1.7.25

OPINIÃO: Os obstáculos de Carneiro


José Luís Carneiro é recebido hoje em Belém já como novo secretário-geral do PS, o terceiro maior partido português em termos de deputados eleitos para a Assembleia da República. O facto de não representar sequer a segunda formação política é, só por si, inédito, colocando um peso incalculável sobre os ombros do líder socialista. Carneiro tem pela frente um longo e complicado caminho das pedras.

O primeiro problema pode ser um embaraço com consequências eleitorais. É já amanhã que Augusto Santos Silva promete pronunciar-se sobre as eleições presidenciais. Se o antigo ministro do PS e ex-presidente da Assembleia da República avançar, Carneiro fica com o “bebé” nos braços como se fosse um pai estreante. Apoia de imediato Santos Silva e relega para segundo plano António José Seguro, ex-líder do partido? Não escolhe qualquer dos candidatos, o que significará paralisar o aparelho socialista? Espera sentado para ver uma derrota clamorosa de todos os candidatos de Esquerda, inclusive os do seu partido? Se Santos Silva fizer como António Vitorino, a divisão socialista deixa de existir. Ficará a faltar apenas a unanimidade e, sobretudo, o ânimo, em torno do líder e de Seguro.

Convém não esquecer que pelo meio ainda há uma missão tão ou mais espinhosa. Se as autárquicas apresentarem um saldo negativo, a vida de Carneiro pode tornar-se um inferno. Em 2014, António Costa quis substituir Seguro na liderança porque a vitória do PS nas europeias foi avaliada como “poucochinho” pelo atual presidente do Conselho Europeu. O secretário-geral não terá tão cedo adversários para lhe disputar a liderança. Isso retira-lhe alguma pressão. Tudo o que conseguir de bom pode ser capitalizado. Tudo o que suceder de mau será apontado na agenda pelos seus rivais internos.

·         Pedro Araújo – Jornal de Notícias - 01 julho, 2025