O pequeno saltimbanco
O pequeno saltimbanco
entrou na pista fez piruetas
contou duas anedotas sem palavras
e as pessoas choraram
choraram tanto como se rissem em
gargalhadas
toda a gente sentiu o drama
do pequeno saltimbanco
mas as lágrimas foram demais
disseram os diários da manhã
nocturna
o público afogou-se
num oceano de lágrimas sinceras
todas pelo pequeno saltimbanco
pelo pequeno saltimbanco
que tinha uma flor vermelha na
lapela
e uma cicatriz acentuada na face
esquerda
e que contava anedotas sem
palavras
e provocava dilúvios nas cidades
mortas
nas cidades mortas como a nossa
cidade.
Sérgio de Sousa Bento – Lisboa 10
- 1964