29.5.15

Poema (quase) inédito de José Gomes Correia

AGUARELA
No livro da natureza
Quis Deus que as coisas mais belas,
Porque grandes... fossem elas
Um hino de singeleza!

Tudo tão simples... tão breve!
Diz-se num sopro, num grito:
Terra! Mar! Céus! Infinito!
Flor de sangue ou flor de neve!

Flor vermelha ou de outra cor
Mistério doce e profundo
Jóias de eterno escultor
Vós sois a graça do mundo!

Que a terra seria toda
Mais que despida quimera,
Não fosse o fato de boda,
Que lhe traz a Primavera!

Até o meu Alentejo,
Mar calmo de espigas loiras,
Se casa bem, ao que vejo,
Com o rubro das papoilas!

Na vossa simplicidade,
Flores do campo, em desatino,
Sois mil versos de humildade,
De sabor quase divino!...

Cingida aos pés do Senhor
Na tua muda expressão,
És um poema de amor,
Que nos fala ao coração!

E se a tua formosura,
Branca flor, a campa invade,
Mais do que amor... és ternura!
Mais que ternura... és saudade!

Eu sei lá o que se sente
Na tua presença, enfim!
Cabe em ti Deus, certamente,
Como tu cabes em mim!
José Gomes Correia
"Aguarela" é um poema quase inédito de José Gomes Correia. Foi publicado no livro "Flores" - Inéditos sobre a flor dos nossos poetas contemporâneos - numa edição das Conferências de S. Vicente de Paulo de Portalegre e integrado - cito - "no seu movimento de Cultura, Recreio e Caridade, representa a contribuição de alguns do nossos Poetas contemporâneos - Consagrados e Novos - para uma obra de protecção às crianças órfãs - as florinhas abandonadas nos canteiros da Vida. "
Não se conhece a data de edição do citado livro, apenas que do poema do nisense José Gomes Correia foi feita uma pequeníssima brochura, de onde retirámos o texto que damos a conhecer, gostosamente, aos visitantes do "Portal de Nisa".
Por alguma razão se diz que "Maio é o mês das Flores"!