24.5.15

Poesia Social do Alentejo (I)

O cavador (1909)
Sol-posto. Enxada ao ombro, para a aldeia,
Volta da cava, taciturno e lento
O velho cavador. No espaço anseia
Uma angústia febril, na ânsia do vento...

Vem morto de fadiga e sofrimento;
Cai na vasta paisagem que o rodeia
Frio e noite; vão dar-lhe paz e alento
A mulher andrajosa e a magra ceia:

Comem ambos agora ao pé do lume...
Toda a sua ventura se resume
Na comunhão dessa hora benfazeja.

A mulher, finda a ceia, num conforto,
“ Louvado seja Deus!”, murmura, e, absorto,
Responde o cavador: “Louvado seja!”
Conde de Monsaraz

(Lira de Outono – Poemas do Alentejo – livro incluído em Musa Alentejana, ed. do centenário do autor, Lisboa, 1954)