12.4.22

OPINIÃO: Modus Operandi

A ambição sem limites, a intolerância, a ganância do lucro e a acumulação de riqueza fazem com que o mundo assista a retrocessos civilizacionais. É assim na Síria, no Iémen e na Ucrânia, o novo Vietnam, como exemplos mais atuais. O negócio das armas que muita gente aceita, estão a provocar mais guerra e a política, que muita gente detesta, é a única forma de travar as guerras.
Existem erros que se pagam caros e que comprometem o sonho de uma sociedade melhor. Foi o caso da invasão do Iraque pelos EUA (2003), assente numa mentira firmada pelos criminosos, Bush, Blair, Aznar e Durão Barroso, que resultou em centenas de milhares de mortos; num país destruído, instável e que alimentou o aparecimento do grupo terrorista, Estado Islâmico que tantos dissabores tem dado ao mundo. Também, o desmantelamento da Jugoslávia, forçado pelo ocidente, foi outro antecedente perigoso e se dúvidas houvesse, na Líbia os americanos mostraram a sua falta de estratégia e de decência.
A ONU não deu consentimento à invasão do Iraque, mas também não aplicou sanções ao invasor americano. Foi um precedente que vai servindo de argumento a outros invasores e retirou credibilidade ao nada democrático Conselho de Segurança da ONU. Tudo isto, porque a venda de armas é o maior negócio do mundo e, nos últimos anos aumentou. Os EUA lideram este mercado com mais de 50%, seguido da China com cerca de 15% e com a Rússia a perder relevo. Então a quem interessam as guerras? Lamentavelmente a Europa tem sido submissa aos EUA e é um grande cliente de material militar americano ávido de conflitos no mundo.
Se investigarmos quem são os donos do maior fabricante mundial de armamento, a Lockheed Martin, esta pertence a grupos do sistema financeiro como a Blackrock Inc., o segundo maior acionista da EDP, a Vanguard Group, a Morgan Stanley e até o Bank of America Corporation. Estamos a falar do imperialismo neoliberal que suporta o capitalismo financeiro mundial, sempre de mãos dadas e envolvidos em ações criminosas. E são este tipo de instituições que controlam o mundo; Putin e Biden são apenas peças do xadrez mundial nas mãos dos maiores banqueiros do mundo.
São estas pessoas que estão a enriquecer e a lucrar com isto tudo. São eles que controlam governos, alimentam ditadores e inquinam as democracias. A ganância do lucro não tem vergonha quando percebemos que apesar das sanções, temos países europeus a venderem armamento à Rússia para matar ucranianos.
Da ditadura de Putin à falta de democracia na Ucrânia, com Zelenski a impedir onze partidos de ter atividade, o mundo convive bem com modelos autoritários, desde que para isso o negócio seja vantajoso. Tanto na Ucrânia como na Rússia, os ativistas de esquerda têm sido perseguidos. É, também, o caso da China, onde o seu presidente chinês, Xi Jinping, não tem limite de mandatos, desde que o Comité Central do Partido Comunista Chinês assim o decida, com suporte na Constituição chinesa alterada em 2018.
Na Rússia e na China, países com quem a Europa tem tido acordos comerciais, a informação é censurada, ativistas dos direitos laborais são perseguidos e os opositores políticos são presos com acusações falsas. É um exemplo disso, o opositor de Putin, Alexei Navalny que já sobreviveu a uma tentativa de envenenamento e agora, foi condenado por crimes de fraude e peculato. Sabendo isto, ainda andamos a negociar com estes ditadores, ou seja, com os oligarcas russos “putinistas”, apanhados nos Panama Papers.
O povo palestiniano, também está solidário com os ucranianos, mas não percebem a razão porque o mundo não se indignou contra o invasor israelita, da mesma forma como se indigna contra o invasor russo. Por falar nisso, alguém se manifesta por Israel vender armas ao Azerbaijão? Armas que estão a matar civis, crianças, idosos e a destruir edifícios como hospitais. E este é só mais um exemplo. E para quando a descolonização do Saara Ocidental, onde Espanha e Marrocos decidiram oprimir o povo sarauí, com o apoio dos EUA e à margem da ONU?
O protofascismo tem tido um crescimento assustador no mundo. E esse nacionalismo dissemina ódio e cria conflitos. Em Portugal, os seguidores do ditador Salazar têm agora, de forma legítima, um grupo parlamentar. Contudo, a mentira e a injustiça estão a ganhar terreno e a alimentar o nacionalismo lusitano, retrógrado e antissocial. O fim da guerra só é possível com diálogo e com democracia; a extrema-direita promove a guerra, senão vejam bem a atitude de Mário Machado e o seu modus operandi.
* Paulo Cardoso  in Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 01-04-2022