eu queria saber, porém!
Nossa mãe dá-nos beijinhos
No tempo da criação.
O nosso pai dá-nos o pão,
Que são dobrados carinhos.
O meu pai é dos mais velhinhos
E ainda de casa sai!...
Procurar à praça vai
O futuro do meu interesse.
Porque é que esse amor nos esquece?
Se alguém souber, explicai!...
Amor de mãe, amor santo!
É o que diz o geral;
Eu acho que o do pai é igual,
Porque é que não se há-de adorar tanto?!
Lá porque a mãe tem mais encanto
E está justo que nos quer bem,
Do nosso pai é que vem
O início da nossa vida.
Se houver quem saiba, que diga
Porque tudo escreve amor de mãe.
Conheço pais relaxados,
Que pensam somente em gastar;
O que é preciso é relembrar
Que pelas mães há filhos enjeitados.
Eu deixo os dois igualados
E vós sociedade decifrai,
Se assim vai bem ou não vai.
Dai-me a resposta em breve:
Porque é que amor de mãe tudo escreve
E ninguém escreve amor de pai?
José António Vitorino
(Ti Zé do Santo) in “Terra Pousia”