28.11.24
OPINIÃO: Leis por cumprir e contas por acertar
1. Foi há nove anos que se incluiu no estatuto profissional dos polícias a atribuição de prémios de desempenho. A falta de eficácia típica do país e a pouca vontade dos governos de cumprirem as suas promessas levaram no entanto a que fosse preciso esperar mais dois anos pela portaria que regulamentou a atribuição desses bónus: destinava-se a 5% dos agentes que fossem avaliados, a cada ano, com um desempenho muito bom ou excelente. Mas o pior estava para vir: os anos foram passando e prémios, nem vê-los. Por muito bons ou excelentes que fossem os agentes. Em 2019, e muito justamente, os homens e mulheres da GNR foram também contemplados. E desde 2021 que os melhores guardas recebem, como manda a lei, um prémio de meio salário (este ano, foram 557). Os polícias, esses, continuam sem receber. Parece que ninguém se lembrou de incluir os prémios no orçamento da PSP e, sete anos depois, nem dinheiro, nem os dez dias de férias adicionais a que teriam direito. Há contas por acertar com os polícias.
2. Houve um tempo em que as empresas que usavam o subsolo para prestar os seus serviços e promover o seu negócio nada pagavam por ocuparem o espaço público. E depois veio um tempo em que as autarquias, ou pelo menos parte delas, começaram a cobrar uma taxa, por conta dessa utilização. Sendo Portugal o país que é, as empresas que nos fornecem o gás natural decidiram que o melhor era cobrar a taxa aos seus clientes. Em 2017, no entanto, saiu uma lei que repunha a ordem: as empresas ficavam proibidas de cobrar a taxa de ocupação do subsolo. Sucede que, sete anos depois, as empresas continuam a cobrar o seu bónus, à revelia da lei. A Deco fez as contas: são 160 milhões de euros que famílias e empresas pagaram indevidamente. Há contas a acertar com os consumidores.
* Rafael Barbosa – Jornal de Notícias -28 novembro, 2024
27.11.24
PCP SAÚDA: 10 Anos da inscrição do cante alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade
Nota à imprensa do Executivo da Direcção Regional do Alentejo do PCP
1 - Assinalam-se hoje 10 anos sobre a data em que o Comité Internacional da UNESCO inscreveu o cante alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Tal conquista - motivo de orgulho e de grande satisfação para os alentejanos e para todo o povo português - constituiu um justo reconhecimento e valorização da relevância patrimonial do cante alentejano; do seu valor excepcional como símbolo identificador da região do Alentejo e identitário dos alentejanos; do seu enraizamento profundo na tradição e história cultural do País; e da sua importância como fonte de inspiração e de troca intercultural entre povos e comunidades.
Tal como o PCP afirmou então, tal reconhecimento contribuiu para a salvaguarda e a promoção do cante alentejano enquanto genuína expressão cultural de um povo, bem como para o surgimento de novos projectos musicais, culturais, académicos e turísticos que deram e continuam a dar um importante contributo para a promoção e defesa da cultura alentejana, do desenvolvimento e projecção do Alentejo e do País.
2 - O cante alentejano, canto colectivo sem recurso a instrumentos, que incorpora música e poesia, é uma expressão cultural de enorme força, beleza, identidade e consistência, profundamente ligada à vida e tradições do povo e dos trabalhadores, bem como à sua luta contra as injustiças, pela democracia e o desenvolvimento do Alentejo.
No ano em que se comemoram os 50 anos da Revolução de Abril, e quando o PCP e outras forças e personalidade democráticas iniciam as comemorações dos 50 anos da reforma agrária, a Direcção Regional do Alentejo (DRA) do PCP recorda as palavras do escritor e poeta José Gomes Ferreira: "Nunca vi um alentejano cantar sozinho com egoísmo de fonte. Quando sente voos na garganta, desce ao caminho da solidão do seu monte, e canta em coro com a família do vizinho. Não me parece pois necessária outra razão - ou desejo de arrancar o sol do chão - para explicar a reforma agrária do Alentejo. É apenas uma certa maneira de cantar."
3 - A DRA do PCP saúda vivamente os cantadores alentejanos, os seus inúmeros grupos corais, as colectividades, associações e instituições que os enquadram e apoiam, os seus dirigentes e activistas. Felicita e valoriza a contribuição de todos os que se têm empenhado na defesa, salvaguarda, promoção e inovação do cante alentejano, com resultados extraordinários na sua afirmação como uma das mais reconhecidas e atractivas expressões culturais portuguesas no plano nacional e internacional.
4 - A DRA do PCP recorda, e saúda vivamente os promotores da candidatura lançada em 2012, dos quais se destaca, com inteira justiça, a Câmara Municipal de Serpa que dinamizou a candidatura nos planos regional, nacional e internacional, mobilizando e nela envolvendo numerosas entidades – desde grupos corais até outros municípios e freguesias, passando por musicólogos, antropólogos, cineastas e outros especialistas – e criando a Casa do Cante, em Serpa, responsável pelo acompanhamento do processo.
5 - Reafirmando que a elevação do cante alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade é uma conquista de todo o povo alentejano e uma vitória de todos os que nela se empenharam, a DRA do PCP sublinha simultaneamente, e com orgulho, o permanente apoio ao Cante por parte dos comunistas nas autarquias, na Assembleia da República e no Parlamento Europeu, recordando que o PCP contribuiu de variadas formas e com várias iniciativas de massas e institucionais para essa grande conquista.
A DRA do PCP reafirma o compromisso e o empenho dos comunistas na defesa, salvaguarda e promoção do Cante Alentejano, e de forma geral de todas as expressões da riquíssima cultura do Alentejo, compromisso bem patente em várias iniciativas e projectos que as autarquias geridas pela CDU têm em desenvolvimento, das quais se destaca a Capital Europeia da Cultura – Évora 27.
27 de Novembro de 2024
O Executivo da Direcção Regional do Alentejo do PCP
26.11.24
OPINIÃO: O elogio da esquerda etiquetária pela direita
Em nome da fantasia de um exército de robots obedientes a algum grande educador do proletariado, a esquerda conservadora propõe na Alemanha a deportação de imigrantes.
Devia-nos escorrer uma lágrima furtiva quando lemos os carinhosos analistas que exigem à esquerda que regresse à “velhinha luta de classes”, agora “propriedade” da direita, pois o “vírus” democrata foi “capturado por grupelhos anticapitalistas”. O eterno Fukuyama é citado por Teresa de Sousa para provar que o que condenou Kamala foi a “protecção exclusiva de um conjunto de grupos marginalizados: minorias raciais, imigrantes, minorias sexuais, etc.”. E acrescenta ela com condescendência: “O problema não está em que estas preocupações não sejam justas, que são”. São mas não são e não podem, aqui aplica-se a filosofia da famosa rábula do Ricardo Araújo Pereira.
As minhas teses contra estes conselhos comoventes são, primeiro, que são uma fraude para incensar Trump e, depois, que tentam empurrar a esquerda para uma marginalidade etiquetária conveniente à direita.
Apaziguar Trump?
A pantomina começa por apresentar o Partido Democrata (PD) como a esquerda. O PD foi o partido dos esclavagistas durante a guerra civil; 70 anos depois, mesmo com a sua supermaioria, Roosevelt desistiu de uma lei federal contra os linchamentos porque os senadores democratas sulistas não o permitiriam. A perda dessa influência territorial e a pressão dos direitos civis mudou o mapa partidário, mas não a fidelidade a Wall Street: foi Clinton quem determinou o fim da lei do New Deal no controlo bancário e Kamala vangloriou-se da chancela da Goldman Sachs no seu programa. Chamar esquerda ao PD, ou fantasiar que representou os trabalhadores, é um insulto mal recebido pelos seus chefes.
Num país dividido ao meio pelo bipartidarismo, tanto democratas como republicanos sempre tiveram povo e é uma pirueta apresentar Trump como o portador da tal nova “luta de classes” colonizada pela direita. E, como é bom de ver, os lusos “proprietários da luta de classes” olham para o salário como a abominação que reduz o lucro. Nisso coerentes, a sua “luta” é pela redução do IRC ou, como notava o bilionário Warren Buffett, é para pagar menos IRS do que a sua secretária. Temo aliás que este amor pela “classe” seja de pavio curto e que volte à fábula meritocrática do elevador social, minúscula arca de Noé onde não cabe classe alguma.
O facto é que os “proprietários da luta de classes” se refugiam no discurso poltrão sobre a culpa woke para justificarem Trump. Afinal, repetem, ele tocou o coração do povo, oferecendo o identitarismo MAGA e a esperança dos descamisados. No entanto, bastaria olhar para a galeria de horrores do séquito para notar que o trumpismo é o poder de uma casta económica e procura impor a necropolítica, pobres descamisados que são carne para canhão. Por isso, a política de apaziguamento dos que endeusam o homem, que já deu mau resultado no passado, não será melhor agora: o que ela prova, como se verifica no fim do cordão sanitário francês ou na nomeação de Rutte para a NATO às costas do Governo de extrema-direita, é que a direita clássica desliza para o trumpismo.
Arrumados no beco?
O trumpismo é um identitarismo brutalista, dirigido por um fascista, com traços teocráticos e subordinado à pilhagem do país por uma elite empresarial, cujo ícone é Elon Musk, que investiu 119 milhões e ganhou 26 mil milhões com a eleição. Esta vaga crescerá. É o que me leva ao meu segundo ponto: a resposta da esquerda só pode ser a disputa da maioria, o que exige que crie a certeza social de que é ela que garante liberdade e segurança.
Assim sendo, face à ameaça civilizacional, é só curiosa a tentativa dos apaziguadores de nos pedirem um regresso ao passado. Ora, uma esquerda declarativa e cerimonial – etiquetária, portanto – só serve para o consolo da direita. Ela é inútil, nenhuma muralha de Jericó cairá com as trombetas das proclamações sobre o partido-guia. O modelo dessa política etiquetária já foi experimentado de todas as formas e só conduziu a sectarismo e auto-satisfação desarmante, enquanto a luzinha que brilhava numa janela do Kremlin para iluminar a humanidade se extinguiu às mãos dos dirigentes feitos oligarcas. Esse passado é um beco onde morreu a saudade.
Entretanto, em nome da fantasia de um exército de robots obedientes a algum grande educador do proletariado, a esquerda conservadora propõe na Alemanha a deportação de imigrantes e noutros países opõe-se à paridade entre homens e mulheres ou a medidas de transição energética.
Pois pergunto então que sentido teria a esquerda abandonar a maioria do povo, que são mulheres, ou renunciar aos direitos humanos, ou entregar o futuro ao capitalismo fóssil? Ou se, quando em Portugal se fez o referendo que despenalizou o aborto, havia outra prioridade da luta de classes? Ou se o país ficou pior por ter aprovado o casamento gay, que enfureceu a direita, a hierarquia religiosa e, já agora, muitos populares? É precisamente por disputar o único imaginário universalista que resta – liberdade e igualdade – que a esquerda deve rejeitar o etiquetarismo e juntar todos os setores populares que disputam os seus direitos.
Num tempo em que há menos sindicalizados do que precários e trabalhadores por turnos, ou migrantes, ou quando há mais manifestantes nas marchas LGBT+ do que no 1.º de Maio em todas as cidades menos uma, essa inclusão é uma condição para restabelecer a capacidade de acção colectiva da classe trabalhadora – e deve ser o seu programa.
Mais ainda, se a segurança da vida boa, dos bens comuns, da saúde à escola, e dos bens essenciais, o salário e a casa, é a base do projeto socialista, tal transmutação democrática só vencerá se for a expressão de uma aliança maioritária. Essa é aliás a razão pela qual setores da esquerda norte-americana, refugiados no seu próprio etiquetarismo sem alternativa política, prejudicam o combate pela igualdade ao substituírem a luta social pela ideia de que a experiência pessoal do trauma é a fonte da autoridade discursiva ou que o cancelamento pode estabelecer a regra da praça pública.
Contaminada pelo abismo intoxicante das redes sociais, essa esquerda é profundamente individualista e desiste do sentido da comunidade, que é a essência do universalismo socialista. Sim, Trump ensina-nos alguma coisa: a não desistir de toda a luta de classes que enfrenta o capitalismo real.
• Francisco Louçã
** Artigo publicado no jornal Público a 18 de novembro de 2024
25.11.24
VIII Encontro de História e Património de Ponte de Sor
O Centro de Artes e Cultura acolhe no próximo sábado, dia 30, pelas 15h, o VIII Encontro de História e Património de Ponte de Sor, promovido pelo Arquivo Histórico Municipal.
Trata-se de uma iniciativa que ocorre anualmente desde 2014 e incide sobre temas de História e Património, tendencialmente, mas não exclusivamente locais e regionais, assumindo a forma de colóquio com especialistas nas áreas de história, história de arte, arqueologia e património.
Obra da Variante Nascente de Évora já começou
Esta é uma das seis obras ligadas à rodovia, no Alentejo, que estão previstas no Plano de Recuperação de Resiliência
A obra de construção da Variante Nascente de Évora, que pretende ser uma alternativa ao atual troço do IP2, entre S. Manços e o nó Évora Nascente da A6/IP7, foi consignada pela Infraestruturas de Portugal na sexta-feira, dia 22, no Palácio D. Manuel, em Évora, numa cerimónia que contou com a presença de Miguel Pinto Luz, ministro das Infraestruturas e Habitação.
A empreitada tem um custo estimado de 54,9 milhões de euros e insere-se no Plano de Recuperação e Resiliência, na Componente C7 – Infraestruturas, investimentos na construção de Missing Links e Aumento de Capacidade da Rede.
«A intervenção visa a construção de uma nova ligação rodoviária alternativa ao atual troço do IP2, com início no Nó de Évora Nascente da A6/IP7, imediatamente após a praça de portagem, e termina na conexão com o atual IP2, em S. Manços», segundo a Infraestruturas de Portugal.
«A futura Variante terá cerca 12,8 quilómetros de extensão com dupla faixa de rodagem. Ao longo do traçado serão construídos restabelecimentos desnivelados, sendo a interligação com a rede existente assegurada através dos seguintes nós: Nó de Vale de Figueiras; Nó de Fonte Boa do Degebe; Rotunda de Ligação à EN18», descreve a empresa.
Está igualmente prevista a construção de oito passagens superiores, duas das quais sobre linhas de caminho de ferro.
“Este empreendimento irá contribuir decisivamente para a melhoria das ligações rodoviárias na região de Évora, melhorar a segurança rodoviária e promover a competitividade das empresas e a mobilidade das populações da região», defende a IP.
Esta é apenas uma das obras ligadas à rodovia, inscritas no PRR, de que o Alentejo irá beneficiar.
Nesta região, «já foram contratadas seis empreitadas, que perfazem um investimento global de 184 milhões de euros, sendo a região que recebe a maior percentagem de investimento no que respeita aos empreendimentos rodoviários do PRR sob responsabilidade da IP.
Cinco das seis intervenções já estão em curso, nomeadamente: “Variante Nascente de Évora (IP2)”; “IP8 (EN259). Sta. M. Sado /Ferreira do Alentejo, incluindo Variante de Figueira de Cavaleiros”; “IP8 Relvas Verdes – Roncão”; “Melhoria de Acessibilidades à Zona Industrial de Campo Maior”; “Variante de Aljustrel – Melhoria das Acessibilidades à Zona de Extração Mineira e à Área de Localização Empresarial”.
Por consignar está a empreitada “IP8 (EN121). Ferreira do Alentejo /Beja, incluindo Variante a Beringel.
24.11.24
CARTAS DO DESASSOSSEGO (I)
Mê rique filhe do mê coraçã e da minhálma deseje questa minha carta te vá encontrar beim e de perfêta saúde quêcá vou inde bem graças a deus nosso senhor, escrevete já sem ter recebide resposta tua mas táva com muntas saudádes, sabes tou ca alma desassoseguéda vê lá tu ca guarda foi a casa do Zé Manel e dêlhe uma grande carga de porráda o requéce Gregório fontes fez queixa disse que lhe róberem azêtona da de conserva e tameim lhe cêferem erva lá na herdéde coitéde do cachôpe que o deixerem chei de nódoas negras os malvádes até o puserem de cama nã chega já a desgráça dele co a mãe doentinha da cabeça e agora iste grandes malandres a baterim assim numa pessoa nem num aneméle se bate assim quante más numa pessoa revolverem a casa toda e nã encontrarim azêtona nenhuma e mesme assim o cachôpe nã se livrou duma valente carga de porráda ele tem umas cinque cabras e vai com elas plos caminhes até à rebêra pastálas nã preceséva da erva do malandre gananciose pra nada o sô padre nem no assunte tocou lá na missa se fosse pra pedinchér e pra nomear os que nã vã à missa isse já falava mas assim fechousse em copas só sabe acusér os pobres que nã vã rezar tomarim eles denhêre pra comprar pã quanto mais pra dar prás esmolas mas que acontecemente malváde cá aconteceu eh cá fequê tá triste que fiz uma panela de sopa com as cousas da horta más um meguélhe de tócinhe e uma farenhêra e foilhes levar o tócinhe sempre dá más sustança e más olha na sopa nem quere saber se me sinsurem fiz o ca minhálma mandou coitéde do cachôpe e da mãe que ma agradecerem munte tenhe a dezêrte quele me pediu se tu o podias levár pró pé de ti quande a mãe dele partir tadinha anda tã mal ele até me prometeu quia cavar umas lêras de terra lá na horta pra eu ódespôs semeér ai flhe da minhálma que me sinte tã sózinha mas ainda bem que fôste pró estrangêre porcaqui só se veim tristezas e e munta meséria eh cá a escreverte sempre alevie as saudades que são tantas tantas até parece questou a falar contigue, sabes a Arménia tem perguntéde por ti cada vez que me vê os olhos dela até brilhem nã te prócupes comigue quê cá me vou arranjande ainda tenhe ali de láde algum denhêre da venda do máche e da carrossa cande precise sempre vou comprar umas mercearias e boles cá em casa nã sacabem a Zabel fornêra dáme uns boles dos de 4 oves e até uma tranças que fazem lá no forne dela mê rique filhe o papel da carta já sestá a acabar despeceme com munta trestêza na minhálma mas foi assim co nosso senhor quis levoute pra longe de mim mas tinha que ser assim, cá nã arranjavas vida recebe muntes beijinhes e abraçes desta tua mãe que nunca te esquece adeus adeus assim que me apertarem a saudádes escreve ótra vez...adeus adeus adeus mê rique filhe.
• António Borrego
20.11.24
OPINIÃO: Educação, esse prémio sem preço
Num primeiro olhar, os números podem ter um efeito desmobilizador. O prémio salarial médio de um trabalhador com o ensino superior tem vindo a cair progressivamente desde 1996. O mesmo acontece para quem tem o ensino secundário: o pico foi atingido em 2006 e está em quebra desde então. Ou seja, as diferenças salariais atribuíveis à educação tendem a pesar menos do que no passado.
Uma das explicações está na compressão salarial decorrente dos aumentos recentes no salário mínimo nacional. Lidos de forma superficial, os dados correm o risco de criar uma perceção incorreta de desvalorização do investimento (que o é, com esforço das famílias) na educação. Mas há várias boas notícias por trás destes indicadores, uma das quais é a massificação do ensino superior: em 30 anos, a proporção de trabalhadores licenciados multiplicou-se por dez.
Ter uma licenciatura continua a assegurar um prémio salarial médio de 40% e se olharmos para o mestrado a tendência acelera. É inequívoca a prioridade que o país, com atrasos estruturais devido a décadas de um regime que condenou a maioria da população à ignorância, deve dar à educação. O alargamento do pré-escolar é uma batalha imediata, mas no futuro haverá desafios crescentes como a formação ao longo da vida e a capacidade de redirecionar trabalhadores confrontados com mudanças mais rápidas no mercado e com uma perspetiva crescente de mobilidade.
Como bem têm demonstrado algumas fragilidades da escola pública e os desafios de inovação com que as universidades se confrontam a todo o momento, a educação é uma revolução que nunca pode ser dada por concluída. Além de decisiva para a economia, é muito mais do que um caminho para o emprego ou para o salário. É a chave para ler o mundo de forma crítica e para atuar nele. Esse é um prémio sem preço, que muda vidas e agita sociedades.
• Inês Cardoso – Jornal de Notícias - 20 novembro, 2024
EM FRANÇA: A morte de Francisco Correia Mourato
É uma notícia triste, daquelas que não gostamos de transmitir. Em França, onde residia na cidade de Blois, faleceu no dia 20 de Outubro, o nisense Francisco da Cruz Correia Mourato. Tinha 73 anos, tal como eu, éramos “artilheiros” e ambos frequentámos a Escola do Rossio na classe do professor António da Piedade Pires.
Filho de Rosária da Piedade Correia e de Bartolomeu Farto Mourato, nasceu a 20 de Junho de 1951 e o seu funeral a 28 de Outubro deste ano foi acompanhado por pessoas da comunidade portuguesa e pela esposa, filhos, noras e netos que lhe prestaram a derradeira homenagem.
Em França, o Francisco era conhecido pelo “Malagueta” e tinha um enorme orgulho nas suas origens, portuguesa e nisense.
A doença prolongada impediu-o nos últimos anos de visitar o país natal, Nisa e os amigos.
De entre tantos episódios na escola e fora dela, recordo-me muitas vezes de um, passado no campo. Tinha acompanhado o “Xico” na visita que fizera ao pai para lhe levar o almoço, algures num dos campos da pastorícia próximos da vila. O pai, pastor como tantos nisenses, acabou também para seguir os passos de tantos e tantos conterrâneos seus emigrando para França. Adiante. No regresso à vila e numa azinhaga , levantou-se um bando, numeroso de perdigotos. Tinham acabado de sair do ninho e ainda não voavam, apenas saltitavam, com grande ligeireza. Eu nunca tinha visto perdigotos e logo nos passou pela cabeça que iríamos trazer alguns para casa, tal a proximidade, ali mesmo ao alcance das mãos, com que os víamos. Separámo-nos, o Xico para um lado eu para outro, mas aos poucos a convicção de uma “caçada” desvaneceu-se. As pequeninas aves, com um sentido apurado de sobrevivência, nunca se deixaram ficar ao alcance das nossas mãos. E, facto curioso, com a mesma surpresa com que surgiram aos nossos olhos, num ápice desapareceram da nossa vista.
Este episódio encerra uma lição: não dês como certo, o que certo não está!
Aos familiares e amigos do Francisco Mourato, apresento as mais sentidas condolências.
Mário Mendes
19.11.24
ALPALHÃO: AJAL convida a população para a Magia do Natal
Convite à Magia do Natal
🎄 A nossa vila ganha vida com a chegada da época natalícia, e juntos vamos transformar Alpalhão num verdadeiro conto de Natal!
🎅 Convidamos toda a comunidade a participar na decoração da nossa vila! Que se iluminem e decorem as ruas, largos e cantos, com presépios, árvores de Natal, coroas de Natal, pais Natal, luzes e tudo o que estiver na imaginação de cada um!
Juntem a família, os amigos e os vizinhos e coloquem a criatividade para fora!
18.11.24
NISA: Apresentação do livro “Os Versos da Tá Mari Pinto”
Realizou-se no passado sábado, na sala da União de Freguesias do Espírito Santo, Nossa Senhora da Graça e São Simão (Nisa), a apresentação do livro "Os Versos da Tá Mari Pinto", poetisa popular nisense falecida em 2003.
Maria da Graça Pinto nasceu em Nisa em 1921, num dos dias que antecederam o Natal. Não frequentou a escola no tempo destinado à formação essencial. A ajuda aos pais, as tarefas no campo, só permitiram que fizesse a terceira classe. Ainda assim, ganhou um amor à escrita que nunca deixou de a acompanhar durante toda a vida.
Mulher do campo, esposa de pastor, viveu e sonhou tendo o mundo rural como pano de fundo. Escrevia versos, nos fugazes momentos que a vida de pastorícia lhe permitia, Mulher de grande simplicidade, os seus versos tornaram-na numa figura popular de Nisa.
Observava, com sentido crítico, tudo o que se passava à sua volta e num qualquer papel, pedaço de embalagem ou de cartão, em letras mal alinhavadas e rimas arrancadas ao fundo da memória, escreveu centenas e centenas de quadras populares, versos espontâneos por onde escorre a água límpida dos riachos, a natureza agreste dos campos ou dos animais, a pastorícia, as artes, antigas, de saber fazer o queijo, os alinhavados, as cantarinhas de barro.
Foi uma das últimas “sentinelas” da vida campesina, dos campos à volta de Nisa que ela viu viçosos e cheios de vida, mas que os ventos da mudança, paulatinamente, obrigaram a uma desertificação acelerada.
Um processo doloroso que Maria Pinto descreve nos seus versos, por vezes parecendo de forma exacerbada e indignada, imaginando o tempo futuro, negro e sem perspectivas.
Muitas dessas quadras foram, no contexto da época, mal compreendidas. Não havia revolta nas palavras que escrevia, mas sim um sentimento de desassossego e solidão em que o universo rural se transformara.
Quem não a conheceu e toma contacto, agora, com os seus versos, está longe de imaginar que ao longo de décadas, a sua poesia popular, sentida e directa, irónica e mordaz, ou terna e efectuosa, fez o retrato social, de tipos, modas, acontecimentos importantes na vila de Nisa, encontros, partidas e chegadas. Entre estas, as do seu filho, para a vida militar ou para a França de todos os sonhos. Percursos, ao fim e ao cabo, de (quase) todos os nisenses.
Nunca foi incomodada pelos versos, por vezes audazes, contidos na sua poesia. Escrevia com o coração e a simplicidade das suas rimas ter-lhe-ão evitado alguns dissabores. É que, num passado ainda recente, as suas quadras populares, lidas e relidas num determinado contexto, configuravam, na sua aparente ingenuidade, um forte pendor social e interventivo.
Quadras que falavam do campo, triste e abandonado, da saga da emigração, da vida dura e mal paga dos camponeses, entre estes os pastores, eternos solitários da planície alentejana.
Maria da Graça Pinto não precisou de contar a história de vida, da sua vida.
Ela está, indissoluvelmente, expressa nos versos que produziu: Basta ler as quadras que durante anos foi publicando no "Correio de Nisa", ou aquelas que, amontoadas e amarelecidas pelo tempo, guardou numa qualquer gaveta ou caixote na sua casa e que, pacientemente, foram reproduzidas como “corpo e alma” deste livro, agora apresentado.
Um livro que é também uma homenagem, algo tardia, a uma mulher que na crueza dos seus versos, disse muitas verdades que, ainda hoje, continuam a incomodar.
Mário Mendes
17.11.24
OPINIÃO: Do granito
O mestre de pensar, Jorge Luís Borges, escreveu: "Eu tenho poucas ideias e expresso-as sempre várias vezes". Tirou-me as palavras da boca, por ser o que se passa comigo: em matéria de Porto, ando às voltas e acabo no mesmo sítio.
Tais voltas incluem o que se passa por aí, mirando notícias e ouvindo pessoas acerca da cidade, meu território de sentimento e opção. Assim, foi com surpresa que li a notícia de o granito ter sido reconhecido pela UNESCO como "Pedra Património da Humanidade". Fiquei espantado não pelo facto da história da cidade poder contar-se com os seus habitantes a transformarem a pedra-mãe em urbe e património, mas por haver no mundo e entre nós quem se interesse por valores que afirmam a memória de um país.
Vem dos primórdios do Burgo a ligação com o granito. O seu crescimento fez-se à custa das pedreiras nele disponíveis e a partir do séc. XVIII surgem referências precisas à sua actividade. Numa acta da Irmandade dos Clérigos, lê-se que "explorava uma pedreira no Monte" (certamente o Pedral de onde, para a abertura da Rua da Constituição, foram retiradas toneladas de pedra). Aquela Irmandade adiantava que "a pedraria de qualidade era comprada fora".
Em 1791, da pedreira da Arrábida foi extraída o granito para entulhar parte da margem direita da Barra do Douro e, em 1852, a imprensa noticiava que "para a construção da estrada marginal" já se viam pedras saídas da pedreira da Torre da Marca (tal extracção permitiu a abertura da Rua da Restauração).
(E falando de pedreiras: uma há que nem devia existir. A da Av. da Ponte, punhal espetado no nosso coração.)
• Hélder Pacheco - Professor e escritor
Jornal de Notícias - 16 novembro, 2024
NISA: Apresentado o livro “Os Versos da Tá Mari Pinto”
Ontem, dia 16,teve lugar na sede da União de Freguesias do Espírito Santo, Nossa Senhora da Graça e São Simão, a apresentação do livro de poesia popular “Os Versos da Tá Mari Pinto”.
Uma sessão animada e de convívio, nela se evocando a vida e obra da autora, por parte de familiares e amigos e se recordaram muitas tradições e costumes da vila de Nisa, num tempo passado e ainda recente.
Numa época de renúncia à leitura, a sessão mostrou que o livro ainda consegue reunir pessoas à sua volta e incentivar o convívio e a fruição cultural.
15.11.24
Morreu Celeste Caeiro, a mulher que fez do cravo o símbolo do 25 de Abril
Morreu Celeste Caeiro, a mulher que distribuiu cravos pelos militares na manhã do dia 25 de Abril de 1974. Tinha 91 anos.
Celeste Caeiro, que se eternizou como símbolo de Abril ao distribuir cravos pelos militares na manhã da revolução, esteve presente, este ano, no desfile da celebração dos 50 anos do 25 de Abril, em Lisboa. Na ocasião, reproduziu o momento de forma simbólica, voltando a distribuir cravos aos presentes.
Nos últimos anos, o JN entervistou várias vezes a "Celeste dos Cravos", como era conhecida na freguesia de Santo António, no coração de Lisboa, onde viveu durante muitos anos. Na edição de 25 de Abril de 2013 foi mesmo capa da edição do JN, que remetia para uma peça onde contava toda a sua epopeia naquele dia da revolução, que, como sempre disse, nunca pensou que ficasse na História da revolução e do país.
Celeste Caiero contou então que, na altura, com os seus 40 anos, trabalhava num restaurante da Rua Braancamp, que nesse dia 25 de abril de 1974 assinalava um ano de existência. "O patrão tinha comprado uns cravos para assinalar o aniversário, mas, por causa da revolução nesse dia já não abrimos. Ele disse-me que levasse os cravos, que já não seriam precisos", recordou.
Sem perceber bem o que se estava a passar, Celeste desceu a Avenida da Liberdade até ao Rossio e subiu a Rua do Carmo para dar de caras com os soldados e a multidão que já andava pelas ruas. Foi ali que perguntou a um soldado o que se estava a passar e para onde é que eles iam. "Disse-me que iam para o Chiado prender o Marcelo Caetano", contou.
Paulo Lourenço – Jornal de Notícias - 15.11.2024 - Foto: Gonçalo Vilaverde
14.11.24
AVIS: 𝗠𝘂𝗻𝗶𝗰í𝗽𝗶𝗼 𝗱𝗶𝘀𝗽𝗼𝗻𝗶𝗯𝗶𝗹𝗶𝘇𝗮 𝗲𝘀𝗽𝗮ç𝗼 “𝗔𝘃𝗶𝘀 𝗖𝗼𝘄𝗼𝗿𝗸” 𝗴𝗿𝗮𝘁𝘂𝗶𝘁𝗮𝗺𝗲𝗻𝘁𝗲
O espaço “Avis Cowork”, situado no antigo edifício dos Paços do Concelho, encontra-se aberto ao público desde 01 de maio de 2024 e disponibiliza um local de trabalho destinado a pessoas que se encontrem em trabalho remoto.
O “Avis Cowork” dispõem de 4 postos de trabalho, sala de reuniões, instalações sanitárias, Wi-fi, eletricidade e limpeza, podendo ser utilizado gratuitamente mediante inscrição prévia no Serviço de Atendimento do Município de Avis.
Este espaço vem dar resposta a uma nova realidade laboral que se consolidou durante a pandemia: o trabalho remoto, que permite aos trabalhadores exercerem as suas tarefas fora das empresas, criando uma maior mobilidade da população para os territórios do interior, onde geram novas dinâmicas.
Sob o mote Saúde e Bem Estar, a Biblioteca Municipal de Sardoal promove uma sessão sobre Medicina Ayurvérdica no próximo dia 20 de novembro, pelas 18 horas, com Ana Rita Navalho.
O ayurveda é o sistema de medicina tradicional da Índia, surgido há mais de 4.000 anos. Baseia-se na teoria de que a doença é o resultado do desequilíbrio da força vital do corpo ou do prana.
A entrada é livre.
13.11.24
SAÚDE: Diabetes e Doenças Hepáticas: uma relação bidirecional e complexa
Dia Mundial da Diabetes assinala-se a 14 de novembro
A diabetes mellitus afeta 422 milhões de pessoas em todo o mundo e provoca 1,5 milhões de mortes anuais, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em Portugal, a situação é igualmente preocupante, com cerca de um milhão de pessoas a viver com esta condição, tendo este número vindo a aumentar significativamente nas últimas décadas. Aponta-se que entre 65% e 70% das pessoas com diabetes podem também sofrer de problemas no fígado.
A diabetes caracteriza-se pelo aumento dos níveis de glicose no sangue e a sua relação com as doenças hepáticas revela uma ligação complexa que merece especial atenção. Existem vários tipos de diabetes, sendo os mais comuns a diabetes tipo 1 e a diabetes tipo 2, existindo também a diabetes gestacional e outros tipos menos comuns. A diabetes tipo 1 é uma doença autoimune que destrói as células produtoras de insulina no pâncreas. A diabetes tipo 2, por sua vez, está fortemente ligada a comportamentos e a dietas não saudáveis, e a diabetes gestacional ocorre durante a gravidez, normalmente resolvendo-se após o parto.
A relação entre estas duas condições pode manifestar-se em ambos os sentidos. Primeiro, a diabetes pode surgir como uma complicação da cirrose hepática, pois a insuficiência hepática pode alterar o metabolismo da glicose (açúcares) e provocar diabetes. A diabetes pode dificultar o tratamento de infeções e aumentar a morbimortalidade em doentes com cirrose. Além disso, a diabetes pode exacerbar a gravidade de doenças hepáticas como a doença hepática alcoólica e o cancro hepático.
Por outro lado, a diabetes tipo 2 é por si só um fator de risco significativo para o desenvolvimento de doença hepática. Os diabéticos tipo 2 frequentemente enfrentam problemas como obesidade, hipertensão e níveis elevados de gorduras no sangue. A resistência à insulina, uma característica da diabetes tipo 2, resulta na libertação de ácidos gordos que se acumulam nas células do fígado, levando à esteatose hepática, também conhecida como fígado gordo. Esta condição pode provocar inflamação crónica e evoluir para formas mais graves de doença hepática, incluindo cirrose e cancro do fígado.
O tratamento eficaz da diabetes em conjunto com as doenças hepáticas requer uma abordagem multidisciplinar que envolva especialistas em ambas as áreas. No entanto, a prevenção continua a ser a melhor estratégia, com a adoção de uma dieta saudável e a prática regular de exercício físico a desempenharem papéis cruciais na prevenção dessas condições interligadas.
No âmbito do Dia Mundial da Diabetes, assinalado a 14 de novembro, deixamos o lembrete para que reconheça a importância de uma abordagem integrada para o tratamento da diabetes e das doenças hepáticas, contribuindo para manter o equilíbrio e a saúde a longo prazo. A adoção de uma dieta equilibrada, a prática regular de exercício físico e a realização de consultas médicas periódicas são fundamentais para prevenir e gerir ambos os problemas.
• Artigo de Opinião de Arsénio Santos, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF)
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OPINIÃO: Mergulhados no deserto
Depois de vários anos de ausência, os jornais em papel voltaram a ser vendidos em Freixo de Espada à Cinta por iniciativa do Município, que assume o serviço e os encargos com os exemplares não vendidos. A decisão é tomada na lógica de que o acesso à informação, consagrado na Constituição, é um direito de qualquer cidadão, onde quer que resida. A prática tem vindo a demonstrar o inverso. Uma boa parte do país está cada vez mais afastada das notícias – na ótica do consumo e simultaneamente como território nelas retratado.
O estudo mais detalhado sobre os chamados desertos de notícias em Portugal data de 2022 e é da responsabilidade da Universidade da Beira Interior. Revela que 166 dos 308 concelhos do país estão em deserto de notícias, em semideserto ou ameaçados. Ou seja, não possuem noticiário local ou meios de comunicação locais, ou quando estes existem têm uma periodicidade que não assegura a regularidade da informação.
Quando se trata de assimetrias, o Interior comprova invariavelmente a sua fragilidade. Em Bragança e Portalegre, mais de metade dos concelhos estão no deserto ou semideserto. Como explicam os autores do estudo, o problema agudiza-se em “regiões distantes dos grandes centros, com baixa atividade económica, onde os antigos jornais locais não conseguem mais sustentar-se”. Sem visibilidade, é uma parte do país que desaparece do espaço público.
A iniciativa da autarquia de Freixo de Espada à Cinta surge em contraciclo, procurando contrariar o afastamento das populações em relação aos media, apesar de estes terem em larga medida abandonado os territórios. O jornalismo de proximidade é crucial, mas até em meios urbanos está ameaçado. Que o diga o Correio da Feira, com atividade “suspensa” por tempo indeterminado depois de 126 anos a cobrir a atualidade no município de Santa Maria da Feira. Segundo a administração, “poucos, e por isso insuficientes, estão interessados em pagar para se fazer informação profissional”. Que consequências poderá ter o deserto que nos vai silenciosamente absorvendo? Talvez estejamos demasiado distraídos com o ruído e a aparente abundância das redes para procurarmos antevê-las.
• Inês Cardoso – Jornal de Notícias -13 novembro, 2024
PJ detém homem de 69 anos por crimes de incêndio e coação em Campo Maior
Um homem, de 69 anos, foi detido pela Polícia Judiciária pela alegada prática de três crimes de incêndio e de vários outros crimes contra a ex-companheira, como coação e perseguição, em Campo Maior, foi hoje anunciado.
Em comunicado, a PJ explicou que o homem foi detido na terça-feira em Campo Maior, no distrito de Portalegre, através da Unidade Local de Investigação Criminal de Évora.
De acordo com a polícia de investigação criminal, existem contra o indivíduo "fortes suspeitas da prática de três crimes de incêndio, um crime de coação, um crime de perseguição, um de devassa da vida privada e um crime de gravações ilícitas".
Os factos de que é suspeito "tiveram como alvo a ex-companheira, de 41 anos", e terão sido "praticados desde fins de julho a meados de setembro deste ano".
Os mesmos foram "originados por motivos fúteis e ciúmes", assegurou a Judiciária.
A detenção, que contou com a colaboração da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), permitiu também apreender "cerca de 13.650 litros de óleo e de azeite alimentar suspeitos de fraude e adulteração por parte do agressor".
A PJ indicou ainda que o detido vai ser presente hoje a primeiro interrogatório judicial, junto do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Elvas, distrito de Portalegre, com vista à aplicação da medida de coação adequada.
RRL // VAM
Lusa/Fim
12.11.24
NISA: Apresentação do livro "Os Versos da Tá Mari Pinto"
No próximo sábado, dia 16, terá lugar na sede da União de Freguesias do Espírito Santo, Nossa Senhora da Graça e São Simão, a apresentação do livro de poesia popular “Os Versos da Tá Mari Pinto”.
A sessão terá início pelas 15 horas, com a evocação da vida e obra da autora, por parte de familiares, amigos e do representante da editora.
CIMH/CGTP-IN promove debate temático em Ponte de Sôr
A CIMH/CGTP-IN - Comissão para a Igualdade entre Mulheres e Homens da CGTP-IN está a organizar, em todo o país, 20 debates temáticos em torno de problemas que afectam de forma particular as mulheres trabalhadoras, para assinalar os seus 20 anos de existência.
Um destes debates terá lugar no Auditório do Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sôr, no dia 15 de Novembro e será subordinado ao tema “Riscos Psicossociais e Saúde Mental: prevenir e tratar”. O debate contará com 2 painéis de discussão com a participação de oradores convidados e um período no final de cada painel para discussão (programa em anexo), esperando-se a participação de cerca de 20 activistas sindicais e trabalhadores de vários sectores.
Tendo em conta a temática do debate e a importância das reflexões que certamente ali terão lugar, ligadas à realidade e aos problemas sentidos pelos trabalhadores do país e em particular pelas mulheres trabalhadoras do distrito, a União dos Sindicatos do Norte Alentejano convidou diversas entidades públicas a participar.
NISA. A morte do “Chico Canhoto”
Morreu o “Chico Canhoto”, o popular desportista, nascido em Avis no primeiro dia do mês de Abril de 1942 e que muito contribuiu para o desenvolvimento do desporto no concelho de Nisa.
Francisco de Matos Agostinho começou jogar futebol de alta competição no Grupo Desportivo Portalegrense na época de 1961-62. Terá tido outro percurso futebolístico inicial na fase da juventude, já que nessa primeira época o desafio era arrojado, na 3ª divisão nacional de futebol. Representou o Grupo Desportivo Portalegrense nas duas épocas seguintes (1961-62 e 1962-63) na terceira e segunda divisão, respectivamente, seguindo-se o C.F Os Belenenses do escalão maior do nosso futebol. Não foi muito utilizado e regressou ao seu Desportivo Portalegrense, clube que representou durante 13 épocas a ponto de o nome do clube ser “colado” ao seu como alcunha quando chegou a Nisa para representar o Sport Nisa e Benfica. Era o “Chico do Desportivo” a juntar-se ao “Chico Canhoto”, como era conhecido popularmente em Portalegre, pela qualidade do seu pé esquerdo.
Veio para Nisa na época (1975-1976) em que o GD Portalegrense se sagrou campeão nacional da 3ª divisão, na final disputada em Tomar com o União de Coimbra. Representou o Sport Nisa e Benfica durante quatro épocas, duas das quais na 3ª divisão nacional, foi treinador e dirigente, manteve uma ligação permanente ao clube até ao final da sua vida. Representou como futebolista o Sambrazense e o Alpalhoense.
Radicado em Nisa, desempenhou a sua actividade profissional no âmbito do Ministério da Saúde, aqui lhe nasceram os filhos e granjeou a estima e consideração dos seus concidadãos.
Francisco de Matos Agostinho está ligado e para ela contribuiu de forma empenhada e brilhante, à chamada “época de ouro” do futebol nisense, com a conquista de títulos distritais e a correspondente disputa dos campeonatos nacionais e participação na Taça de Portugal, numa época em que os apoios eram diminutos, mas sobrava a vontade e generosidade de atletas e dirigentes empenhados em levar bem longe o nome de Nisa.
Esteve igualmente ligado ao despontar do Futsal em Nisa, através do Sport Nisa e Benfica e a disputa do primeiro campeonato distrital desta nova variante do futebol, competição que o Nisa e Benfica venceu e o projectou na disputa da 3ª divisão nacional.
Morreu o homem, o cidadão e o desportista. Não sendo de Nisa, era um nisense por afeição e por dedicação à vila que o acolheu.
Partiu um homem de bem, um desportista de eleição, um cidadão que contribuiu para formar outros cidadãos e incutir-lhes as noções de lealdade e fair-play que devem fazer parte de todos os desportos e da cidadania, em geral.
À Família – esposa, filhos e netos – endereço as mais sentidas condolências, fazendo votos para que a memória e o exemplo do “Chico do Desportivo” frutifique e constitua um lema presente e futuro dos clubes que tão bem representou.
Mário Mendes
• NOTA – Algumas referências e fotos foram retiradas da net https://algarvalentejo.blogspot.com pedindo antecipadamente desculpa para alguma incorrecção que se verifique.
11.11.24
OPINIÃO: Pobreza: o problema nos bairros
Os bairros à volta de Lisboa parecem estar em polvorosa e, escutando a turba mediática, há algo, como um mantra, que entra no ouvido: “eu bem dizia”. E, de facto, muita gente disse alguma coisa sobre o dia em que as pessoas se iriam revoltar.
O que muitos não imaginaram foi o porquê da revolta; porque parte dessas pessoas sempre alegou problemas de etnia e credo associados à violência, esquecendo-se do essencial: o meio. Quando Ortega y Gasset nos fala da circunstância, alerta-nos para esse tema.
São bairros de pobres, de pessoas que vivem de trabalhos que mais ninguém quer, na construção civil, a lavar escadas de prédios, por turnos que começam à meia-noite e terminam às oito, etc., da caridade do Estado ou da caridade de associações e de alguns patrões. São bairros onde há gangues, daqueles que se veem nos filmes e que se aproveitam da miséria dos vizinhos para poderem viver marginalmente.
Nos bairros da Grande Lisboa, o maior problema é económico, é um problema social, é uma questão de marginalidade que vai além do étnico. O Estado falha nas suas funções nestes locais - não é por pagar RSI ou não haver IRS para quem recebe o salário mínimo que o Estado cumpre a sua função na totalidade - e a personificação do Estado é na Polícia.
Não sou eu que vou julgar a atitude de quem disparou o tiro sobre Odair Moniz, porque é que o fez e em que condições, mas é difícil alterar a perceção quando temos um homem morto a tiro, um homem cujas pessoas que com ele conviviam dizerem que era um homem bom, um homem cujo desaparecimento leva à revolta. Como é que é encarada essa revolta? Com carga policial. O Estado falha em tudo, exceto no homem que os vem prender.
O que resta às pessoas destes bairros sociais e que cujos desenvolvimentos ultrapassam fronteiras concelhias? Qual a sua condição?
São bairros onde as vozes dos que tendencialmente defendem os operários, os trabalhadores precários, como seriam as de Paulo Raimundo ou de Mariana Mortágua, não chegam. Muito menos a de Pedro Nuno Santos.
Mas são bairros cuja inoperância do Estado nas suas funções - na educação, na saúde, na justiça - leva à revolta, e cuja revolta faz com que a voz mais escutada seja a de André Ventura e a de todos os que querem expulsar imigrantes e pessoas de etnia diferente.
O que se passa nos arrabaldes de Lisboa põe a nu a falência do marxismo e é a querosene que alimenta a extrema-direita.
João Rebelo Martins - Gestor de empresas
• Jornal de Notícias - 08 novembro, 2024
AVIS: 𝐁𝐢𝐛𝐥𝐢𝐨𝐭𝐞𝐜𝐚 𝐌𝐮𝐧𝐢𝐜𝐢𝐩𝐚𝐥 𝐉𝐨𝐬é 𝐒𝐚𝐫𝐚𝐦𝐚𝐠𝐨 𝐚𝐬𝐬𝐢𝐧𝐚𝐥𝐚 𝐨 𝟗.º 𝐀𝐧𝐢𝐯𝐞𝐫𝐬á𝐫𝐢𝐨
A Biblioteca Municipal José Saramago completa o seu 9.º Aniversário no próximo dia 21 de novembro. A data volta a ser assinalada com a realização de uma programação comemorativa, especialmente preparada pelo Município de Avis.
O Programa de aniversário abrirá a 19 de novembro, pelas 10h00, com a realização de um Atelier criativo, orientado por João André Pinto, para todos os grupos “Animasénior” e público em geral. Um espaço de criação dedicado à Pintura, Desenho e Artes Plásticas, que estenderá a sua função pelo dia 20 de novembro, igualmente a partir das 10h00.
No dia 22, sexta-feira, às 10h00, chegará o “O cão que vem de tão longe” para um encontro com os alunos do Pré-Escolar, num espetáculo teatral protagonizado pela Associação Cultural “Umcoletivo”, e, às 18h00, será a vez do Escritor Avelino Bento partilhar a sua obra poética e literária com todos os presentes, numa sessão conduzida pela Biblioteca Municipal.
A semana de comemorações contará também com a apresentação de mais uma edição do Festival Festfado, com os fados e guitarradas a fazerem-se ouvir, no dia 23, pelas 21h30, no Auditório Municipal “Ary dos Santos”.
A 29, a partir das 10h00, a Sociedade das Primas – Associação Cultural entra em cena com a peça teatral “No meu bairro”, baseada na obra com o mesmo nome, de Lúcia Vicente, numa apresentação dirigida a todos os alunos do 3.º e 4.º ano do 1.º Ciclo.
Neste dia, a programação encerra com “O Mistério da Pedra Encantada” apresentado pela “Era uma Vez”, num espetáculo de Marionetas, igualmente às 10h00, para todos os alunos do 1.º e 2.º ano do 1.º Ciclo.
A celebração completar-se-á com a exibição da “Declaração de Deveres Humanos”, numa Exposição da Fundação José Saramago, que estará patente ao público, até ao dia 29 de novembro.
10.11.24
OPINIÃO: Talvez respostas simples
O que nos mostram as eleições nos Estados Unidos da América (EUA), a euforia da bolsa face à eleição de Donald Trump e a postura de governantes europeus no atual cenário?
Que o capitalismo age à rédea solta, como máquina afinadíssima de concentração de riqueza, de exploração de quem trabalha (e as “classes médias” cilindradas), de reprodução contínua de pobreza e miséria, mesmo em países onde se produz, ou onde circula, imensa riqueza. Os elevadores sociais são boicotados. Nunca os mais ricos foram tão ricos, e nunca foram tão poderosos. O capitalismo ultraliberal promove o ultraconservadorismo e o fascismo, nos EUA, na Europa e noutras latitudes. Já não os dispensa. E precisa da guerra.
Esta engrenagem infernal sustenta-se na criação de estabilidade para os mecanismos de apropriação indevida de riqueza (tornados legais) e na insegurança da esmagadora maioria dos seres humanos. Observando a governação de muitos países, constatamos que a decência na política está abaixo de zero. Cultiva-se o desrespeito pelo outro, nega-se o humanismo, imperam as discriminações, atacam-se as instituições de representação coletiva, elementos fundamentais para o combate às desigualdades, para integrar as pessoas na vida coletiva e para a democracia. Endeusa-se o lucro e sacrificam-se as pessoas para haver crescimento económico que não se reparte.
Uma base fundamental da liberdade assenta na satisfação de necessidades básicas das pessoas. Essa satisfação não está a ser garantida e é fomentada a suspeição e o ódio entre a imensidão dos que ou não chegam a ter plena cidadania, ou vão sendo deserdados. Falta emprego digno e existe muita precariedade. Há salários de miséria e é impossível aceder a habitação condigna, mesmo com governações que se dizem democráticas. Temos, assim, vidas em desespero, o caldo para a loucura e a alienação, para o retrocesso social, cultural e político.
Comentadores e “especialistas” entretêm-se em intrincados exercícios de explicação sobre o que originou e significa a vitória de Trump, o fracasso dos governos alemão, francês e outros, o avanço da extrema-direita, quando as respostas são bastante simples. Falta é coragem para assumir as causas dos problemas sem floreados. Derrotar os poderes instalados, isso sim, é complexo e exige coragem.
De repente, dirigentes políticos europeus que urdiram as dependências da União Europeia face aos EUA afirmam a necessidade de autonomia do “projeto europeu”. Há muito que precisamos de uma política para o Cáucaso que não passa por pegar num serrote e cortar o Continente separando a Rússia; de políticas respeitadoras de valores universais e direitos humanos com o Médio Oriente, a África, a América Latina e a China.
Necessitamos de coisas simples: paz, melhor distribuição da imensa riqueza existente, imigrantes com direitos, pão, emprego e salários dignos, justiça, saúde e habitação.
Carvalho da Silva - Investigador e professor universitário
In Jornal de Notícias - 09 novembro, 2024
MÚSICA: A Resistência lança novo ep "Canções da Revolução"
Ao vivo em Janeiro (Porto) e Fevereiro (Lisboa)
Quando nasceu, a Resistência tinha bem presente o espírito de Abril, desde logo na escolha do seu nome, mas também no seu particular entendimento do poder das canções. Por isso mesmo, no ano em que se cumpre meio século sobre a conquista da Liberdade com a revolução dos Cravos, a Resistência não podia deixar de celebrar Abril, uma vez mais. “Canções da Revolução” é o título de um ep de quatro versões de quatro clássicos maiores que pertencem a um tempo, é certo, mas que dele também se libertaram para alcançar a eternidade. O primeiro tema revelado foi um dos marcos dessa era, “O Que Faz Falta”. Originalmente parte do alinhamento de Coro dos Tribunais, disco editado, precisamente, em 1974, este verdadeiro hino surge agora reinventado pelas mãos e vozes de Fernando Cunha, Tim, Miguel Ângelo, Olavo Bilac, Pedro Jóia, Alexandre Frazão, Fernando Júdice, Mário Delgado e José Salgueiro.
Na vibração acústica deste histórico colectivo sobrevive a força das palavras de José Afonso, mas não só. No EP “Canções da Revolução” há ainda vívidas abordagens a “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”, canção do álbum homónimo de José Mário Branco editado em 1972, o primeiro da sua brilhante carreira; “Maré Alta”, tema que Sérgio Godinho incluiu em Sobreviventes, outro grande álbum de 1972 e outro registo de estreia; e ainda “Fala do Homem Nascido”, poema de António Gedeão a que Adriano Correia de Oliveira deu voz no seu segundo LP, Cantaremos.
Este EP conta com edição e distribuição da Vidisco e já se encontra disponível em todas as plataformas digitais.
Concerto de Ano Novo
A Resistência segue caminho, mais de três décadas após a sua estreia, e para 2025 tem ainda mais planos com os dois espetáculos especiais “Concerto de Ano Novo” nos Coliseus do Porto e de Lisboa.
O grupo apresenta-se ao vivo no Coliseu Porto Ageas no dia 25 de janeiro e no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, no dia 1 de fevereiro para celebrar, não só, o lançamento deste novo EP mas também um esperado reencontro com o público que cantará a uma só voz todos os temas que têm marcado a sua profícua carreira.
Uma oportunidade imperdível de partilha, de emoção e de celebração da cultura portuguesa.
8.11.24
OPINIÃO: Um dia sombrio
Desta vez não se pode apontar o dedo às distorções provocadas por um sistema político anacrónico. Donald Trump não só conseguiu a maioria no colégio eleitoral, como deverá vencer a eleição popular. Ou seja, terá mais votos do que Kamala Harris, ao contrário do que aconteceu na primeira vitória, em 2016, sobre Hillary Clinton (a contagem ainda não terminou, mas tem uma confortável vantagem de quase cinco milhões de votos).
Há evidências mais do que suficientes de que os americanos escolheram para presidente um misógino que já se gabou de agredir sexualmente as mulheres, um racista que diz que os imigrantes envenenam o sangue do país (para além de comerem cães e gatos domésticos), um aspirante a fascista que promete usar os militares para reprimir inimigos internos e exprime pública admiração pelo estilo e pelos métodos de ditadores como o chinês Xi Jinping, o russo Vladimir Putin ou o norte-coreano Kim Jong-un.
Com semelhante cadastro, parece quase impossível encontrar uma explicação para a sua eleição. Mas não é surpreendente. Para lá das bizarrias e delírios que fomos retendo dos comícios, Trump conseguiu passar a imagem de um político que vai melhorar a vida dos americanos, capaz de lhes garantir prosperidade económica (menos impostos, melhores empregos, inflação controlada) e maior segurança (combate ao crime violento e à imigração ilegal). Falou para o bolso e para a tranquilidade dos cidadãos e conseguiu até a proeza extraordinária de ver o seu apoio crescer entre as mulheres brancas, os negros e os latinos, tantas vezes os alvos preferenciais da sua retórica violenta. Sendo certo que, do outro lado, estava uma mulher negra, o que não seria um pormenor nem sequer na civilizada Europa.
Como escreveu Tom Nichols, um lúcido crítico de Trump, na The Atlantic, “foi um dia sombrio para os EUA e para as democracias em todo o Mundo”. Os americanos serão os primeiros a sentir na pele a disrupção de Trump, mas os efeitos chegarão à Europa em que estamos inseridos. Mas ainda não é o fim do Mundo. Melhores dias virão.
• Rafael Barbosa – Jornal de Notícias - 07 novembro, 2024
7.11.24
ALPALHÃO: Misericórdia promove I Feira de Outono no Mercado Municipal
Nos dias 8 e 9 de Novembro!
Venha visitar-nos, no Mercado em Alpalhão!
Vamos realizar a nossa I Feira de Outono, e contamos convosco, para que seja um sucesso!
🍁Visite-nos!!!!🍁
6.11.24
NISA: Painel de azulejos evoca o Padre Álvaro Semedo
SÁBADO, DIA 9 - 16 Horas
Cerimónia evocativa de homenagem ao Padre Álvaro Semedo promovida pela União de Freguesias do Espírito Santo, Nª Srª da Graça e São Simão com a inauguração de um painel de azulejos da autoria da artista plástica nisense, Rosário Bello, na Rua Padre Álvaro Semedo, junto à sede da União de Freguesias.
JUSTIÇA: Tribunal europeu diz que condenação de jornalista violou direito à liberdade de expressão
O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos decidiu esta terça-feira que a condenação da jornalista Tânia Laranjo pela divulgação televisiva do interrogatório ao ex-ministro Miguel Macedo violou o direito à liberdade de expressão e era "desnecessária numa sociedade democrática".
Na decisão hoje divulgada pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, a instância considera que a condenação de Tânia Laranjo pelos tribunais portugueses a indemnizar o antigo ministro da Administração Interna no Governo de Pedro Passos Coelho em 35 mil euros - um pagamento repartido com a Cofina, grupo que detém a CMTV - e a uma multa de 80 dias correspondente a um montante de 880 euros "constitui uma interferência desproporcional relativamente ao seu direito à liberdade de expressão e que, por isso, era desnecessária numa sociedade democrática".
A decisão judicial europeia considera que o valor da indemnização a que Tânia Laranjo foi condenada "é bastante significativo" e "capaz de desencorajar os meios de comunicação social de discutirem temas de legítimo interesse público", acrescentando ainda que tem "um efeito inibidor sobre a liberdade de expressão e de imprensa".
O tribunal concorda que o assunto em causa transmitido na reportagem televisiva era de relevante interesse público, por visar um processo que envolvia um ministro num caso de alegada corrupção e abuso de poder, acusações de que Miguel Macedo viria a ser absolvido, mas que na fase de investigação e julgamento justificam o interesse mediático e o escrutínio jornalístico.
Na decisão, o tribunal europeu aponta que os tribunais portugueses consideraram que a divulgação do interrogatório judicial a Miguel Macedo constituía uma violação da lei por ter acontecido sem autorização do visado, mas, por outro lado, sublinha que as gravações do interrogatório foram obtidas através de outro jornalista assistente no processo e que por isso a sua veracidade e autenticidade nunca foi posta em causa.
"Ainda que os tribunais nacionais tenham alegado que a transmissão violava os direitos à privacidade e presunção de inocência de Miguel Macedo, não forneceram qualquer justificação para tal. Em particular, não explicaram como as gravações exacerbaram a situação de Miguel Macedo dada a considerável cobertura mediática que existia do seu caso na altura. Também falharam em apontar razões para que um relato do conteúdo das gravações -- sem expor as imagens -- teria comprometido os direitos de Miguel Macedo em menor grau", lê-se na decisão.
A instância europeia diz ainda não ter sido demonstrado como é que a exibição das referidas gravações prejudicou a investigação em curso contra Miguel Macedo.
Face a isto, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos considera ter havido uma violação do Artigo 10 da Convenção, ou seja, uma violação do direito à liberdade de expressão.
Miguel Macedo demitiu-se do cargo de ministro em novembro de 2014 depois de o Ministério Público lhe imputar o alegado favorecimento de um grupo de pessoas que pretendia lucrar de forma ilícita com a atribuição de 'vistos gold', realizando negócios imobiliários lucrativos com empresários chineses que pretendiam obter autorização de residência para investimento.
O ex-governante foi absolvido em primeira instância de três crimes de prevaricação e um de tráfico de influência.
O processo judicial contra a jornalista Tânia Laranjo pela exibição das gravações do interrogatório a Miguel Macedo teve decisão em primeira instância a 03 de setembro de 2019, quando a jornalista foi condenada a uma multa de 880 euros, decisão confirmada pela Relação de Lisboa a 29 de janeiro de 2020.
Miguel Macedo exigiu em tribunal ser indemnizado pelos prejuízos causados, mas a decisão apenas obrigou a Cofina a esse pagamento, no valor de 55 mil euros, rejeitando condenar Tânia Laranjo. Uma decisão posterior de um recurso na Relação de Lisboa, a 08 de janeiro de 2021, anulou essa sentença, obrigando a jornalista e o grupo Cofina a um pagamento conjunto de uma indemnização de 35 mil euros.
Essa decisão viria a ser confirmada pelo Supremo Tribunal de Justiça, a 25 de maio de 2022, considerando que o valor não era excessivo.
Jornal de Notícias - 05 novembro, 2024
* Foto de Paulo Jorge Magalhães
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