Sei
de um país onde há 30 anos se lutava pela conquista da jornada de trabalho de 8
horas.
Sei
de um país que teve “praças de jorna”, mercados de mão de obra; de gente que
lutou pelo direito ao trabalho e ao pão. Gente agredida, espezinhada, presa,
sufocada...
Sei
de um país que teve Catarina, mas também Caravela e Casquinha, Dias Coelho,
Adriano, Zeca Afonso, cantores, poetas, operários de enxadas e das minas, gente
vivendo e sonhando com essa doce palavra, Liberdade.
Sei
de um país, de gente que descobriu mundos e fundos, desbravou caminhos e
oceanos, construiu um império de quimeras.
Sei
de outros países de longas planícies e desertos, de terra vermelha, em brasa,
povoada de rios e tabancas, onde viviam pessoas, meus irmãos de pele mais
escura, sentindo as grilhetas da opressão e tirania.
Sei
de outros povos meus irmãos e de irmãos que não vejo há muito: Mondlane, Neto,
Samora, Amílcar, Xanana, irmãos que me ensinaram balanta, quimbundo, crioulo,
maconde e a rimar unidade com liberdade, consciência com independência.
Sei
de outras músicas, do “cobiana djazz”, do merengue e da coladeira, da morna e
da marrabenta, ritmos de paz e de guerra, de sofrimento e revolta, de dor e
esperança.
Sei
de um país que em Maio prolonga Abril e onde no mês da flores e das “maias”,
das searas e das papoilas, nasce um cântico de liberdade que percorre o Gêba e
o Zambeze, o Zaire e o Rovuma, levando até Díli a brisa da Libertação.
Mário Mendes - Maio de 1984