“Templários são o Santo Graal do turismo” (título em “Reconquista”)
O legado histórico e cultural ligado à presença da Ordem dos Templários no concelho de Idanha-a-Nova e que se prolonga para lá da fronteira com Espanha, pode ser o Santo Graal do turismo no concelho raiano”.
A afirmação foi do presidente da Naturtejo, Armindo Jacinto, durante o colóquio “Patrimónios Turísticos”, realizado em Idanha-a-Nova em Julho de 2006.
Em Nisa, no dia 5 de Dezembro, num encontro cujo tema era “Conhecer o Geoparque Naturtejo da Meseta Meridional”, ouvimos este senhor e confessamos, gostámos do que ouvimos e acreditamos ser possível, com o trabalho de muitos, pôr de pé a obra sonhada e colher, o concelho, os benefícios que se auguram.
Da intervenção em Idanha-a-Nova, confessamos que mais gostaríamos se o senhor presidente da Naturtejo, por mais positiva e abrangente, referisse o “bem” que pode significar a presença templária para todos os seis concelhos parceiros da Naturtejo, pois cremos que todos eles têm um passado ligado aos Templários, ordem militar e religiosa extinta no início do século XIV.
É evidente que estamos plenamente de acordo com o presidente da Naturtejo, quanto ao valor turístico daquela presença nesta nossa região do Tejo superior, valor ampliado, agora, com a recente classificação das Portas de Ródão como monumento natural e a criação do Geoparque.
Por certo e em verdade, cada uma das terras templárias terá a sua própria história, esta ou aquela particularidade especial, este ou aquele episódio vinculativo ao misticismo daqueles cavaleiros do Templo que, é fácil de adivinhar, como nos diz Paulo Alexandre Loução (in “Os Templários na Formação de Portugal” – pág. 315) que “não foram deuses, foram humanos, e como tal imperfeitos”, mas muito menos foram aquilo de que foram acusados, resultando daí terem sido perseguidos, julgados injustamente e muitos deles mortos, criminosamente.
Só agora, 700 anos depois, a verdade vai emergindo, graças a um documento secreto do Vaticano, descoberto há poucos anos em Chinon (França) que “considera os monges-cavaleiros inocentes das acusações de blasfémia e heresia” (1). O referido documento foi “lavrado em 1308, um ano depois do início do processo (…) o pergaminho, em latim, é assinado pelo cardeal Berenguer, legado do Papa (…) e dois outros cardeais, também legados pontíficos”.
Apesar desta decisão, a Ordem do Templo foi mesmo extinta pela “bula Callidis serpentis, de 30 de Dezembro de 1308”, (2) abrindo desde logo o caminho ao instigador da tramóia, o rei francês, Filipe, O Belo, que de belo apenas teria a aparência, que nanja o coração, o que lhe permitiu apropriar-se dos bens da Ordem, não hesitando em acusar, condenar e matar inocentes, como aconteceu com o Grão-Mestre da Ordem, Jacques de Molay, queimado vivo junto à catedral de Notre Dame de Paris.
E é com este cenário, no início do século XIV, que ocorre por aqui, no nosso actual território concelhio, uma das tais “especiais particularidades”, históricas, um dos “episódios únicos”, capazes de “vender” o turismo e atrair “clientes”, como por nós já foi referido em escritos anteriores sobre o tema.
Em Portugal e à data, reinava, então, D. Dinis, que sendo para além de Rei, um “Senhor”, tudo fez para proteger os Templários, já então a viverem tempos difíceis, prenunciando o pior para a Ordem e eles próprios. Atesta-o, o que José Manuel capelo nos diz, na sua obra “Portugal Templário”, a páginas 203 e 204:
“Durou no governo da Ordem do templo como Mestre no Reino de Portugal, o Mestre D. Vasco Fernandes até ao ano de mil trezentos e onze. (…) Ele sobreviveu ainda doze anos, porque faleceu no de mil trezentos e vinte e três, e os últimos professou na Ordem de Cristo onde acabou os seus dias Comendador de Montalvão”.
(…) “ Em o tempo todo (…) lhe deu o senhor Rei D. Dinis, decente habitação”.“À medida que o tempo e os factos se iam aclarando, a maior parte do Templários “desaparecidos” ia aparecendo. A sua grande maioria ingressou, com o assentimento real e sem nenhum problema, como simples freiragem na recém-criada Ordem de Cristo, que não deixava de ser, com nova roupagem e para todos os efeitos, a própria Ordem de Cavalaria do Templo, só que com outra designação. O mesmo se passou com D. Vasco Fernandes”.
“Ingressou como simples freire na Ordem de Cristo, onde foi Comendador de Montalvão, e perdeu direito ao lugar (de sepultura) que na Igreja de Santa Maria dos Olivais, os mestres se reservavam.
Julga-se que o seu corpo se encontre sepultado sob a nave principal e junto ao altar-mor da Igreja de Montalvão. De certo e misteriosamente, a História não lhe sabe o lugar.
Protegido pelo Rei e pela sua nova Ordem, pouco mais se sabe da existência do último e todo-poderoso Mestre da Ordem de Cavalaria do Templo de Jerusalém em Portugal.”
Até quando vai Nisa ignorar estas “particularidades especiais, únicas”, eu a podem e devem, promover? É crime divulgar o episódio ocorrido no princípio da nacionalidade, ligado à transumância, envolvendo os Templários e os pastores da Covilhã, aqui sacrificados na “Serra de Nisa” (S. Miguel) e ali sepultados junto a uma ermida, construída para o efeito (S. Simão), por imposição do rei e do Bispo da Guarda?
É motivo de vergonha, relembrar aos portugueses que, aqui, na Notável Vila de Nisa, viveu alguns anos o Almirante Navegador, D. Vasco da Gama, que foi Alcaide-Mor de Nisa?
Infelizmente, a única referência ao seu nome e ao cargo aqui desempenhado, gravado em negra mesa de granito, no Rossio, foi dali retirada por um qualquer senhor arquitecto ou arquitecta, estranho à terra, ignorante da nossa história e dos sentimentos dos habitantes da Corte das Areias.
Voltando ao tema anterior, nos tempos de agora, em que, “por dá cá aquela palha” se distribuem por tudo o que é sítio, espelhadas lápides comemorativas de um qualquer banal acontecimento, viria a (des) propósito a seguinte proposta:
a) Que no exterior da Igreja de Montalvão, “que é do século XIV”, à esquerda, ladeando o pórtico, fosse colocada uma lápide, com a seguinte informação e correspondente citação:
“D. Fr. Vasco Fernandes (? – 1323) – 2º e último Mestre Templário português – Julga-se que o seu corpo se encontre sepultado sobre a nave principal e junto ao altar-mor da Igreja de Montalvão, De certo, e misteriosamente, a História não lhe sabe o lugar”.
Nisa, Alpalhão, Montalvão, vilas históricas, foram comendas e tiveram castelos pertença da Ordem do Templo. Tomar, “cidade templária”, como lá nos informam os painéis turísticos. A exemplo daquela cidade, Alpalhão, na zona envolvente ao Coreto, Montalvão, frente à igreja e Nisa, no Rossio, bem que podiam exibir, nas modernas calçadas aí existentes, uns quantos símbolos da Ordem executados com cubos de pedra preta.
Que símbolos? Naturalmente, as cruzes das ordens dos Templários e de Cristo que, aliás, constam já nos brasões de Nisa e freguesia do Espírito Santo e Nossa Senhora da Graça, e que vemos por aí, também, esculpidas no nobres granito do concelho, nas igrejas da Vila e do Arrabalde, na Senhora dos Prazeres, no S. Silvestre, em Montalvão, no Santo António de Nisa, São Matias no Cacheiro, e algumas outras, como a da frontaria da Fonte da Cruz e em pelo menos duas dezenas de marcos templários.
Em Tomar, a Igreja de Santa Maria dos Olivais é panteão onde repousam os restos mortais de 22 mestres, do 6º ao 27º ali se encontram todos, mas o vigésimo oitavo, o “Último Mestre”, primeiro Comendador de Montalvão na Ordem de Cristo, tudo o indica estará entre nós, em Nisa, numa das suas freguesias, no interior da secular Igreja da histórica vila de Montalvão.
Vamos continuar a ignorá-lo ou, pelo contrário, divulgá-lo?
Parafraseando o presidente da Naturtejo, também por cá devemos acreditar que a presença templária, inclusive a do último Mestre, no nosso território, é, ou pode ser, turisticamente falando, verdadeiramente o Santo Graal do concelho.
Ou não?...
Notas(1) – Capelo, José Manuel – Portugal Templário – Pág. 308
(2) - idem
João Francisco Lopes in "Jornal de Nisa" nº 223 - 17/1/2007