3.10.24

OPINIÃO: Hoje há mais um assalto

Um combate de boxe tem vários assaltos. E quando não há grande diferença entre os dois lutadores, é habitual que um ganhe alguma vantagem num determinado período, para no seguinte já ser o adversário a desferir o golpe mais vistoso. Aliás, e ao contrário do que vemos nos filmes, não é assim tão habitual que a contenda acabe com um KO e um dos pugilistas inanimado no tapete. É aos pontos que se decide boa parte dos combates. Na política não se usam os punhos (há exceções), mas parece às vezes ter algumas semelhanças, em particular no duelo a que temos assistido, por estes dias, entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos. No assalto mais recente, foi o socialista quem se saiu melhor. Entrou no ringue em S. Bento, descartou o melhor que pôde os golpes do social-democrata (o chamado IRS Jovem e o corte transversal do IRC), contra-atacando com o que entende ser um melhor destino para mil milhões de euros. Em vez de reduzir a receita do Estado, aproveitar a folga para um aumento extraordinário de pensões, contratar médicos e construir casas O presidente da República, que neste combate assume o papel de árbitro, tentou fazer uma leitura imparcial do momento, mas percebeu-se que deu mais pontos ao líder da Oposição do que ao primeiro-ministro. Para a história ficará o recado de que o “interesse nacional” é “mais importante do que o programa de Governo”. Luís Montenegro quis mostrar que não perdeu o fulgor e acusou o socialista de ser “radical e inflexível”, mas, enquanto se sentava no seu canto do ringue, acrescentou que faria uma contraproposta. O que nos traz para o assalto de hoje, em que Luís Montenegro precisa de ganhar vantagem no combate pelo Orçamento. Resta saber se tentará forçar um KO (apresentando uma contraproposta que Pedro Nuno Santos não consiga encaixar) ou se opta por uma tática mais defensiva, à espera de uma vitória por pontos que garanta a sobrevivência do Governo. • Rafael Barbosa – Jornal de Notícias - 03 outubro, 2024