AGUARELA
No
livro da natureza
Quis
Deus que as coisas mais belas,
Porque
grandes... fossem elas
Um
hino de singeleza!
Tudo
tão simples... tão breve!
Diz-se
num sopro, num grito:
Terra!
Mar! Céus! Infinito!
Flor
de sangue ou flor de neve!
Flor
vermelha ou de outra cor
Mistério
doce e profundo
Jóias
de eterno escultor
Vós
sois a graça do mundo!
Que
a terra seria toda
Mais
que despida quimera,
Não
fosse o fato de boda,
Que
lhe traz a Primavera!
Até
o meu Alentejo,
Mar
calmo de espigas loiras,
Se
casa bem, ao que vejo,
Com
o rubro das papoilas!
Na
vossa simplicidade,
Flores
do campo, em desatino,
Sois
mil versos de humildade,
De
sabor quase divino!...
Cingida
aos pés do Senhor
Na
tua muda expressão,
És
um poema de amor,
Que
nos fala ao coração!
E
se a tua formosura,
Branca
flor, a campa invade,
Mais
do que amor... és ternura!
Mais
que ternura... és saudade!
Eu
sei lá o que se sente
Na
tua presença, enfim!
Cabe
em ti Deus ,
certamente,
Como
tu cabes em mim!
José Gomes Correia
"Aguarela" é um poema quase inédito de José Gomes Correia. Foi publicado no livro "Flores" - Inéditos sobre a flor dos nossos poetas contemporâneos - numa edição das Conferências de S. Vicente de Paulo de Portalegre e integrado - cito - "no seu movimento de Cultura, Recreio e Caridade, representa a contribuição de alguns do nossos Poetas contemporâneos - Consagrados e Novos - para uma obra de protecção às crianças órfãs - as florinhas abandonadas nos canteiros da Vida. "
Não se conhece a data de edição do citado livro, apenas que do poema do nisense José Gomes Correia foi feita uma pequeníssima brochura, de onde retirámos o texto que damos a conhecer, gostosamente, aos visitantes do "Portal de Nisa".
Por alguma razão se diz que "Maio é o mês das Flores"!