8.10.24

OPINIÃO: Orgulho na língua

Temos muito pouco orgulho na língua que falamos, o português. Queixamo-nos do Acordo Ortográfico de 1990 - e a sua implementação refletiu esse sentimento antagónico - como se este atentasse contra o orgulho português e colocasse em causa as regras que tomamos como imutáveis. Concorde-se ou não com a justificação académica para estas mudanças, na verdade, a maioria das reclamações aconteceu, e acontece, porque nos incomoda voltar a aprender as regras a que nos habituamos. Pouco ou nada dessa contestação ao Acordo Ortográfico se deve à defesa das raízes da língua portuguesa. E temos tão pouco cuidado com a nossa língua que, todos os dias, manifestamos orgulhosamente o nosso saber e modernidade utilizando palavras estrangeiras, sobretudo inglesas. Nem a desculpa de não haver vocábulos correspondentes é aceitável, já que são muito poucos os casos em que tal é verdade. Podemos culpar governos, Comunicação Social e até as escolas por essa desvalorização do português, mas a falha - na verdade, um erro - é coletiva. Porque entregamos a nossa identidade e deixamo-nos conquistar por terceiros convencidos de que assim demonstramos orgulhosamente a abertura à modernidade. E os exemplos chegam até de quem deviam ser os principais defensores do português: vejam-se as escolas de economia cuja modernidade é anunciada chamando-lhes “business school” ou os “partners” que as instituições públicas orgulhosamente apontam quando apresentam projetos que dizem inovadores e abrangentes. Nuno Marques – Jornal de Notícias - 08 outubro, 2024