Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.
"Dê-nos a Esmolinha dos Santos" - pedem as crianças, alegres e sorridentes, cumprindo como um ritual, em cada ano, esta tradição que se renova. Foi assim na véspera e no Dia de Todos os Santos, fazendo relembrar aos visitados de hoje, a condição de visitantes e pedintes da "Esmolinha" há cinquenta anos atrás, quando a vila respirava o ar do trabalho árduo do campo e das duras condições de vida e de sobrevivência.
As "casas grandes", dos lavradores e proprietários rurais, ou de gente remediada, davam ordens às criadas para atenderem, como um dever cristão, todas as solicitações do rapazio que, munidos de uma bolsa de pano, percorriam as ruas e demandavam as casas onde era previsível a melhor "colheita" das esmolinhas.
Castanhas, passas de figo e outros frutos secos, feijão frade, mesmo "furédos" eram recebidos com alegria e satisfação. Havia quem, à falta de géneros, desse cinco ou dez tostões, dinheiro que fazia surgir, de imediato, um cintilante brilhozinho nos olhos.
Era assim a tradição em Nisa. Noutros sítios, com algumas diferenças, a tradição da "esmolinha dos Santos", designada como "pedir o Pão de Deus" ou "os Santinhos", caiu, durante anos, em desuso, voltando a ser praticada não tanto pela necessidade sentida há décadas atrás, mas reanimada pelos próprios programas escolares que visam - ainda bem - a inserção das crianças nas suas comunidades.
E há lá coisa mais linda do que ver uma rua animada com o bulício das crianças!