1.11.24

COMBATENTE PELA LIBERDADE: Morreu Camilo Mortágua

Camilo Mortágua, pai das deputadas do Bloco de Esquerda Mariana e Joana Mortágua, morreu esta sexta-feira aos 90 anos. Morreu o antifascista Camilo Mortágua. Tinha 90 anos. A informação foi avançada pela família, numa nota enviada à agência Lusa. “A família informa que Camilo Mortágua morreu esta madrugada, dia 1 de novembro, aos 90 anos. Partilhamos com os muito amigos e companheiros que se cruzaram com Camilo Mortágua a alegria de termos testemunhado uma vida de convicções, de compromisso com a liberdade e com a solidariedade”, pode ler-se na nota. Nascido em Oliveira de Azeméis, a 29 de janeiro de 1934, Camilo Mortágua foi, durante o Estado Novo, um dos grandes nomes da luta anti-salazarista. Pai das deputadas do Bloco de Esquerda Mariana e Joana Mortágua, foi um dos protagonistas de vários golpes mediáticos contra a ditadura. Operação Dulcineia A 22 de janeiro de 1961, Camilo Mortágua participou da famosa Operação Dulcineia, organizada pela Direção Revolucionária Ibérica de Libertação, que tomou de assalto o paquete Santa Maria, que transportava 600 turistas e mais de 300 tripulantes a para Miami. Desvio de Avião da TAP Meses mais tarde, a 10 de novembro de 1961, Camilo Mortágua ajudou a desviar um voo Casablanca-Lisboa da TAP. A ação tinha como objetivo sobrevoar Lisboa e outras cidades portuguesas a baixa altitude para lançar milhares de folhetos contra o regime. Foram largados mais de 100 mil panfletos sobre Lisboa, Setúbal, Barreiro, Beja e Faro. Assalto ao Banco de Portugal A 17 de maio de 1967, ao lado de Palma Inácio, António Barracosa e Luís Benvindo, Mortágua assaltou a filial do Banco de Portugal na Figueira da Foz para financiar ações contra o regime de António de Oliveira Salazar. Nesse mesmo ano, está na fundação da Liga de Unidade e Ação Revolucionária – LUAR. Ocupação da Herdade Torre Bela Já depois da Revolução dos Cravos, em abril de 1975, Camilo Mortágua esteve envolvido na ocupação da herdade Torre Bela, no Ribatejo, a maior propriedade agrícola murada de Portugal, pertencente ao Duque de Lafões, da qual resultou a criação da cooperativa Torre Bela. Grande Oficial da Ordem da Liberdade Concentrou então a sua atenção no desenvolvimento rural e local desde a vila de Alvito, no Alentejo, onde se fixou nos anos 80 do século XX e da qual Mariana e Joana Mortágua são naturais. Em 1991 fundou a Associação Terras Dentro, nas Alcáçovas, e foi presidente da Presidente da Associação para as Universidades Rurais Europeias (APURE). Camilo Mortágua publicou as suas memórias em dois volumes, intituladas “Andanças para a Liberdade”, nas quais percorre a sua vida desde a infância na Beira Litoral até ao 25 de Abril. Em junho de 2005, Camilo Mortágua foi condecorado com o grau de Grande Oficial da Ordem da Liberdade da República Portuguesa, pelo então Presidente da República Jorge Sampaio “Há nomes tão fortes que a morte só leva emprestado”, escreveu a Joana Mortágua, no X. De acordo com as informações avançadas, o velório decorre hoje a partir das 17h30 na casa mortuária de Alvito (Rua da Misericórdia). O funeral está marcado para sábado, às 11h00, partindo da casa mortuária para o cemitério de Alvito (distrito de Beja). “Um lutador contra a ditadura” O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou o seu pesar às deputadas Mariana e Joana Mortágua pela morte do pai, o antifascista Camilo Mortágua, recordando-o como um “lutador contra a ditadura”. Numa nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, o chefe de Estado apresenta o seu pesar “às deputadas Mariana e Joana Mortágua e restante família, amigos e admiradores de Camilo Mortágua”. No texto, Marcelo Rebelo de Sousa recorda Camilo Mortágua como um “lutador contra a ditadura durante muitas décadas do século passado” que morreu hoje “ao fim de uma longa e multifacetada vida ao serviço dos ideais que abraçava”. ZAP // Lusa