Casa cheia no lançamento de livro de José Hilário
Em Pé da Serra, aldeia do concelho de Nisa, decorreu no dia
23 de Dezembro, a sessão de apresentação do livro “Pinceladas de Poesia e
Contos da Aldeia” da autoria de José Hilário.
A sessão teve lugar no Centro Cultural e Recreativo Amigos
do Pé da Serra, um espaço amplo, mas que se tornou pequeno, face à afluência de
amigos, conterrâneos e familiares do autor.
Numa sala cheia, de pessoas interessadas, iniciou-se, sem
atrasos, a sessão cultural, com o grupo Filarmonisa, da Sociedade Musical
Nisense, a fazer as honras da casa e a privilegiar toda a assistência, com meia
hora de música de grande qualidade, sendo cada trecho sublinhado com fortes
aplausos. Esta foi a melhor forma que a SMN - de que José Hilário foi presidente
da direcção – encontrou para, na sua terra natal, lhe expressar a sua homenagem
e associar-se a esta sessão de lançamento do livro, com pinceladas de música
nos contos da aldeia. Atrás dos executantes, José Hilário, abria, também, as
primeira páginas do primeiro livro a ser posto à disposição do público. Uma
enorme fila de pessoas se dirigiram para o adquirir e logo ali, pelas mãos e
pela caneta do autor, receberem o privilégio de uma dedicatória, de palavras
simples e sentidas, a expressarem amizade e agradecimento.
A sessão de autógrafos foi interrompida, para dar lugar à sessão, propriamente dita, de apresentação do livro.
Na mesa da sessão, o autor, José Hilário, a vereadora do
pelouro da Cultura da Câmara de Nisa, Fátima Moura e o director do Jornal de
Nisa, Mário Mendes, autor do prefácio de “Pinceladas de Poesia, Contos da
Aldeia”.
Numa sala ampla e fria, embora cheia de calor humano, foram
breves as palavras de Mário Mendes, recordando, alguns dos excertos do
prefácio, e lembrando que o livro era o tributo de um menino nascido na aldeia
e que um dia se fez marinheiro e descobridor de outros mundos, gentes e
lugares, sem, contudo, esquecer o lugar recôndito onde nascera, as brincas e os
companheiros de infância. Essa aldeia – Pé da Serra – povoou, sempre, o seu
imaginário e a ela retornou, como filho pródigo de regresso ao lar, após a sua
passagem à situação de reforma, que não de inactividade.
Mário Mendes falou dos poemas que integram o livro, assim
como das histórias, algumas das quais
classificou como sendo de “fino sabor popular e etnográfico” e que ajudam a
compreender a odisseia das gentes destes lugares quase inóspitos, para tirarem
da terra sustento para a família e para
a alimentação do corpo e do espírito dos seus filhos. Destacou, entre outras, a
história do “Ti Manel dos Caixotes” e, logo alguém, de entre a assistência, se
mostrava “incomodado” com a alusão ao seu nome. Questionou a mesa e a história
do livro e fez questão de deliciar a assistência com a sua “versão” do mesmo
conto da aldeia. Demorou ainda um pouco à assistência e ao próprio autor,
perceberem, que estavam perante uma encenação, ensaiada para dar mais cor e
vibração ao lançamento do livro, e interpretada pela jovem, Ana Margarida
Marzia, animadora sócio-cultural pela Etaproni. Após a surpresa inicial, as
pessoas reagiram, com manifestações de alegria e carinho, sendo o seu
desempenho alvo de vibrantes aplausos.
José Hilário, emocionado, agradeceu a presença da população,
dos músicos, dos colegas autarcas e dos amigos, dizendo que o livro era a
concretização de um sonho antigo, só possível pelo apoio da família e de várias
pessoas.
Fátima Moura, disse estar sensibilizada pelo convite à
Câmara e que não podia faltar ao lançamento de uma obra de inegável valor, quer
para a freguesia, quer para o concelho, e desta forma, associar-se a esta
sessão cultural e de homenagem ao senhor José Hilário, uma pessoa bastante
conhecida e a quem desejou os maiores êxitos na divulgação da obra.
Mário Mendes voltou ao uso da palavra para deixar três
mensagens em forma de lembrança.
A primeira – disse – “para recordar, aqui, nesta aldeia,
Carlos Franco Figueiredo, recentemente, falecido. O Carlos Figueiredo, foi um
dos primeiros colaboradores do Jornal de Nisa e lembrá-lo, aqui, tem um
significado especial. Ele escreveu, há 50 anos, talvez, uma das mais belas
poesias sobre o Pé da Serra: o Poema da Aldeia em Festa.
A segunda – prosseguiu – “para homenagear os autarcas do
concelho e do país, pelo que de bom fizeram para tornar cada lugar, aldeia,
vila e cidade, com melhores condições de vida. É um tributo justo quando se
assinalam 30 anos sobre as primeiras eleições para o poder local”.
A última lembrança, referiu, emocionado, “vai para um grande
amigo e filho desta terra e que há muito nos deixou: Carlos da Cruz Ribeiro.
O Carlos esteve comigo na tropa, durante a especialidade, em
Paço de Arcos, e depois, durante dois anos, na Guiné-Bissau. Foram anos de
convívio, mais do que suficientes para perceber que estava perante uma pessoa
de carácter excepcional que fez questão de me distinguir com a sua amizade. Não
ficaria de bem comigo se não o recordasse aqui, hoje”.
Ana Margarida, recitou, a finalizar, um dos poemas do livro,
dedicado à mãe do autor. Este, profundamente comovido, agradeceu e convidou todos
presentes a tomarem parte no lanche convívio que tinha preparado.
A festa, porque de uma festa popular se tratou, prosseguiu e
nós ficámos a pensar, como é preciso tão pouco para animar uma aldeia, neste
caso, Pé da Serra, e dar-lhes, ainda que por momentos, o frémito de vida por
que tanto anseiam.
O livro de José Hilário, conseguiu operar este “milagre”. Que outros lhe sigam o exemplo e que consigam transmitir aos vindouros, como nesta obra, os pedaços de memórias e de histórias, que passam a integrar o património local e livro aberto para outros livros e outras histórias que ajudam a preservar a raiz e a identidade de gentes e lugares.
O Pé da Serra é, sem dúvida, um desses sítios de eleição.
Mário Mendes in “Jornal de Nisa” – nº 222 – Janeiro de 2007