O
cavador (1909)
Sol-posto.
Enxada ao ombro, para a aldeia,
Volta
da cava, taciturno e lento
O
velho cavador. No espaço anseia
Uma
angústia febril, na ânsia do vento...
Vem
morto de fadiga e sofrimento;
Cai
na vasta paisagem que o rodeia
Frio
e noite; vão dar-lhe paz e alento
A
mulher andrajosa e a magra ceia:
Comem
ambos agora ao pé do lume...
Toda
a sua ventura se resume
Na
comunhão dessa hora benfazeja.
A
mulher, finda a ceia, num conforto,
“
Louvado seja Deus!”, murmura, e, absorto,
Responde
o cavador: “Louvado seja!”
Conde
de Monsaraz
(Lira
de Outono – Poemas do Alentejo – livro incluído em Musa Alentejana ,
ed. do centenário do autor, Lisboa, 1954)