7.5.15

BOMBEIROS DE NISA: Quase a perfazerem um SÉCULO de existência

Bombeiros de Nisa - 27 de Março de 1922
Não sei se incomodo alguém ou não: é-me indiferente, mas a verdade histórica, baseada em inúmeros documentos, não deixará de vingar, de fazer luz e acordar as (in)sensibilidades adormecidas que teimam em não querer ver o que é óbvio e salta à vista. Os Bombeiros Voluntários de Nisa têm quase UM SÉCULO (100 anos) de existência. Foram fundados em Outubro de 1916. Uma vez mais - e, serão tantas as vezes, quantas as necessárias -  aqui estarei, neste e noutros locais, a proclamar e a exigir o que é de direito para a nossa terra, principalmente para os familiares daqueles que há cem anos formaram o Corpo de Bombeiros Voluntários de Nisa.
Não apaguem a MEMÓRIA! Não destruam a HISTÓRIA de uma das mais prestigiadas instituições de Nisa e do concelho. Comemoremos, com a dignidade, o orgulho e a justiça que merecem, no próximo ano (2016) o CENTENÁRIO da fundação dos BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE NISA.
Mário Mendes
Teor do ofício ao Governador Civil (9 de Novembro de 1916)

Exmo Senhor Governador Civil no Districto de Portalegre
O abaixo assignado communica a Vª Exª para os devidos effeitos que está constituida uma Associação de Bombeiros Voluntarios, que tem por fim socorrer e prover tudo quanto respeita a incendios e outras calamidades e que a sua séde é no largo Heliodoro Salgado.
Junto um exemplar dos nossos Estatutos e regulamento.
Saúde e Fraternidade
Niza, 9 de Novembro de 1916
O 1º Commandante
Anibal Dinis da Graça Vieira

Bombeiros de Nisa foram fundados há 90 anos
Na história das colectividades, principalmente daquelas criadas pela vontade dos homens há muitos anos, existem sempre campos por preencher, lapsos de tempo, em que a memória colectiva, já sem o suporte dos elementos humanos que lhe deram origem, pode vacilar. O que não significa, de modo algum, que se deva, pura e simplesmente, apagar. O caso da fundação dos Bombeiros Voluntários de Nisa é uma daquelas situações que, por tão evidente, não conseguem justificar.
Os Bombeiros de Nisa foram fundados há 90 anos, em 1916. Os documentos que aqui apresentamos, por amável cedência do Dr. José Dinis Murta, apagam qualquer dúvida que, por hipótese, ainda houvesse sobre a criação dos nossos Bombeiros, uma das Corporações mais antigas do distrito. Os dois documentos - e muitos outros que existem sobre o assunto - atestam-no, de forma insofismável.

Há documentos escritos, actas de reuniões, listagem de pessoas que serviram nos Bombeiros, regulamentos e, pasme-se, até fotografias, como aquela que mostramos, tirada em 1922.
A direcção e o comando do Bombeiros de Nisa sabem, conhecem, a existência destes documentos, como sabem que a Corporação de Nisa, dentro de nove anos, será centenária. Pelo bom senso, justiça e razão, apenas por isso e porque a história não pode ser destruída.
Sócios da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Nisa, alguns bastante antigos e ex-bombeiros, têm procurado sensibilizar os corpos directivos para que seja reposta a verdade e a justiça.
Têm deparado com uma barreira e mutismo quase intransponível, num tempo em que, julgavam, não deveriam existir mais verdades absolutas e inquestionáveis.
Nos Bombeiros, parece que não é assim. Em 1937 é que é, é que foi e ponto final.
Tudo isto, dias depois de, em discursos oficiais, se criticar o passado, a repressão e a clausura da liberdade. É irónico, no mínimo.
O que está em causa não é, apenas, uma data e vinte anos de actividade, esquecidos. É mais, muito mais do que isso e, parece, ninguém ainda o entendeu.
O que está, verdadeiramente, em questão, é o esforço, o trabalho, a dedicação de uma geração de homens a uma causa, a dos Bombeiros e esses homens de Nisa, da primeira vintena do século passado, foram os nossos primeiros Bombeiros. Querem nomes? Eles aí vão: Aníbal Diniz da Graça Vieira, 1º comandante; Albano da Cruz Curado Biscaia, 2º Comandante; Júlio Pires Bento, chefe de viatura; Leandro Dinis Melato, chefe de viatura; José Diniz da Graça Vieira, chefe do corpo de salvados; João da Graça Reizinho, chefe de ambulância; Leonardo Alvega de Matos, José Alves Mouzinho Almadanim, Francisco da Graça Zacarias, José Araújo Baptista e muitos mais, Bombeiros.
Esquecê-los, apagar vinte e um anos da História dos Bombeiros de Nisa é um duplo “crime”: contra Nisa e os próprios Bombeiros, e contra os familiares destes homens abnegados que, no início do século passado, abraçaram, como poucos, a causa do voluntariado.
Os Bombeiros de Nisa, actuais, ficarão mais ricos, mais fortes e nobres, honrando a memória daqueles que, há 90 anos os precederam e escreveram uma brilhante página do associativismo nisense.
É tempo, mais do que tempo, de lhes fazermos justiça!
Mário Mendes - 
(Texto de Opinião publicado no "Jornal de Nisa" - nº 231 - 9/5/2007)