29.11.24

OPINIÃO: A política entregue ao TikTok

O crescimento da extrema-direita por toda a Europa e o reforço de forças nacionalistas e pró-Rússia no Leste europeu justificavam um olhar particularmente atento à primeira volta das eleições presidenciais na Roménia, que decorreu no domingo. O resultado trouxe, contudo, preocupações muito mais fundas e que escaparam a qualquer sondagem ou previsão. Vindo do nada, o candidato independente ultranacionalista Calin Georgescu conseguiu a vitória na primeira volta. O segredo? Uma campanha agressiva no TikTok, onde foi detetada uma atividade anormal em milhares de contas falsas antes da ida às urnas. Embora em teoria a publicidade política paga não seja permitida pelos termos e condições daquela rede social, essa regra foi “amplamente ineficaz”, como alertou o Observatório Búlgaro-Romeno de Media Digital. Em Bruxelas multiplicam-se declarações de eurodeputados exigindo que o CEO do TikTok seja ouvido e que se investigue o financiamento da campanha. Praticamente desconhecido, admirador de Putin e de antigos fascistas romenos, Georgescu esteve praticamente ausente dos meios de comunicação tradicionais, mas terminou a campanha com 298 mil seguidores e milhões de visualizações. Alguns dos vídeos, ao estilo do popular e misógino influencer Andrew Tate, mostravam o candidato a montar a cavalo com roupas tradicionais romenas ou a dar golpes de judo em adversários. Enquanto na Roménia prossegue a corrida para a segunda volta das presidenciais, com legislativas pelo meio, é urgente o apuramento do que se passou no TikTok e sobretudo que se leve cada vez mais a sério a discussão sobre as consequências da radicalização e da desinformação. Algoritmos de redes sociais e bots em massa podem ser quanto baste para fabricar políticos instantâneos. Inês Cardoso – Jornal de Notícias - 27 novembro, 2024

PORTALEGRE: Assinado auto de consignação da Empreitada de “Substituição e Iluminação do Estádio Eduardo Sousa Lima, Campo principal”

Foi assinado a 26 de novembro, por Fermelinda Pombo Carvalho, em representação da Câmara Municipal de Portalegre e Carlos Pedro Teixeira Moreira, em representação da Empresa Pedro Moreira & Cª, Lda. o auto de consignação da Empreitada de “Substituição e Iluminação do Estádio Eduardo Sousa Lima, Campo principal”. Ao ter como referência a Norma Europeia “EN12193 - Sports Lighting”, o estádio ficará com uma classificação da Classe II cumprindo assim os requisitos para o nível de competição treino/jogos locais ou regionais, no que se refere ao Campo de Futebol. Foi igualmente prevista Iluminação específica e independente para toda a pista de atletismo. O novo sistema de iluminação com recurso a tecnologia LED permitirá obter ganhos na eficiência energética e aumentar os níveis de iluminação diminuindo a potência instalada. De salientar ainda que todo o sistema de Iluminação será escalonável e permitirá adequar o nível de iluminação à utilização do recinto, indo desde uma utilização recreativa, passado pelos diferentes níveis de treinos até à competição regional. A empreitada foi adjudicada pelo valor de 81 861,98 €, tem um prazo de execução de 30 dias. Esta intervenção enquadra-se no âmbito da política de manutenção, renovação e requalificação dos equipamentos desportivos, que há muito careciam de reparações e remodelações diversas, a fim de melhorar as suas condições de utilização e usufruto por parte dos munícipes e visitantes.

28.11.24

OPINIÃO: Leis por cumprir e contas por acertar

1. Foi há nove anos que se incluiu no estatuto profissional dos polícias a atribuição de prémios de desempenho. A falta de eficácia típica do país e a pouca vontade dos governos de cumprirem as suas promessas levaram no entanto a que fosse preciso esperar mais dois anos pela portaria que regulamentou a atribuição desses bónus: destinava-se a 5% dos agentes que fossem avaliados, a cada ano, com um desempenho muito bom ou excelente. Mas o pior estava para vir: os anos foram passando e prémios, nem vê-los. Por muito bons ou excelentes que fossem os agentes. Em 2019, e muito justamente, os homens e mulheres da GNR foram também contemplados. E desde 2021 que os melhores guardas recebem, como manda a lei, um prémio de meio salário (este ano, foram 557). Os polícias, esses, continuam sem receber. Parece que ninguém se lembrou de incluir os prémios no orçamento da PSP e, sete anos depois, nem dinheiro, nem os dez dias de férias adicionais a que teriam direito. Há contas por acertar com os polícias. 2. Houve um tempo em que as empresas que usavam o subsolo para prestar os seus serviços e promover o seu negócio nada pagavam por ocuparem o espaço público. E depois veio um tempo em que as autarquias, ou pelo menos parte delas, começaram a cobrar uma taxa, por conta dessa utilização. Sendo Portugal o país que é, as empresas que nos fornecem o gás natural decidiram que o melhor era cobrar a taxa aos seus clientes. Em 2017, no entanto, saiu uma lei que repunha a ordem: as empresas ficavam proibidas de cobrar a taxa de ocupação do subsolo. Sucede que, sete anos depois, as empresas continuam a cobrar o seu bónus, à revelia da lei. A Deco fez as contas: são 160 milhões de euros que famílias e empresas pagaram indevidamente. Há contas a acertar com os consumidores. * Rafael Barbosa – Jornal de Notícias -28 novembro, 2024

SAÚDE: 24 dadores no Crato

A 20.ª brigada de 2024, dinamizada pela Associação de Dadores Benévolos de Sangue de Portalegre – ADBSP – decorreu na vila do Crato. Foi nas instalações do centro de saúde e com o indispensável apoio técnico da Unidade Funcional de Imunohemoterapia da ULSAALE. Em termos de inscrições, registaram-se duas dúzias, das quais 11 mulheres (45,8 %). Uma vez avaliados os potenciais dadores, três deles não estavam em condições ideais para concretizar a dádiva. Assim, do Crato foram recolhidas 21 unidades de sangue total. Quanto a batismos na doação, há a registar um elemento do sexo masculino. Não faltou o habitual almoço de confraternização, que deu ainda mais entusiasmo a esta iniciativa e que contou com o apoio da Câmara Municipal do Crato. Monforte a 14 de dezembro A nossa última colheita deste ano está agendada para Monforte, no quartel dos bombeiros, a 14 de dezembro – um sábado e no período da manhã. Não se esqueça de visitar: https://www.facebook.com/AssociacaoDadoresBenevolosSanguePortalegre/ JR

27.11.24

SAÚDE: 1 de dezembro – Dia Mundial da Luta Contra a Sida

A “pandemia VIH” está controlada? A população está bem informada? Já não existe discriminação? O tempo vai decorrendo, e, de forma mais ou menos repentina, verificamos que já passaram mais de 40 anos sobre o diagnóstico do primeiro caso de infecção pelo VIH em Portugal. Posteriormente, em 1988, o dia 1 de dezembro seria instituído pela OMS e a Assembleia Geral das Nações Unidas como o Dia Mundial de Luta contra a SIDA. Em 2024, continuamos a querer assinalar esta data por muitas e diversas ordens de razão. Há questões a que não podemos fugir e cujas respostas não são as que mais gostaríamos de dar. Senão vejamos: A “pandemia VIH” está controlada? Apesar de todos os avanços, não podemos fazer esta afirmação. Continuam a aparecer nas nossas consultas novos casos de doença VIH, muitos em estádios avançados. Isto significa que a cadeia de transmissão não foi cortada e a testagem é insuficiente. Este corte na cadeia seria possível se todos os casos estivessem diagnosticados, em tratamento e com viremias indetectáveis no sangue. UMA PESSOA COM CARGA VIRAL INDETECTÁVEL NÃO TRANSMITE O VÍRUS. A generalidade da população está bem informada sobre esta patologia? Infelizmente isto ainda não é uma realidade. O desconhecimento em relação às formas de transmissão e de prevenção continua a gerar comportamentos de risco que seriam evitáveis. Temos de saber que uma única relação sexual não protegida pode transmitir o vírus; que não é pelo aspecto exterior que se afere se alguém é ou não portador do VIH; que todas as idades podem contrair o vírus, numerosos novos doentes nos chegam com idades entre os 60 e 80 anos; todos deveríamos ser testados para o VIH pelo menos uma vez na vida e sempre que existam comportamentos de risco. Já não existe discriminação contra os doentes por terem VIH? Infelizmente existe. Por vezes até em locais onde todos os doentes deveriam estar mais protegidos, como os Hospitais. A génese deste estigma está no medo e no desconhecimento. Tal como na questão anterior, a ignorância em relação às formas de transmissão está na origem destes comportamentos. Não é demais reafirmar sempre que o vírus NÃO SE TRANSMITE por abraços, beijos, saliva, talheres, utensílios, contactos sociais do dia-a-dia… Por outro lado, muito foi feito e houve grandes progressos ao longo destes anos: A terapêutica antiretrovírica tem grande eficácia, na maior parte dos casos com um único comprimido diário. O controle virológico e imunitário sob terapêutica possibilita que falemos numa doença crónica controlável, não numa doença fatal como há 30 anos. A disponibilização de Profilaxia Pré Exposição, PREP, pode prevenir a transmissão da doença nalguns grupos específicos. A disponibilização de Profilaxia Pós Exposição. PEP, reduz a possibilidade de transmissão após um contacto de risco. A transmissão através da utilização de Drogas endovenosas teve uma drástica redução, graças aos programas virados para esta população no final do século XX. A transmissão vertical, de mãe para filho durante a gravidez ou o parto, praticamente desapareceu em Portugal, sendo os últimos raros casos alvo de investigação. O rastreio e terapêutica durante a gravidez é fundamental. Aparecem agora novas formas de tratamento, consistindo nomeadamente em duas injecções intramusculares de 2-2 meses, sem comprimidos. Os objectivos actuais nos cuidados às pessoas que vivem com o VIH continuam a ser o controle virológico e imunológico, mas também vão muito para lá destes propósitos. O bem-estar global e o controle de outras doenças associadas constituem uma meta fundamental. É neste sentido que as numerosas unidades espalhadas pelo país exercem a sua actividade. Especialistas em Medicina Interna, Infecciologia ou outras especialidades trabalham diariamente para o controle desta patologia e de todas as comorbilidades a ela associada. Da parte da população, a procura de informação, o rastreio sistematizado e o apoio sem discriminação são os comportamentos que realmente todos gostaríamos de ver generalizados. A todos um feliz Primeiro de Dezembro, Dia Mundial de Luta Contra a SIDA. * Fausto Roxo - Coordenador do Núcleo de Estudos da Doença VIH da SPMI

PCP SAÚDA: 10 Anos da inscrição do cante alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade

Nota à imprensa do Executivo da Direcção Regional do Alentejo do PCP 1 - Assinalam-se hoje 10 anos sobre a data em que o Comité Internacional da UNESCO inscreveu o cante alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Tal conquista - motivo de orgulho e de grande satisfação para os alentejanos e para todo o povo português - constituiu um justo reconhecimento e valorização da relevância patrimonial do cante alentejano; do seu valor excepcional como símbolo identificador da região do Alentejo e identitário dos alentejanos; do seu enraizamento profundo na tradição e história cultural do País; e da sua importância como fonte de inspiração e de troca intercultural entre povos e comunidades. Tal como o PCP afirmou então, tal reconhecimento contribuiu para a salvaguarda e a promoção do cante alentejano enquanto genuína expressão cultural de um povo, bem como para o surgimento de novos projectos musicais, culturais, académicos e turísticos que deram e continuam a dar um importante contributo para a promoção e defesa da cultura alentejana, do desenvolvimento e projecção do Alentejo e do País. 2 - O cante alentejano, canto colectivo sem recurso a instrumentos, que incorpora música e poesia, é uma expressão cultural de enorme força, beleza, identidade e consistência, profundamente ligada à vida e tradições do povo e dos trabalhadores, bem como à sua luta contra as injustiças, pela democracia e o desenvolvimento do Alentejo. No ano em que se comemoram os 50 anos da Revolução de Abril, e quando o PCP e outras forças e personalidade democráticas iniciam as comemorações dos 50 anos da reforma agrária, a Direcção Regional do Alentejo (DRA) do PCP recorda as palavras do escritor e poeta José Gomes Ferreira: "Nunca vi um alentejano cantar sozinho com egoísmo de fonte. Quando sente voos na garganta, desce ao caminho da solidão do seu monte, e canta em coro com a família do vizinho. Não me parece pois necessária outra razão - ou desejo de arrancar o sol do chão - para explicar a reforma agrária do Alentejo. É apenas uma certa maneira de cantar."
3 - A DRA do PCP saúda vivamente os cantadores alentejanos, os seus inúmeros grupos corais, as colectividades, associações e instituições que os enquadram e apoiam, os seus dirigentes e activistas. Felicita e valoriza a contribuição de todos os que se têm empenhado na defesa, salvaguarda, promoção e inovação do cante alentejano, com resultados extraordinários na sua afirmação como uma das mais reconhecidas e atractivas expressões culturais portuguesas no plano nacional e internacional. 4 - A DRA do PCP recorda, e saúda vivamente os promotores da candidatura lançada em 2012, dos quais se destaca, com inteira justiça, a Câmara Municipal de Serpa que dinamizou a candidatura nos planos regional, nacional e internacional, mobilizando e nela envolvendo numerosas entidades – desde grupos corais até outros municípios e freguesias, passando por musicólogos, antropólogos, cineastas e outros especialistas – e criando a Casa do Cante, em Serpa, responsável pelo acompanhamento do processo. 5 - Reafirmando que a elevação do cante alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade é uma conquista de todo o povo alentejano e uma vitória de todos os que nela se empenharam, a DRA do PCP sublinha simultaneamente, e com orgulho, o permanente apoio ao Cante por parte dos comunistas nas autarquias, na Assembleia da República e no Parlamento Europeu, recordando que o PCP contribuiu de variadas formas e com várias iniciativas de massas e institucionais para essa grande conquista. A DRA do PCP reafirma o compromisso e o empenho dos comunistas na defesa, salvaguarda e promoção do Cante Alentejano, e de forma geral de todas as expressões da riquíssima cultura do Alentejo, compromisso bem patente em várias iniciativas e projectos que as autarquias geridas pela CDU têm em desenvolvimento, das quais se destaca a Capital Europeia da Cultura – Évora 27. 27 de Novembro de 2024 O Executivo da Direcção Regional do Alentejo do PCP

26.11.24

ALPALHÃO: Concerto de Natal na Igreja Matriz

Participação do grupo "Vozes da Aldeia", de Vale do Peso

OPINIÃO: O elogio da esquerda etiquetária pela direita

Em nome da fantasia de um exército de robots obedientes a algum grande educador do proletariado, a esquerda conservadora propõe na Alemanha a deportação de imigrantes. Devia-nos escorrer uma lágrima furtiva quando lemos os carinhosos analistas que exigem à esquerda que regresse à “velhinha luta de classes”, agora “propriedade” da direita, pois o “vírus” democrata foi “capturado por grupelhos anticapitalistas”. O eterno Fukuyama é citado por Teresa de Sousa para provar que o que condenou Kamala foi a “protecção exclusiva de um conjunto de grupos marginalizados: minorias raciais, imigrantes, minorias sexuais, etc.”. E acrescenta ela com condescendência: “O problema não está em que estas preocupações não sejam justas, que são”. São mas não são e não podem, aqui aplica-se a filosofia da famosa rábula do Ricardo Araújo Pereira. As minhas teses contra estes conselhos comoventes são, primeiro, que são uma fraude para incensar Trump e, depois, que tentam empurrar a esquerda para uma marginalidade etiquetária conveniente à direita. Apaziguar Trump? A pantomina começa por apresentar o Partido Democrata (PD) como a esquerda. O PD foi o partido dos esclavagistas durante a guerra civil; 70 anos depois, mesmo com a sua supermaioria, Roosevelt desistiu de uma lei federal contra os linchamentos porque os senadores democratas sulistas não o permitiriam. A perda dessa influência territorial e a pressão dos direitos civis mudou o mapa partidário, mas não a fidelidade a Wall Street: foi Clinton quem determinou o fim da lei do New Deal no controlo bancário e Kamala vangloriou-se da chancela da Goldman Sachs no seu programa. Chamar esquerda ao PD, ou fantasiar que representou os trabalhadores, é um insulto mal recebido pelos seus chefes. Num país dividido ao meio pelo bipartidarismo, tanto democratas como republicanos sempre tiveram povo e é uma pirueta apresentar Trump como o portador da tal nova “luta de classes” colonizada pela direita. E, como é bom de ver, os lusos “proprietários da luta de classes” olham para o salário como a abominação que reduz o lucro. Nisso coerentes, a sua “luta” é pela redução do IRC ou, como notava o bilionário Warren Buffett, é para pagar menos IRS do que a sua secretária. Temo aliás que este amor pela “classe” seja de pavio curto e que volte à fábula meritocrática do elevador social, minúscula arca de Noé onde não cabe classe alguma. O facto é que os “proprietários da luta de classes” se refugiam no discurso poltrão sobre a culpa woke para justificarem Trump. Afinal, repetem, ele tocou o coração do povo, oferecendo o identitarismo MAGA e a esperança dos descamisados. No entanto, bastaria olhar para a galeria de horrores do séquito para notar que o trumpismo é o poder de uma casta económica e procura impor a necropolítica, pobres descamisados que são carne para canhão. Por isso, a política de apaziguamento dos que endeusam o homem, que já deu mau resultado no passado, não será melhor agora: o que ela prova, como se verifica no fim do cordão sanitário francês ou na nomeação de Rutte para a NATO às costas do Governo de extrema-direita, é que a direita clássica desliza para o trumpismo. Arrumados no beco?
O trumpismo é um identitarismo brutalista, dirigido por um fascista, com traços teocráticos e subordinado à pilhagem do país por uma elite empresarial, cujo ícone é Elon Musk, que investiu 119 milhões e ganhou 26 mil milhões com a eleição. Esta vaga crescerá. É o que me leva ao meu segundo ponto: a resposta da esquerda só pode ser a disputa da maioria, o que exige que crie a certeza social de que é ela que garante liberdade e segurança. Assim sendo, face à ameaça civilizacional, é só curiosa a tentativa dos apaziguadores de nos pedirem um regresso ao passado. Ora, uma esquerda declarativa e cerimonial – etiquetária, portanto – só serve para o consolo da direita. Ela é inútil, nenhuma muralha de Jericó cairá com as trombetas das proclamações sobre o partido-guia. O modelo dessa política etiquetária já foi experimentado de todas as formas e só conduziu a sectarismo e auto-satisfação desarmante, enquanto a luzinha que brilhava numa janela do Kremlin para iluminar a humanidade se extinguiu às mãos dos dirigentes feitos oligarcas. Esse passado é um beco onde morreu a saudade. Entretanto, em nome da fantasia de um exército de robots obedientes a algum grande educador do proletariado, a esquerda conservadora propõe na Alemanha a deportação de imigrantes e noutros países opõe-se à paridade entre homens e mulheres ou a medidas de transição energética. Pois pergunto então que sentido teria a esquerda abandonar a maioria do povo, que são mulheres, ou renunciar aos direitos humanos, ou entregar o futuro ao capitalismo fóssil? Ou se, quando em Portugal se fez o referendo que despenalizou o aborto, havia outra prioridade da luta de classes? Ou se o país ficou pior por ter aprovado o casamento gay, que enfureceu a direita, a hierarquia religiosa e, já agora, muitos populares? É precisamente por disputar o único imaginário universalista que resta – liberdade e igualdade – que a esquerda deve rejeitar o etiquetarismo e juntar todos os setores populares que disputam os seus direitos. Num tempo em que há menos sindicalizados do que precários e trabalhadores por turnos, ou migrantes, ou quando há mais manifestantes nas marchas LGBT+ do que no 1.º de Maio em todas as cidades menos uma, essa inclusão é uma condição para restabelecer a capacidade de acção colectiva da classe trabalhadora – e deve ser o seu programa. Mais ainda, se a segurança da vida boa, dos bens comuns, da saúde à escola, e dos bens essenciais, o salário e a casa, é a base do projeto socialista, tal transmutação democrática só vencerá se for a expressão de uma aliança maioritária. Essa é aliás a razão pela qual setores da esquerda norte-americana, refugiados no seu próprio etiquetarismo sem alternativa política, prejudicam o combate pela igualdade ao substituírem a luta social pela ideia de que a experiência pessoal do trauma é a fonte da autoridade discursiva ou que o cancelamento pode estabelecer a regra da praça pública. Contaminada pelo abismo intoxicante das redes sociais, essa esquerda é profundamente individualista e desiste do sentido da comunidade, que é a essência do universalismo socialista. Sim, Trump ensina-nos alguma coisa: a não desistir de toda a luta de classes que enfrenta o capitalismo real. • Francisco Louçã ** Artigo publicado no jornal Público a 18 de novembro de 2024

Museu da Tapeçaria de Portalegre lança “Prémio Tapeçaria de Portalegre” destinado a artistas plásticos, nacionais e internacionais

O Museu da Tapeçaria de Portalegre, ao abrigo da “Candidatura Tapeçaria de Portalegre – Valorização, promoção, divulgação e projecção”, apresentada pelo Município de Portalegre e financiada pelo Turismo de Portugal, lança a primeira edição do Prémio Tapeçaria de Portalegre. O concurso, promovido pelo Museu da Tapeçaria de Portalegre – Guy Fino, conta com o apoio da Manufactura de Tapeçarias de Portalegre e tem como objectivo convidar artistas plásticos, nacionais e internacionais, que pretendam executar obras em pintura ou desenho destinadas à transposição para a técnica da Tapeçaria de Portalegre. O Concurso, intitulado Prémio Tapeçaria de Portalegre: A Tapeçaria de Portalegre como Expressão de Arte Contemporânea, pretende a execução de Cartões para Tapeçaria subordinados a um dos quatro temas seguintes: Produção e Consumo Sustentáveis, Paz ou Justiça. Trata-se de uma iniciativa que pretende celebrar a Tapeçaria Portalegre como forma de arte e demonstrar que continua a acompanhar as questões contemporâneas, ao mesmo tempo que preserva o património e as suas tradições culturais. Os artistas seleccionados participarão numa Imersão Artística, que proporcionará aos concorrentes o conhecimento da técnica da Tapeçaria de Portalegre e permitirá o convívio e o contacto com outros artistas, emergentes e consagrados, sendo uma oportunidade importante para a criação das obras a entregar no âmbito do concurso. Este período de processo criativo culminará numa Exposição Colectiva, a decorrer em Abril de 2025. A exposição contará com um catálogo físico e/ou digital, publicado em português e inglês, com as obras que integram a exposição, em conjunto com uma memória descritiva sobre a obra no contexto da temática proposta. Para os cinco finalistas do concurso, para além de serem atribuídos prémios monetários até 3.000,00€, o primeiro lugar terá ainda o reconhecimento da obra e a sua eventual transposição para Tapeçaria de Portalegre, mediante futuro financiamento. As inscrições do concurso estão abertas até ao dia 30 de Novembro de 2024. A primeira fase de selecção dos artistas concorrentes será feita com base no portfolio, currículo, breve biografia e um sumário da motivação e interesse na participação.

CASTELO DE VIDE: Exposição “Between Lights and shadows”, de Ana Camilo

A exposição “Between Lights and shadows”, da autoria de Ana Camilo, é inaugurada no próximo sábado, dia 23, pelas 16h, no Centro de Arte e Cultura da Fundação Nossa Senhora da Esperança. Os trabalhos apresentados na exposição “Between Lights and Shadows” são excertos de diários iniciados pela autora durante o seu percurso de conservadora-restauradora de pintura mural, em que registou momentos, ambientes e situações, com o intuito de despertar o observador para diversas realidades físicas e emocionais. «São pequenos detalhes e recantos muitas vezes esquecidos. Uma chamada de atenção para o que nos rodeia, uma pausa na rotina diária, que com pressa, nos obriga a percorrer sempre os mesmos caminhos com a mesma cadência», refere Ana Camilo. Ana Camilo nasceu a 1989 em Lisboa. Reside e trabalha na zona de Cascais. É licenciada em Conservação e Restauro pelo IPT e possui Mestrado em Museologia e Museografia pela FBAUL. Participa em exposições desde 1998, das quais cerca de uma centena de colectivas e uma dezena de individuais, realizadas em Portugal, Bélgica, Brasil, Estados Unidos, França e Itália. Algumas obras expostas foram premiadas. Representada em colecções privadas em Portugal e no estrangeiro.

25.11.24

VIII Encontro de História e Património de Ponte de Sor

O Centro de Artes e Cultura acolhe no próximo sábado, dia 30, pelas 15h, o VIII Encontro de História e Património de Ponte de Sor, promovido pelo Arquivo Histórico Municipal. Trata-se de uma iniciativa que ocorre anualmente desde 2014 e incide sobre temas de História e Património, tendencialmente, mas não exclusivamente locais e regionais, assumindo a forma de colóquio com especialistas nas áreas de história, história de arte, arqueologia e património.

Obra da Variante Nascente de Évora já começou

Esta é uma das seis obras ligadas à rodovia, no Alentejo, que estão previstas no Plano de Recuperação de Resiliência A obra de construção da Variante Nascente de Évora, que pretende ser uma alternativa ao atual troço do IP2, entre S. Manços e o nó Évora Nascente da A6/IP7, foi consignada pela Infraestruturas de Portugal na sexta-feira, dia 22, no Palácio D. Manuel, em Évora, numa cerimónia que contou com a presença de Miguel Pinto Luz, ministro das Infraestruturas e Habitação. A empreitada tem um custo estimado de 54,9 milhões de euros e insere-se no Plano de Recuperação e Resiliência, na Componente C7 – Infraestruturas, investimentos na construção de Missing Links e Aumento de Capacidade da Rede. «A intervenção visa a construção de uma nova ligação rodoviária alternativa ao atual troço do IP2, com início no Nó de Évora Nascente da A6/IP7, imediatamente após a praça de portagem, e termina na conexão com o atual IP2, em S. Manços», segundo a Infraestruturas de Portugal. «A futura Variante terá cerca 12,8 quilómetros de extensão com dupla faixa de rodagem. Ao longo do traçado serão construídos restabelecimentos desnivelados, sendo a interligação com a rede existente assegurada através dos seguintes nós: Nó de Vale de Figueiras; Nó de Fonte Boa do Degebe; Rotunda de Ligação à EN18», descreve a empresa. Está igualmente prevista a construção de oito passagens superiores, duas das quais sobre linhas de caminho de ferro. “Este empreendimento irá contribuir decisivamente para a melhoria das ligações rodoviárias na região de Évora, melhorar a segurança rodoviária e promover a competitividade das empresas e a mobilidade das populações da região», defende a IP. Esta é apenas uma das obras ligadas à rodovia, inscritas no PRR, de que o Alentejo irá beneficiar. Nesta região, «já foram contratadas seis empreitadas, que perfazem um investimento global de 184 milhões de euros, sendo a região que recebe a maior percentagem de investimento no que respeita aos empreendimentos rodoviários do PRR sob responsabilidade da IP. Cinco das seis intervenções já estão em curso, nomeadamente: “Variante Nascente de Évora (IP2)”; “IP8 (EN259). Sta. M. Sado /Ferreira do Alentejo, incluindo Variante de Figueira de Cavaleiros”; “IP8 Relvas Verdes – Roncão”; “Melhoria de Acessibilidades à Zona Industrial de Campo Maior”; “Variante de Aljustrel – Melhoria das Acessibilidades à Zona de Extração Mineira e à Área de Localização Empresarial”. Por consignar está a empreitada “IP8 (EN121). Ferreira do Alentejo /Beja, incluindo Variante a Beringel.

24.11.24

CARTAS DO DESASSOSSEGO (I)

Mê rique filhe do mê coraçã e da minhálma deseje questa minha carta te vá encontrar beim e de perfêta saúde quêcá vou inde bem graças a deus nosso senhor, escrevete já sem ter recebide resposta tua mas táva com muntas saudádes, sabes tou ca alma desassoseguéda vê lá tu ca guarda foi a casa do Zé Manel e dêlhe uma grande carga de porráda o requéce Gregório fontes fez queixa disse que lhe róberem azêtona da de conserva e tameim lhe cêferem erva lá na herdéde coitéde do cachôpe que o deixerem chei de nódoas negras os malvádes até o puserem de cama nã chega já a desgráça dele co a mãe doentinha da cabeça e agora iste grandes malandres a baterim assim numa pessoa nem num aneméle se bate assim quante más numa pessoa revolverem a casa toda e nã encontrarim azêtona nenhuma e mesme assim o cachôpe nã se livrou duma valente carga de porráda ele tem umas cinque cabras e vai com elas plos caminhes até à rebêra pastálas nã preceséva da erva do malandre gananciose pra nada o sô padre nem no assunte tocou lá na missa se fosse pra pedinchér e pra nomear os que nã vã à missa isse já falava mas assim fechousse em copas só sabe acusér os pobres que nã vã rezar tomarim eles denhêre pra comprar pã quanto mais pra dar prás esmolas mas que acontecemente malváde cá aconteceu eh cá fequê tá triste que fiz uma panela de sopa com as cousas da horta más um meguélhe de tócinhe e uma farenhêra e foilhes levar o tócinhe sempre dá más sustança e más olha na sopa nem quere saber se me sinsurem fiz o ca minhálma mandou coitéde do cachôpe e da mãe que ma agradecerem munte tenhe a dezêrte quele me pediu se tu o podias levár pró pé de ti quande a mãe dele partir tadinha anda tã mal ele até me prometeu quia cavar umas lêras de terra lá na horta pra eu ódespôs semeér ai flhe da minhálma que me sinte tã sózinha mas ainda bem que fôste pró estrangêre porcaqui só se veim tristezas e e munta meséria eh cá a escreverte sempre alevie as saudades que são tantas tantas até parece questou a falar contigue, sabes a Arménia tem perguntéde por ti cada vez que me vê os olhos dela até brilhem nã te prócupes comigue quê cá me vou arranjande ainda tenhe ali de láde algum denhêre da venda do máche e da carrossa cande precise sempre vou comprar umas mercearias e boles cá em casa nã sacabem a Zabel fornêra dáme uns boles dos de 4 oves e até uma tranças que fazem lá no forne dela mê rique filhe o papel da carta já sestá a acabar despeceme com munta trestêza na minhálma mas foi assim co nosso senhor quis levoute pra longe de mim mas tinha que ser assim, cá nã arranjavas vida recebe muntes beijinhes e abraçes desta tua mãe que nunca te esquece adeus adeus assim que me apertarem a saudádes escreve ótra vez...adeus adeus adeus mê rique filhe. • António Borrego

LISBOA: Lançamento do livro "LUÍS CÍLIA" no Auditório da Sociedade Portuguesa de Autores

20.11.24

OPINIÃO: Educação, esse prémio sem preço

Num primeiro olhar, os números podem ter um efeito desmobilizador. O prémio salarial médio de um trabalhador com o ensino superior tem vindo a cair progressivamente desde 1996. O mesmo acontece para quem tem o ensino secundário: o pico foi atingido em 2006 e está em quebra desde então. Ou seja, as diferenças salariais atribuíveis à educação tendem a pesar menos do que no passado. Uma das explicações está na compressão salarial decorrente dos aumentos recentes no salário mínimo nacional. Lidos de forma superficial, os dados correm o risco de criar uma perceção incorreta de desvalorização do investimento (que o é, com esforço das famílias) na educação. Mas há várias boas notícias por trás destes indicadores, uma das quais é a massificação do ensino superior: em 30 anos, a proporção de trabalhadores licenciados multiplicou-se por dez. Ter uma licenciatura continua a assegurar um prémio salarial médio de 40% e se olharmos para o mestrado a tendência acelera. É inequívoca a prioridade que o país, com atrasos estruturais devido a décadas de um regime que condenou a maioria da população à ignorância, deve dar à educação. O alargamento do pré-escolar é uma batalha imediata, mas no futuro haverá desafios crescentes como a formação ao longo da vida e a capacidade de redirecionar trabalhadores confrontados com mudanças mais rápidas no mercado e com uma perspetiva crescente de mobilidade. Como bem têm demonstrado algumas fragilidades da escola pública e os desafios de inovação com que as universidades se confrontam a todo o momento, a educação é uma revolução que nunca pode ser dada por concluída. Além de decisiva para a economia, é muito mais do que um caminho para o emprego ou para o salário. É a chave para ler o mundo de forma crítica e para atuar nele. Esse é um prémio sem preço, que muda vidas e agita sociedades. • Inês Cardoso – Jornal de Notícias - 20 novembro, 2024

ALTER DO CHÃO: Festival das Migas

EM FRANÇA: A morte de Francisco Correia Mourato

É uma notícia triste, daquelas que não gostamos de transmitir. Em França, onde residia na cidade de Blois, faleceu no dia 20 de Outubro, o nisense Francisco da Cruz Correia Mourato. Tinha 73 anos, tal como eu, éramos “artilheiros” e ambos frequentámos a Escola do Rossio na classe do professor António da Piedade Pires. Filho de Rosária da Piedade Correia e de Bartolomeu Farto Mourato, nasceu a 20 de Junho de 1951 e o seu funeral a 28 de Outubro deste ano foi acompanhado por pessoas da comunidade portuguesa e pela esposa, filhos, noras e netos que lhe prestaram a derradeira homenagem. Em França, o Francisco era conhecido pelo “Malagueta” e tinha um enorme orgulho nas suas origens, portuguesa e nisense. A doença prolongada impediu-o nos últimos anos de visitar o país natal, Nisa e os amigos. De entre tantos episódios na escola e fora dela, recordo-me muitas vezes de um, passado no campo. Tinha acompanhado o “Xico” na visita que fizera ao pai para lhe levar o almoço, algures num dos campos da pastorícia próximos da vila. O pai, pastor como tantos nisenses, acabou também para seguir os passos de tantos e tantos conterrâneos seus emigrando para França. Adiante. No regresso à vila e numa azinhaga , levantou-se um bando, numeroso de perdigotos. Tinham acabado de sair do ninho e ainda não voavam, apenas saltitavam, com grande ligeireza. Eu nunca tinha visto perdigotos e logo nos passou pela cabeça que iríamos trazer alguns para casa, tal a proximidade, ali mesmo ao alcance das mãos, com que os víamos. Separámo-nos, o Xico para um lado eu para outro, mas aos poucos a convicção de uma “caçada” desvaneceu-se. As pequeninas aves, com um sentido apurado de sobrevivência, nunca se deixaram ficar ao alcance das nossas mãos. E, facto curioso, com a mesma surpresa com que surgiram aos nossos olhos, num ápice desapareceram da nossa vista. Este episódio encerra uma lição: não dês como certo, o que certo não está! Aos familiares e amigos do Francisco Mourato, apresento as mais sentidas condolências. Mário Mendes

19.11.24

ARRONCHES: Apresentação do livro "As eleições legislativas no Alentejo durante a 1ª República" de Manuel Baiôa

Dia 23 de novembro (sábado), pelas 15H30, no Convento de Nossa Senhora da Luz, em Arronches.

ALPALHÃO: AJAL convida a população para a Magia do Natal

Convite à Magia do Natal 🎄 A nossa vila ganha vida com a chegada da época natalícia, e juntos vamos transformar Alpalhão num verdadeiro conto de Natal! 🎅 Convidamos toda a comunidade a participar na decoração da nossa vila! Que se iluminem e decorem as ruas, largos e cantos, com presépios, árvores de Natal, coroas de Natal, pais Natal, luzes e tudo o que estiver na imaginação de cada um! Juntem a família, os amigos e os vizinhos e coloquem a criatividade para fora!

18.11.24

NISA: Apresentação do livro “Os Versos da Tá Mari Pinto”

Realizou-se no passado sábado, na sala da União de Freguesias do Espírito Santo, Nossa Senhora da Graça e São Simão (Nisa), a apresentação do livro "Os Versos da Tá Mari Pinto", poetisa popular nisense falecida em 2003. Maria da Graça Pinto nasceu em Nisa em 1921, num dos dias que antecederam o Natal. Não frequentou a escola no tempo destinado à formação essencial. A ajuda aos pais, as tarefas no campo, só permitiram que fizesse a terceira classe. Ainda assim, ganhou um amor à escrita que nunca deixou de a acompanhar durante toda a vida. Mulher do campo, esposa de pastor, viveu e sonhou tendo o mundo rural como pano de fundo. Escrevia versos, nos fugazes momentos que a vida de pastorícia lhe permitia, Mulher de grande simplicidade, os seus versos tornaram-na numa figura popular de Nisa. Observava, com sentido crítico, tudo o que se passava à sua volta e num qualquer papel, pedaço de embalagem ou de cartão, em letras mal alinhavadas e rimas arrancadas ao fundo da memória, escreveu centenas e centenas de quadras populares, versos espontâneos por onde escorre a água límpida dos riachos, a natureza agreste dos campos ou dos animais, a pastorícia, as artes, antigas, de saber fazer o queijo, os alinhavados, as cantarinhas de barro. Foi uma das últimas “sentinelas” da vida campesina, dos campos à volta de Nisa que ela viu viçosos e cheios de vida, mas que os ventos da mudança, paulatinamente, obrigaram a uma desertificação acelerada.
Um processo doloroso que Maria Pinto descreve nos seus versos, por vezes parecendo de forma exacerbada e indignada, imaginando o tempo futuro, negro e sem perspectivas. Muitas dessas quadras foram, no contexto da época, mal compreendidas. Não havia revolta nas palavras que escrevia, mas sim um sentimento de desassossego e solidão em que o universo rural se transformara. Quem não a conheceu e toma contacto, agora, com os seus versos, está longe de imaginar que ao longo de décadas, a sua poesia popular, sentida e directa, irónica e mordaz, ou terna e efectuosa, fez o retrato social, de tipos, modas, acontecimentos importantes na vila de Nisa, encontros, partidas e chegadas. Entre estas, as do seu filho, para a vida militar ou para a França de todos os sonhos. Percursos, ao fim e ao cabo, de (quase) todos os nisenses. Nunca foi incomodada pelos versos, por vezes audazes, contidos na sua poesia. Escrevia com o coração e a simplicidade das suas rimas ter-lhe-ão evitado alguns dissabores. É que, num passado ainda recente, as suas quadras populares, lidas e relidas num determinado contexto, configuravam, na sua aparente ingenuidade, um forte pendor social e interventivo.
Quadras que falavam do campo, triste e abandonado, da saga da emigração, da vida dura e mal paga dos camponeses, entre estes os pastores, eternos solitários da planície alentejana. Maria da Graça Pinto não precisou de contar a história de vida, da sua vida. Ela está, indissoluvelmente, expressa nos versos que produziu: Basta ler as quadras que durante anos foi publicando no "Correio de Nisa", ou aquelas que, amontoadas e amarelecidas pelo tempo, guardou numa qualquer gaveta ou caixote na sua casa e que, pacientemente, foram reproduzidas como “corpo e alma” deste livro, agora apresentado. Um livro que é também uma homenagem, algo tardia, a uma mulher que na crueza dos seus versos, disse muitas verdades que, ainda hoje, continuam a incomodar. Mário Mendes

MÚSICA: Há Jazz em Marvão

O Centro Cultural e Recreativo de Santo António das Areias recebe, este sábado, a iniciativa “Há Jazz em Marvão”, com dois concertos de entrada livre. João Gato Solo abre o evento, às 21h30, e os Garfo (João Almeida, Bernardo Tinoco, João Fragoso, João Sousa) têm atuação marcada para as 22h15. O jazz regressa a Santo António das Areias a 29 de novembro, com os concertos de Tracapagã (Mariana Dionísio, João Pereira), às 21h30, e Samsa (Gonçalo Marques, João Carreiro, Miguel Rodrigues) às 22h15. O evento é promovido pela Robalo, uma associação de músicos ligados ao jazz e à música improvisada, com o apoio do Município de Marvão.

ALTER DO CHÃO: Conferência “Que Rumos para a Agricultura no Alto Alentejo? “

No próximo dia 23 de novembro realizar-se-á, no Cineteatro de Alter do Chão, a Conferência sob o título - “Que Rumos para a Agricultura no Alto Alentejo?” - uma organização do IDECI, Instituto para o Desenvolvimento, Cultura e Ciência que contará com o apoio do Município de Alter do Chão. Os temas e os oradores escolhidos comprovam o nosso compromisso na defesa da importância do setor agrícola no nosso território e, por isso, a participação de todos é fundamental.

17.11.24

NISA: Livro "Os Versos da Tá Mari Pinto" (II)

SARDOAL: Palestra "Recuso ser Vítima" - 25 de Novembro 2024 - 14h30

Sábado, 16 de novembro, é dia de Ciclo CRIA, para famílias, agentes educativos e públicos de tenra idade. Este dia de "ciclo" é composto por três atividades nos espaços no Centro de Artes de Sines. Às 15h00, é apresentado o livro "Afonso e o Axolote Mágico: Uma Incrível História no Zoo". Vamos conhecer um dos anfíbios mais misteriosos do mundo através desta obra com texto de Paulo Baptista e ilustração de Ana Sofia Ambrósio. Às 16h00, a ilustradora do livro orienta uma oficina de ilustração para famílias. E, às 17h00, há chá com contos pela equipa de mediação de leitura do CAS. Inscrições: servicoeducativoCAS@mun-sines.pt

OPINIÃO: Do granito

O mestre de pensar, Jorge Luís Borges, escreveu: "Eu tenho poucas ideias e expresso-as sempre várias vezes". Tirou-me as palavras da boca, por ser o que se passa comigo: em matéria de Porto, ando às voltas e acabo no mesmo sítio. Tais voltas incluem o que se passa por aí, mirando notícias e ouvindo pessoas acerca da cidade, meu território de sentimento e opção. Assim, foi com surpresa que li a notícia de o granito ter sido reconhecido pela UNESCO como "Pedra Património da Humanidade". Fiquei espantado não pelo facto da história da cidade poder contar-se com os seus habitantes a transformarem a pedra-mãe em urbe e património, mas por haver no mundo e entre nós quem se interesse por valores que afirmam a memória de um país. Vem dos primórdios do Burgo a ligação com o granito. O seu crescimento fez-se à custa das pedreiras nele disponíveis e a partir do séc. XVIII surgem referências precisas à sua actividade. Numa acta da Irmandade dos Clérigos, lê-se que "explorava uma pedreira no Monte" (certamente o Pedral de onde, para a abertura da Rua da Constituição, foram retiradas toneladas de pedra). Aquela Irmandade adiantava que "a pedraria de qualidade era comprada fora". Em 1791, da pedreira da Arrábida foi extraída o granito para entulhar parte da margem direita da Barra do Douro e, em 1852, a imprensa noticiava que "para a construção da estrada marginal" já se viam pedras saídas da pedreira da Torre da Marca (tal extracção permitiu a abertura da Rua da Restauração). (E falando de pedreiras: uma há que nem devia existir. A da Av. da Ponte, punhal espetado no nosso coração.) • Hélder Pacheco - Professor e escritor Jornal de Notícias - 16 novembro, 2024

NISA: Apresentado o livro “Os Versos da Tá Mari Pinto”

Ontem, dia 16,teve lugar na sede da União de Freguesias do Espírito Santo, Nossa Senhora da Graça e São Simão, a apresentação do livro de poesia popular “Os Versos da Tá Mari Pinto”. Uma sessão animada e de convívio, nela se evocando a vida e obra da autora, por parte de familiares e amigos e se recordaram muitas tradições e costumes da vila de Nisa, num tempo passado e ainda recente. Numa época de renúncia à leitura, a sessão mostrou que o livro ainda consegue reunir pessoas à sua volta e incentivar o convívio e a fruição cultural.

16.11.24

VILA VELHA DE RÓDÃO: Exposição homenageia contributo do casal Leisner para o estudo do megalitismo na região

Até 29 de novembro, o átrio dos Paços do Concelho de Vila Velha de Ródão recebe a exposição itinerante “Acervo Epistolar do Arquivo Leisner”, que procura homenagear o contributo deste casal de arqueólogos alemães para o inventário e estudo do megalitismo peninsular. Pertença do Património Cultural Instituto Público, esta a exposição foi apresentada pela primeira vez em Lisboa, durante o Workshop “O Arquivo Leisner e os arquivos históricos da Arqueologia Portuguesa” (2016) e foi documentada, mais tarde, no livro “Georg e Vera Leisner e o estudo do Megalitismo no Ocidente da Península Ibérica: contributos para a história da investigação arqueológica luso-alemã através do Arquivo Leisner (1909- 1972)” (Estudos & Memórias, 14, Uniarq, 2020), um valioso testemunho documental indispensável para o conhecimento do percurso científico deste casal de arqueólogos em Portugal. Georg Leisner (1870 – 1957) e Vera De La Camp Leisner (1885 – 1972) foram dois arqueólogos alemães com um trabalho cimeiro no inventário e estudo do megalitismo peninsular, do qual se destaca a publicação de uma obra monumental, em vários volumes e em língua alemã, intitulada “Die Megalithgraber der Iberischen Halbinsel (DMIH) – Os Monumentos Megalíticos da Península Ibérica”. Na senda dos trabalhos pioneiros de Francisco Tavares de Proença Júnior, de inventário e escavação de sepulturas megalíticas em Vila Velha de Ródão, Georg e Vera Leisner fazem uma revisão cartografada dos monumentos megalíticos do município rodanense, depois de uma estada, em 1945, em diversos municípios da Beiras Baixa. Esse novo inventário foi incluído no último volume dos DMIH, dedicado às Beiras, publicado postumamente, em 1998, com coordenação de Philine Kalb, arqueóloga da Delegação de Lisboa do Instituto Arqueológico Alemão. A exposição “Acervo Epistolar do Arquivo Leisner” pode ser vista no edifício dos Paços do Concelho de Vila Velha de Ródão, nos dias úteis, entre as 9h00 e as 12h30 e as 14h00 e as 17h30, até ao dia 29 de novembro. A entrada é livre.

15.11.24

HUMOR EM TEMPO DE CÓLERA

Leão despejado - Cartoon de Henrique Monteiro in https://henricartoon.blogs.sapo.pt

Morreu Celeste Caeiro, a mulher que fez do cravo o símbolo do 25 de Abril

Morreu Celeste Caeiro, a mulher que distribuiu cravos pelos militares na manhã do dia 25 de Abril de 1974. Tinha 91 anos. Celeste Caeiro, que se eternizou como símbolo de Abril ao distribuir cravos pelos militares na manhã da revolução, esteve presente, este ano, no desfile da celebração dos 50 anos do 25 de Abril, em Lisboa. Na ocasião, reproduziu o momento de forma simbólica, voltando a distribuir cravos aos presentes. Nos últimos anos, o JN entervistou várias vezes a "Celeste dos Cravos", como era conhecida na freguesia de Santo António, no coração de Lisboa, onde viveu durante muitos anos. Na edição de 25 de Abril de 2013 foi mesmo capa da edição do JN, que remetia para uma peça onde contava toda a sua epopeia naquele dia da revolução, que, como sempre disse, nunca pensou que ficasse na História da revolução e do país. Celeste Caiero contou então que, na altura, com os seus 40 anos, trabalhava num restaurante da Rua Braancamp, que nesse dia 25 de abril de 1974 assinalava um ano de existência. "O patrão tinha comprado uns cravos para assinalar o aniversário, mas, por causa da revolução nesse dia já não abrimos. Ele disse-me que levasse os cravos, que já não seriam precisos", recordou. Sem perceber bem o que se estava a passar, Celeste desceu a Avenida da Liberdade até ao Rossio e subiu a Rua do Carmo para dar de caras com os soldados e a multidão que já andava pelas ruas. Foi ali que perguntou a um soldado o que se estava a passar e para onde é que eles iam. "Disse-me que iam para o Chiado prender o Marcelo Caetano", contou. Paulo Lourenço – Jornal de Notícias - 15.11.2024 - Foto: Gonçalo Vilaverde

CULTURA: Historiador José António Falcão ganha Prémio Fundação Calouste Gulbenkian

O bispo nunca chegou a pôr os pés em Nanquim mas trouxe a laranja-da-China para o Alentejo, no século XVIII O historiador José António Falcão é um dos três galardoados com o Prémio Fundação Calouste Gulbenkian, no valor de 2.000 euros, anunciou a Academia Portuguesa da História. Irene Flunser Pimentel, David Soares, Massimo Bergonzini, Luís Reis Torgal, José d’Encarnação, Assunção Melo, Susana Mourato Alves-Jesus, Ana Ávila de Melo e Cláudia Thomé Witte foram os outros investigadores distinguidos pela Academia Portuguesa da História (APH) que anualmente premeia trabalhos publicados nesta área do saber. José António Falcão venceu o Prémio Gulbenkian/História da Presença de Portugal no Mundo, com a obra “Parecer e Ser: Excursus Vital de D. António Paes Godinho, Bispo de Nanquim”. O livro, editado pela ORIK – Associação de Defesa do Património de Ourique e lançado em Maio passado na Biblioteca Municipal de Ourique, conta a história do Bispo que trouxe a laranja-da-China (como então se chamava) para o Alentejo, no século XVIII. O autor – historiador de arte, museólogo e docente universitário – tem consagrado grande parte da sua atividade ao estudo e divulgação dos bens culturais do Alentejo, nomeadamente através do Festival Terras sem Sombra, que conta já com dezanove edições. A obra resulta de um profundo trabalho de investigação que traz para a ribalta uma das mais influentes personalidades do Portugal do tempo de D. João V. Recusando o aparato mundano dos prelados do seu tempo, o Bispo de Nanquim levou a cabo uma discreta, mas eficaz ação evangelizadora e influenciou também as relações com a China, entre muitos outros traços que contribuíram para lhe perpetuar a memória entre os contemporâneos. Curiosamente, foi D. António Paes Godinho quem difundiu a laranja-da-china e trouxe os chineses para o Alentejo. José António Falcão confessa que desde há muito a misteriosa figura de D. António Paes Godinho o intrigava, «um bispo de Nanquim que as circunstâncias da política internacional do tempo do imperador Kangxi impediram de chegar à China, mas que trouxe o Extremo-Oriente até ao Alentejo». Sublinha que se trata «de uma personalidade quase mítica da história de terras como Santiago do Cacém, Viana do Alentejo ou Mafra, para não falar da aldeia onde nasceu, Santa Luzia, hoje no concelho de Ourique; no entanto, a sua existência foi bem palpável e deixou fortes marcas». Grande parte dessa aura «deve-se ao facto de ter sido membro destacado de um movimento espiritual radical, profundamente reformador, a Jacobeia, que assumiu as rédeas do poder no tempo de D. João V e foi depois objeto de perseguição por parte do Marquês de Pombal». E acrescenta: «D. António Paes Godinho manteve, afinal, mesmo nas mais altas instâncias, a sua maneira de ser como alentejano de lei». Na atmosfera de luzes e sombras da corte joanina, Paes Godinho foi alguém que se manteve à margem dos jogos políticos e conquistou a estima do rei, mas, como realça o autor, «nunca quis outra coisa senão poder estar, em recato, nesse Alentejo onde estavam as suas raízes». Quanto a esta região, a memória do bispo de Nanquim está sobretudo associada à introdução da laranja-da-china e de outras espécies exóticas, que a tradição diz ter mandado vir da China continental, através de Macau, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da hortifruticultura e do paisagismo em Portugal. É célebre o jardim que fez plantar na sua quinta dos Olhos Bolidos, em Santiago do Cacém. Por outro lado, afirma também a tradição que, nunca tendo podido chegar a Nanquim – esteve quatro vezes a ponto de embarcar, mas jamais chegou a autorização para partir –, fez vir das distantes paragens chinesas algumas dezenas de seminaristas, que concluíram os estudos eclesiásticos no seu paço. O livro foi lançado pela ORIK – Associação de Defesa do Património de Ourique. Com um conjunto alargado de apoios institucionais – onde sobressai o Alto Patrocínio do Presidente da República – e empresariais, a obra, refere o editor, «traz para a luz do dia uma personalidade que nasceu na antiga freguesia de Santa Luzia, foi designado bispo de uma remota região da China, em 1716, e teve papel central na corte do rei D. João V e na sagração da basílica de Mafra». Quem quiser adquirir a obra, deverá contactar através do blogue da ORIK: associacao-orik.blogspot.com, onde o livro está à venda. • Sul Informação • 15 de Novembro de 2024

14.11.24

ÉVORA: Teatro de Pombal no Festival de Teatro Amador de Évora

A 26ª edição do FESTAE é organizada pela SOIR Joaquim António d’Aguiar, tem como parceiros, a Lendias d’Encantar, a Bruxa teatro e o Cendrev, e conta ainda com os apoios do INATEL, da Câmara Municipal de Évora e da União das Freguesias de Évora.

AVIS: 𝗠𝘂𝗻𝗶𝗰í𝗽𝗶𝗼 𝗱𝗶𝘀𝗽𝗼𝗻𝗶𝗯𝗶𝗹𝗶𝘇𝗮 𝗲𝘀𝗽𝗮ç𝗼 “𝗔𝘃𝗶𝘀 𝗖𝗼𝘄𝗼𝗿𝗸” 𝗴𝗿𝗮𝘁𝘂𝗶𝘁𝗮𝗺𝗲𝗻𝘁𝗲

O espaço “Avis Cowork”, situado no antigo edifício dos Paços do Concelho, encontra-se aberto ao público desde 01 de maio de 2024 e disponibiliza um local de trabalho destinado a pessoas que se encontrem em trabalho remoto. O “Avis Cowork” dispõem de 4 postos de trabalho, sala de reuniões, instalações sanitárias, Wi-fi, eletricidade e limpeza, podendo ser utilizado gratuitamente mediante inscrição prévia no Serviço de Atendimento do Município de Avis. Este espaço vem dar resposta a uma nova realidade laboral que se consolidou durante a pandemia: o trabalho remoto, que permite aos trabalhadores exercerem as suas tarefas fora das empresas, criando uma maior mobilidade da população para os territórios do interior, onde geram novas dinâmicas. Sob o mote Saúde e Bem Estar, a Biblioteca Municipal de Sardoal promove uma sessão sobre Medicina Ayurvérdica no próximo dia 20 de novembro, pelas 18 horas, com Ana Rita Navalho. O ayurveda é o sistema de medicina tradicional da Índia, surgido há mais de 4.000 anos. Baseia-se na teoria de que a doença é o resultado do desequilíbrio da força vital do corpo ou do prana. A entrada é livre.

MONFORTE: 8º Festival Sopas Solidárias