10.1.21

COISAS DA CORTE DAS AREIAS (18) - Homenagens

Desengane-se quem pretender “apanhar” neste escrito uma qualquer discordância relativa ao critério dos “homenageantes” ou sobre a justeza do galardão atribuído aos homenageados. Não é disso que se trata.
Estivemos lá e não gostámos. Foi no 25 de Abril 08. Aconteceu no Cine Teatro de Nisa. Foram homenageados “quatro cidadãos e exemplos de dedicação à Comunidade” (1).
Foram eles o Dr. Celestino Ventura Rodolfo, o José Maria Casimiro, o Pedro da Piedade Mendes Mourato e o António Maria de Oliveira Charrinho.
No sítio e à hora errada, como soe dizer-se, aconteceu a nossa presença ali, abusiva, confessamos ( “a casamentos e baptizados só vão os convidados”), pois não tínhamos que estar lá, mas, uma vez quebrado o protocolo, lá fomos “dar fé”, saindo mais tarde defraudados pela pobreza das homenagens, por mais justas que fossem.
Antevemos a dificuldade que os homenageados, ou os seus descendentes vindouros terão, num futuro próximo ou longínquo, em justificar lá em casa, a presença da medalha recebida, não havendo, como não há, uma qualquer referência escrita sobre os méritos dos homenageados por parte de quem os preiteou. Se ficou algo, deve-se ao director do Jornal de Nisa, que, sendo pouco, já foi muito, mas nunca o suficiente. Nem seria difícil encontrar, para cada um dos quatro homenageados (a escolha seria deles) alguém capaz de, com justiça e verdade, lhes referir o currículo justificativo da escolha.
“Bastaria ler as suas biografias”, e aqui citamos Vences Cordeiro, a propósito das homenagens em 1987, em documento emanado da Comissão Municipal de Cultura e Património, por si elaborado. Ou se faz bem feito ou não se faz.
Pensamos de há muito tempo assim e daí que já em Outubro de 2001, no nº 92 do Jornal de Nisa, em crónica sob o título “Homenagens (Hoje e Sempre)”, abordávamos esta temática e referíamos a solenidade que estes actos devem merecer por parte dos intervenientes. Sobre os homenageados referíamos então o Dr. Granja, em 1981, cujo busto foi descerrado pelo Presidente da República, Ramalho Eanes.
Igualmente referíamos os homenageados de 1987, em dia de romaria a Nossa Senhora da Graça, feriado municipal, e que foram os doutores João Maria Porto, professores Joaquim Mendes dos Remédios, Alexandre de Carvalho Costa e Manuel da Cruz Malpique e ainda o pintor Augusto Pinheiro.
Em 1993 coube a vez ao jornalista e grande cineasta que foi Baptista Rosa. “Chamava-se Júlia e fazia flores” é nome da colectânea de contos por si escrita, obra prefaciada por Baptista Bastos, “ um dos oradores presentes na Casa da Cultura em Nisa”, escrevíamos nós na altura na referida crónica.
Ainda em 1993 e também no ano seguinte (1994), ao cineasta seguiu-se um músico, senhor Luís do Rosário Matias, e uma instituição, a Banda de Nisa. Por se tratar destas duas figuras e devido ao nosso envolvimento nesta área no passado recente e particularmente nestes dois acontecimentos que decorreram com muito brilho, cremos não ser abuso nosso discordar agora da forma como outro músico, António Maria Charrinho, “não” foi homenageado, e nem sequer culpamos o Município de Nisa.
Em 1999 e 2006 foi a vez de perpetuar os nomes do Dr. Jaime de Almeida e Prof. José Francisco Figueiredo, atribuindo-os a duas ruas do Bairro da Cevadeira. Sempre, mas sempre, estes actos tiveram a anteceder-lhe a protocolar sessão solene onde, fruto de brilhantes intervenções se ficou a conhecer mais e melhor os homenageados. Assim e só no que à actividade musical respeita, aconteceu na Conferência proferida em 8 de Outubro de 1982, por ocasião da apresentação pública dos primeiros alunos da Escola de Música da Sociedade Artística Nisense, também na comunicação proferida na sessão de homenagem póstuma prestada pela Câmara Municipal de Nisa a Luís do Rosário Matias (Mestre Félix) em 9 de Outubro de 1993, e ainda na conferência proferida na sessão solene comemorativa do 150º aniversário da Banda de Nisa, a 22 de Outubro de 1994.
Três acontecimentos, todos em anos diferentes, mas sempre e não por acaso, no mês de Outubro. Como, também, não por acaso, sempre com o mesmo orador e por alguma razão o foi, intervenções brilhantes do nosso conterrâneo e amigo, Carlos Tomás Cebola.
Bem merecia o António Maria contar com ele, referindo-lhe os méritos, muitos e não só na área musical, como foi referido, mas também como pintor e poeta, vocação que esqueceram referir.
Especulando: na impossibilidade do Insp. Carlos Tomás Cebola, haveria mais alguém apto a substituí-lo, ainda que com limitações?
Bem, parafraseando um de dois compadres naturais de Amieira do Tejo, diríamos: só conhecemos outra pessoa para além deste senhor, capaz de falar, com conhecimento de causa, do António Maria, mas a este, desculpem, não lhe citamos o nome...
Já agora e porque estamos “com a mão na massa”, informamos, as três intervenções atrás referidas, constam de um livrinho a nós oferecido em 1995 por aquele nosso amigo, livrinho que recomendo à nossa Presidente da Câmara como merecedor de publicação.
Atentos, com certeza repararam os leitores, não falámos na homenagem já prestada aos músicos senhores João Diogo Figueiredo e João de Matos Bizarro, que nos dizem ter acontecido...
Ambos mereciam mais e então o senhor João Diogo, caramba, foram só 75 anos a servir a “Música de Nisa”.
Até a mensagem enviada pela Câmara de Nisa e que deveria ter sido lida, desapareceu ali, em cima do acontecimento, no palco do Cine Teatro de Nisa.
Porque é que acontecem estas coisas?
*João Francisco Lopes in "Jornal de Nisa" nº 255 - 14/5/2008