4.2.25

OPINIÃO: IA sem travões e Europa na berma

Há uma certa ironia ocidental sobre a desconfiança quanto à nova inteligência artificial (IA) chinesa. É certo que um algoritmo que omite informações sobre o regime chinês, recusando, por exemplo, responder sobre o que aconteceu na Praça Tiananmen em 1989, deve preocupar-nos. Mas essa inquietação é bem menor no que diz respeito a outras plataformas que à custa da desinformação distorcem a verdade, minam a confiança das instituições democráticas e têm uma relação direta com resultados eleitorais de vários países. A DeepSeek veio provar várias coisas. As ferramentas de IA fortes podem ser baratas, precisam de regulamentação e que a guerra de chips entre os EUA e a China continuará. Tal como afirma Virgínia Dignum, a especialista portuguesa e professora catedrática na Suécia, a “IA é um carro sem travões, guiado sem carta de condução, numa rua sem sinais”. Certo é que China está a tomar a dianteira na corrida pela IA, deixando para trás as gigantes tecnológicas norte-americanas. Depois do lançamento surpreendente da DeepSeek, a Alibaba, empresa conhecida pelas suas plataformas de comércio eletrónico, também anunciou um modelo avançado de IA. E a Europa continua a ver o navio passar. Atrasada numa tecnologia que também será decisiva na segurança e na defesa dos estados-membros. Mesmo depois de Mario Draghi, o ex-presidente do Banco Central Europeu, ter alertado no seu famoso relatório para a falta de capacidade da UE em competir com os EUA e a China. Estes temas vão estar em cima da mesa da cimeira sobre inteligência artificial que vai decorrer em Paris, no dia 10 e 11 de fevereiro. Os chefes de Estado e de Governo reúnem-se à procura de um caminho para correr atrás do prejuízo. A Itália já baniu a DeepSeek. Esperemos que a cimeira não se fique por decisões barulhentas, mas vazias de futuro. • Manuel Molinos – Jornal de Notícias - 31 janeiro, 2025 •