Muitas pessoas ficaram indignadas com as recentes notícias sobre o atual governo Taliban. Este grupo misógino aceita que as meninas frequentem a Escola primária, mas já não permite a continuidade nos estudos. Também é notícia, o facto de os talibãs proibirem as mulheres de poderem viajar sem estarem na companhia dos seus maridos. Isto faz lembrar a cultura salazarista em que uma mulher para sair do país, tinha que ter uma autorização por escrito do marido.
Felizmente em Portugal, o 25 de Abril abriu as portas à igualdade de género e a subalternização das mulheres já não é aceite. Com a instauração da democracia, Portugal conseguiu uma Constituição progressista; a lei fundamental que garante a defesa dos direitos humanos. Este mês, já podemos dizer que temos tantos anos de democracia como os que tivemos de ditadura. Agora, é o povo que escolhe os seus destinos, mas a democracia nunca será plena, enquanto o poder económico controlar o poder político. Volvidos estes anos, era suposto termos um país melhor, mas as heranças do passado e alguma continuidade de domínio dos donos disto tudo, não deixam cumprir Abril.
O 25 de Abril é uma data pesarosa para os saudosistas da miséria e do atraso; é uma data festiva para os progressistas que não gostam de ditaduras como a do Salazar no passado e de Putin no presente – dois criminosos. Hoje não temos a censura do Estado Novo que faz lembrar a censura na Rússia e não temos as perseguições políticas aos jornalistas e ativistas de esquerda, como acontece na Rússia. Tudo leva a crer, que se fosse vivo, Salazar seria um admirador de Putin e vice-versa.
A semana passada, vimos tomar posse um governo, que como outros ignoram a realidade e são submissos ao poder económico; são incapazes de introduzir reformas que garantam direitos laborais sem exploração, um SNS sólido, sem ser vandalizado pelos privados e uma Educação a sério com condições. Depois, ainda temos comentadores que manipulam e distorcem a informação. Por exemplo, ouvir Marques Mendes a afirmar que BE e PCP não deixam fazer reformas é no mínimo indecoroso; o que podia dizer é que não concorda com as propostas da esquerda, porque dão mais força ao SNS, à Educação e combatem a exploração e corrupção que Marques Mendes defendeu enquanto governante.
Marques Mendes integrou três governos de Cavaco Silva e foi conivente na opção do betão e das autoestradas, destruindo a agricultura e pescas. Deram poderes aos grandes grupos económicos para terem agora todos os trunfos, até para lucrarem com as crises. São eles os responsáveis por vermos países como a Polónia e a Hungria a ultrapassar-nos e ainda culpam os outros.
O 25 de abril está a ser comemorado e não é só a extrema-direita que quer exultar o 25 de novembro, Marcelo também quer. Esperemos que Marcelo não caia na ratoeira de condecorar a título póstumo o fracassado general terrorista Spínola que o Chega deve ter em tão boa conta. Cavaco já nos mostrou o que foi e o que é, mas esperamos melhor de Marcelo.
Tudo indica que uma das prioridades, face à invasão russa na Ucrânia, é o reforço de verbas para o armamento, quando o que se esperavam, eram mudanças de políticas económicas e ambientais. Enquanto António Costa esconde o jogo, esqueceu-se do ambiente e apenas garante perdas salariais enquanto permite que os acionistas da Galp e da EDP se estejam a rir. Este governo desiste da saúde para todos, em especial no que diz respeito a médicos de família e desiste de melhorar a vida das pessoas; se o gás e eletricidade em casa, são bens essenciais de primeira necessidade, porque razão têm a taxa máxima de IVA como os bens de luxo? E ao contrário, o poder de compra continua a cair, agora ainda mais, com o aumento da inflação, da especulação e das taxas de juro. Muitas pessoas endividadas estão condenadas a uma recessão a par da recessão económica deste país endividado.
Estão criadas as condições para as famílias empobrecerem. Mais de um milhão de pessoas em Portugal, não têm médico de família e quem tem leva meses à espera de uma consulta. Há colheitas de sangue anuladas por falta de pessoal e nas Escolas existem necessidades urgentes; mas estas necessidades não dão lucro à indústria da guerra, nem aos donos disto tudo.
Apesar dos sinais dos tempos exigirem outras e mais medidas, o governo do PS que agora tomou posse, não muda a agulha e o comboio lusitano continua em baixa velocidade, ignorando estações e parando nos apeadeiros. Habemos governo e orçamento, mas temos mais do mesmo…
* Paulo Cardoso in - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 15/4/2022FOTOS: Gerald Bloncourt - A Revolução dos Cravos - 1974