Bombeiros de Nisa - 27 de Março de 1922
Não sei se incomodo alguém ou não: é-me indiferente, mas a verdade histórica, baseada em inúmeros documentos, não deixará de vingar, de fazer luz e acordar as (in)sensibilidades adormecidas que teimam em não querer ver o que é óbvio e salta à vista. Os Bombeiros Voluntários de Nisa têm quase UM SÉCULO (100 anos) de existência. Foram fundados em Outubro de 1916. Uma vez mais - e, serão tantas as vezes, quantas as necessárias - aqui estarei, neste e noutros locais, a proclamar e a exigir o que é de direito para a nossa terra, principalmente para os familiares daqueles que há cem anos formaram o Corpo de Bombeiros Voluntários de Nisa.
Não apaguem a MEMÓRIA! Não destruam a HISTÓRIA de uma das mais prestigiadas instituições de Nisa e do concelho. Comemoremos, com a dignidade, o orgulho e a justiça que merecem, no próximo ano (2016) o CENTENÁRIO da fundação dos BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE NISA.
Mário Mendes
Teor
do ofício ao Governador Civil (9
de Novembro de 1916)
Exmo
Senhor Governador Civil no Districto de Portalegre
O
abaixo assignado communica a Vª Exª para os devidos effeitos que está
constituida uma Associação de Bombeiros Voluntarios, que tem por fim socorrer e
prover tudo quanto respeita a incendios e outras calamidades e que a sua séde é
no largo Heliodoro Salgado.
Junto
um exemplar dos nossos Estatutos e regulamento.
Saúde
e Fraternidade
Niza,
9 de Novembro de 1916
O
1º Commandante
Anibal
Dinis da Graça Vieira
Bombeiros de Nisa
foram fundados há 90 anos
Na história
das colectividades, principalmente daquelas criadas pela vontade dos homens há
muitos anos, existem sempre campos por preencher, lapsos de tempo, em que a
memória colectiva, já sem o suporte dos elementos humanos que lhe deram origem,
pode vacilar. O que não significa, de modo algum, que se deva, pura e
simplesmente, apagar. O caso da fundação dos Bombeiros Voluntários de Nisa é
uma daquelas situações que, por tão evidente, não conseguem justificar.
Os
Bombeiros de Nisa foram fundados há 90 anos, em 1916. Os documentos que aqui
apresentamos, por amável cedência do Dr. José Dinis Murta, apagam qualquer
dúvida que, por hipótese, ainda houvesse sobre a criação dos nossos Bombeiros,
uma das Corporações mais antigas do distrito. Os dois documentos - e muitos
outros que existem sobre o assunto - atestam-no, de forma insofismável.
Há
documentos escritos, actas de reuniões, listagem de pessoas que serviram nos
Bombeiros, regulamentos e, pasme-se, até fotografias, como aquela que
mostramos, tirada em 1922.
A direcção
e o comando do Bombeiros de Nisa sabem, conhecem, a existência destes
documentos, como sabem que a Corporação de Nisa, dentro de nove anos, será
centenária. Pelo bom senso, justiça e razão, apenas por isso e porque a
história não pode ser destruída.
Sócios da
Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Nisa, alguns bastante
antigos e ex-bombeiros, têm procurado sensibilizar os corpos directivos para
que seja reposta a verdade e a justiça.
Têm
deparado com uma barreira e mutismo quase intransponível, num tempo em que,
julgavam, não deveriam existir mais verdades absolutas e inquestionáveis.
Nos
Bombeiros, parece que não é assim. Em 1937 é que é, é que foi e ponto final.
Tudo isto,
dias depois de, em discursos oficiais, se criticar o passado, a repressão e a
clausura da liberdade. É irónico, no mínimo.
O que está
em causa não é, apenas, uma data e vinte anos de actividade, esquecidos. É mais,
muito mais do que isso e, parece, ninguém ainda o entendeu.
O que está,
verdadeiramente, em questão, é o esforço, o trabalho, a dedicação de uma
geração de homens a uma causa, a dos Bombeiros e esses homens de Nisa, da
primeira vintena do século passado, foram os nossos primeiros Bombeiros. Querem
nomes? Eles aí vão: Aníbal Diniz da Graça Vieira, 1º comandante; Albano da Cruz
Curado Biscaia, 2º Comandante; Júlio Pires Bento, chefe de viatura; Leandro
Dinis Melato, chefe de viatura; José Diniz da Graça Vieira, chefe do corpo de
salvados; João da Graça Reizinho, chefe de ambulância; Leonardo Alvega de
Matos, José Alves Mouzinho Almadanim, Francisco da Graça Zacarias, José Araújo
Baptista e muitos mais, Bombeiros.
Esquecê-los,
apagar vinte e um anos da História dos Bombeiros de Nisa é um duplo “crime”:
contra Nisa e os próprios Bombeiros, e contra os familiares destes homens
abnegados que, no início do século passado, abraçaram, como poucos, a causa do
voluntariado.
Os
Bombeiros de Nisa, actuais, ficarão mais ricos, mais fortes e nobres, honrando
a memória daqueles que, há 90 anos os precederam e escreveram uma brilhante
página do associativismo nisense.
É tempo,
mais do que tempo, de lhes fazermos justiça!
Mário Mendes -
(Texto de Opinião publicado no "Jornal de Nisa" - nº 231 - 9/5/2007)