E qual o objectivo de existir este dia?
Neste dia destacam-se várias dificuldades
atravessadas pelas pessoas com doença rara e pelos que as rodeiam.
Obtenção de um diagnóstico atempado e correcto
Enquanto médicos somos treinados a pensar
primeiro no que é frequente. “Se ouves o barulho de cascos pensa em cavalos e
não em zebras”. Em média, as pessoas com doença rara têm um atraso de 4 a 5
anos até ao diagnóstico da sua doença, sendo que não raramente este atraso no
diagnóstico atinge décadas de vida. Em Portugal um quarto dos doentes espera 5
a 30 anos pelo diagnóstico após o aparecimento dos primeiros sintomas da
doença. São décadas de sofrimento, isolamento, incompreensão e por vezes
décadas de atraso na instituição de um tratamento adequado, com perda
significativa de qualidade e anos de vida.
Dificuldade no acesso a profissionais com
experiência na sua doença
Mesmo após o estabelecimento de um
diagnóstico é muitas vezes difícil de encontrar um plano de seguimento e
tratamento adequado. Continua a existir dificuldade de acesso a centros com
experiência no seguimento e tratamento de uma imensidão de doenças raras. E
enquanto comunidade médica, como é que podemos adquirir conhecimentos em
doenças sobre as quais tão pouco está documentado? É essencial o incentivo à
publicação científica de qualidade e à criação de registos nacionais e
internacionais em doenças raras (e ao seu acesso).
Dificuldade no acesso a tratamentos
adequados
Mesmo após a obtenção de um diagnóstico, a disponibilização de terapêutica farmacológica para as doenças raras é frequentemente morosa, difícil e dispendiosa (isto quando existe algum tipo de terapêutica farmacológica, uma vez que cerca de 95% das doenças raras não tem nenhuma terapêutica farmacológica comercializada). E o acesso a outros tipos de terapêutica (terapia ocupacional, terapia da fala, fisioterapia, psicoterapia, entre outras) continua a ser uma realidade longe do alcance de muitos doentes. As respostas sociais são frequentemente insuficientes com necessidade de recorrer a instituições e serviços privados, com custos elevados e inatingíveis para uma grande parte da população.
Perda de qualidade de vida dos doentes e dos
seus cuidadores
Muitas doenças raras são incapacitantes,
conduzindo a perda de autonomia com prejuízo marcado da qualidade de vida dos
doentes e dos seus cuidadores.
Enquanto comunidade devemos neste dia exigir
que as pessoas com doenças raras sejam tratadas de forma justa, de acordo com
as suas necessidades, ou seja, equidade. Neste mês de fevereiro, e em
particular no Dia Mundial das Doenças Raras, vamos divulgar estas
doenças-zebra. Porque acreditamos que divulgá-las é o primeiro passo para a
equidade no diagnóstico, tratamento, e oportunidades na saúde e sociais.
·
Joana Santos – Núcleo de Estudos de Doenças
Raras da SPMI