VOLTAS QUE O MUNDO DÁ
Ó Nisa, estás pobrezinha,
Mas ninguém quer trabalhar.
Tudo quer bom ordenado,
Tudo se quer empregar.
Na vida da agricultura
Já ninguém quer concorrer
Daqui por mais algum tempo,
Não sei o que isto há-de ser.
Tudo quer luxo e vaidade,
Seja pobre ou seja rico.
Estamos na “vida moderna”,
Tudo quer par´cer bonito.
Usam lindas camisolas
E camisas de TV
Calcinha de terylene
Em toda a gente se vê.
Hoje a vida está boa;
Pobre e rico traja bem.
Hoje o luxo é a riqueza,
Ninguém ajunta vintém.
Saia justa é a moda,
E mal podem andar,
Com os joelhos de fora.
Nem sabem o que hão-de usar.
Este tempo é muito bom;
E cá na terra já é uso,
Quando vão fazer exame,
Levar relógio de pulso.
Nos tempos dos nossos pais,
A moda não era assim.
Camisa de pano cru,
E calcinha de cotim.
Minha mãe também usava
Saia comprida e rodada,
Um lencinho no pescoço
E uma “roupinha” encarnada.
Maria Pinto – 1/5/1965