12.5.24

OPINIÃO: Seguradoras sem risco

Henri de Castries, então patrão do grupo Axa, tinha avisado logo em 2015: se a crise climática se agravar, mais vale não contar muito com as companhias de seguros. «Um aumento de dois graus da temperatura média no mundo ainda pode ser segurável», anunciava o homem de negócios, «mas o que é certo é que uma subida de quatro graus não o é». Feitas as contas, um aquecimento de 1,2 °C foi o suficiente para que a State Farm, um dos pesos-pesados do sector, virasse as costas à Califórnia. O que estava em causa? Um «aumento rápido da exposição às catástrofes». Há um ano que a empresa não assina ali mais nenhum novo contrato relativo a habitações e estabelecimentos comerciais, e acaba de rescindir 72 000 apólices. Um procedimento cada vez mais corrente nos Estados Unidos, nomeadamente na Louisiana, onde 17% dos proprietários viram o seu contrato anulado em 2023. Os infelizes clientes podem virar-se para a concorrência, que haverá de lhes propor tarifários proibitivos e cláusulas barrocas, como a recusa de cobrir as catástrofes que, à semelhança dos furacões, têm um nome.
Tempestades, secas, inundações... Por todo o mundo, a multiplicação dos riscos climáticos conduz a perdas consideráveis para as seguradoras. As quais, neste tipo de caso, não se colocam muitas questões. Se um risco se tornar demasiado dispendioso, aumentam o montante dos prémios; se isso não bastar, deixam de o cobrir. Com o aquecimento climático e o «aumento de sinistralidade» que o acompanha, todos os países têm agora regiões susceptíveis de se tornarem não rentáveis. Já não são apenas as ilhas Tuvalu, Angola ou o Bangladeche, assim considerados desde há muito tempo, mas também a Austrália, a Espanha, Itália. Em França, o governo está preocupado com isto ao ponto de ter criado uma missão de avaliação que acaba de apresentar as suas conclusões: é preciso operar um «reequilíbrio financeiro» e «reforçar os esforços de prevenção» - isto é, aumentar as contribuições, pôr o Estado a pagar e proteger o automóvel em caso de granizo.
A fazer fé nos seus dirigentes, as companhias de seguros serviriam de guardas-avançadas. Afastando-se das zonas de risco, apresentando a factura real das catástrofes naturais, elas participariam de uma tomada de consciência. Na ausência de cobertura satisfatória, as pessoas abandonariam os territórios perigosos, o que desenharia uma geografia social finalmente adaptada à desregulação climática.
Mas as coisas não se passam nada assim. Mesmo quando as seguradoras se desinteressam delas, as regiões expostas continuam a conquistar habitantes. Em França, nada impede o gosto pelo sol do Sul e pelas paisagens do Atlântico, nem as secas nem as tempestades. Nos Estados Unidos, a população está a aumentar na Geórgia, na Carolina do Norte, no Texas. E os pensionistas continuam a afluir à Florida, que tem os preços mais caros dos seguros das habitações (6000 dólares por ano em média). As contribuições exorbitantes e os riscos de incêndio também não impedem a proliferação das casas nas proximidades das florestas americanas, sobretudo desde que a pandemia de Covid-19 revelou aos quadros o charme do teletrabalho no meio da natureza (1). Os mais ricos não renunciam às suas preferências. E os mais pobres instalam-se onde podem. Se ninguém os cobrir, não mudam de casa; vivem sem seguro.
Estão hoje nesta situação seis milhões de proprietários americanos, agarrados a uma habitação que perdeu qualquer valor. O mais ínfimo acidente pode conduzi-los à falência, à impossibilidade de pagar os créditos que contraíram, com um risco de reacção em cadeia para os bancos e o mercado imobiliário. A fim de evitar uma crise generalizada, os poderes públicos pagam a factura. A Louisiana subsidia as companhias para que continuem a operar ali; a Florida propõe uma cobertura pública, cujo número de aderentes triplicou desde 2019. Só as companhias de seguros não assumem qualquer risco.
* Benoît Bréville in www.lemondediplo.pt
(1) Renée Cho, «With climate impacts growing, insurance companies face big challenges», Columbia Climate School, 3 de Novembro de 2022, www.news.climate.columbia.edu