19.5.24

OPINIÃO: Deixem-se de queixumes

Faz hoje dois meses que fomos às urnas para escolher um governo, depois de uma maioria absoluta embrulhada em casos e casinhos. Aguentou com o bater do pé dos profissionais da educação e da saúde, mas acabou por cair com um parágrafo. Temos um mês de governação e o que vimos foi a mudança do logótipo e exonerações com destaque para a demissão induzida de Fernando Araújo e a exoneração forçada de Ana Jorge.
Para Marques Mendes, Montenegro é bem preparado, Moreira era um bom candidato, mas, Bugalho, também é bem preparado; este que já foi crítico da União Europeia ao defender que U.E ia destruir a europa e ainda descobriu sete quinas na bandeira…Com o pano de limpar sempre pronto, Marques Mendes defende que Nuno Melo, também é um bom ministro, branqueando os recentes disparates com a desculpa que o inventor do “Tratado Atlético Norte”, ainda não vestiu a pele de ministro; mas que lata… 
A direita venceu e as monstruosidades saíram do armário com o lançamento de um livro apadrinhado por Pedro Passos Coelho, que de uma forma ultraconservadora evoca o machismo e apela a que a mulher seja subalterna. Não foi surpresa ver o Chega a bater palmas, surpresa é ver mulheres do Chega a aceitarem estas posições machistas. Grandes mulheres que lutaram e lutam pelos seus direitos, não imaginavam que em pleno séc. XXI existissem mulheres com mentalidade tão retrógrada e pouquinha…
A grande medida do novo governo, foi a mudança do logótipo, até parece que tínhamos perdido a identidade com um sistema inovador para o digital, adotado por países que primam por evoluir. Depois veio a fábula do IRS com o lobo a querer comer as medidas do anterior governo. E ficámos a saber que Hugo Soares garantiu que a AD negociou com o Chega as medidas do IRS e portagens das SCUT’s, mas André Ventura “furou” os acordos. Mas afinal, a redução do IRS para os jovens, também é uma falácia, porque a maioria ganha menos de 1000€ e a fórmula favorece quem ganha mais. Então para que serve um ministério dedicado aos jovens se nem o IRS, nem o IMT, ajudam a maioria deles?
Se a ideia do serviço militar obrigatório parece estúpida, a proposta do Ministro da Defesa e aceite pela Ministra da Administração Interna de condenar jovens delinquentes ao serviço militar é completamente de loucos. Agora Nuno Melo, depois de sentir a estupefação dos militares, vem tentar corrigir argumentando que era uma hipótese académica. Acontece que os portugueses não querem políticas e uma governação de hipóteses académicas, querem soluções assertivas.
Para ajudar ao momento político surrealista que se vive em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa fala de reparação às atrocidades portuguesas nas antigas colónias; pois, se tivermos que pagar as barbaridades que Portugal colecionou durante 400 anos de história ligado ao comércio de escravos, ficávamos condenados à insolvência eterna. Temos é que reconhecer que os nossos monarcas e Salazar tiveram comportamentos criminosos e eu, pessoalmente, como português com o subconsciente descolonizado, peço desculpa. Somos obrigados a reconhecer esses crimes e devemos ter uma atitude de cooperação afetiva para com os lesados.
A AR está a funcionar e parece que a AD não percebe. O Chega, depois de muitas piruetas, avanços e recuos, votou a proposta do PS em relação às SCUT. Bem sabemos que é para chatear a AD que não lhe deu abertura governativa e com esta atitude está a dizer ao governo que o seu futuro depende de se coligar com o Chega.
Com os resultados de janeiro e não do ano, o impreparado ou instrumentalizado Ministro das Finanças, Miranda Sarmento já veio com o discurso da tanga de Durão Barroso. A somar, os “ventos” que resultam das negociações com as forças de segurança e com os professores, fazem lembrar o vento suão que José Régio evocou na Toada de Portalegre como o vento que “esfarela os ossos”. Sabemos da fragilidade do governo, mas só falta ouvir, tirem-nos daqui… afinal, para Sarmento, os aplausos da União Europeia e o reconhecimento das agências de rating, foram uma falácia.
Pedro Nuno Santos, entretanto, vem dizer-nos que não há memória de um começo tão mau. Pois eu não me esqueço do famigerado governo Santana Lopes e Paulo Portas. Comecem, mas é a governar e deixem-se de queixumes.
* Paulo Cardoso - 10.05.2024 - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre