O Verão retirou-me do convívio dos leitores e neste
regresso ocorreu-me um texto satírico publicado em 1973, no “Diário de Lisboa”,
que tornei a encontrar, ao fazer limpeza na casa, que se ergue, perto do
Talefe.
O humor como arma crítica, tem tido um papel importante,
em todos os contextos desde o social ao político. Neste caso, o autor incide
sobre as organizações “eficientes”. Saboreiem então “Os Princípios da
Administração Científica aplicados à Sinfonia Incompleta de Shubert”.
“ Uma brigada especializada em métodos de organizações e
administração visitou a Universidade de Liverpool para inquirir sobre a
eficácia ou a falta dela do gabinete do vice-candelário. A visita coincidiu com
um dos concertos da Real Orquestra de Liverpoool a que sempre assistia o
vice-candelário. Nesta ocasião, contudo, ele não podia assistir ao concerto e,
com a sua habitual generosidade, ofereceu o bilhete ao chefe da brigada, que
nunca tinha assistido a um concerto ainda que tivesse recebido na escola
educação musical. A obra principal do programa dessa noite era a Sinfonia
Incompleta de Schubert. Na manhã seguinte, quando o vice-candelário perguntou à
sua visita se tinha gostado do concerto, com grande espanto viu que esta lhe
entregava um relatório com duas páginas dactilografadas onde se lia:
1.
Durante períodos
consideráveis, os quatro tocadores de oboé não tinham nada que fazer. O seu
número deveria ser reduzido e o trabalho distribuído mais convenientemente pelo
concerto todo, eliminando, assim, pausas de actividade.
2.
Todos os 12 violinos
tocavam as mesmas notas. Isto parece uma duplicação desnecessária. O pessoal
desta secção deve ser drasticamente reduzido e se realmente se deseja um volume
de som maior, isto pode ser obtido por meio de um amplificador electrónico.
3.
Gastou-se grande
esforço em tocar semifusas. Isto parece um refinamento excessivo, e
recomenda-se que se reduza o valor das notas a fusas. Se isto se fizer será
possível usar estagiários e, até, trabalhadores menos especializados.
4.
Parece haver muitas
repetições de passagens musicais. Nenhum objectivo se consegue repetindo com os
metais uma passagem que já tinha sido tocada nas cordas. Se todas estas
passagens redundantes forem eliminadas, a duração total do concerto que foi de
duas horas, seria reduzido a 20 minutos e não haveria necessidade de um
intervalo. Além disso, se o compositor tivesse considerado estes pontos,
possivelmente teria podido acabar a sua Sinfonia”.
Zé de Nisa – Notícias de Nisa –
19/9/1997