12.2.25

OPINIÃO: Os jovens e a falta de futuro

Dois estudos sobre o fascínio dos jovens por discursos populistas e totalitários impulsionaram, na última semana, o debate sobre o tema no Reino Unido. As questões colocadas a jovens com até 27 anos revelaram resultados surpreendentes: 45% apoiam a pena de morte, 52% consideram que viveriam melhor com “um líder forte no comando” e 33% defendem que a governação seja entregue ao Exército. Na análise que se seguiu, com pinças dado o risco de clivagens geracionais, vários sociólogos alertaram que o retrato mostra uma geração encurralada pelo elevado custo de vida e por salários desajustados face às qualificações. Uma geração a quem a crise climática criou uma sensação de urgência e de falta de futuro. Online, circulam a alta velocidade e conseguem ter voz. Offline, sentem que as instituições, partidos incluídos, lhes fecham a porta e dificultam a participação. Com evidentes variações de país para país, a abertura dos mais jovens a discursos populistas vai-se revelando transversal e um sinal de que a educação não basta. E também não faz sentido diabolizar as escolhas: é preciso entendê-las. Até porque aos grandes temas económicos e sociais que afetam os jovens somam-se as doenças endémicas dos partidos. A corrupção (percecionada como estando pior do que nunca em Portugal, de acordo com o índice divulgado ontem pela Transparência Internacional), o compadrio, os casos que tocam diferentes partidos, a incapacidade de renovação do sistema político, tudo somado vai criando um sentimento de desesperança. Os jovens são os mais flexíveis e abertos a mudanças. É crucial analisar o que os seduz e procurar que sejam ativos na construção de uma casa comum mais coesa e justa, sem permitir que desistam de acreditar nos valores democráticos. Os nossos líderes políticos têm mesmo de analisar as causas do ressentimento, assumir os erros e qualificar a vida pública. Se a renovação não for feita por dentro, poderá revelar-se francamente perigosa. Inês Cardoso – Jornal de Notícias - 12 fevereiro, 2025