2.11.22

OPINIÃO: O silêncio do derrotado

 
Por um voto se perde, por um voto se ganha. Jair Bolsonaro perdeu, por uma margem apertada, mas não há qualquer dúvida de que Lula venceu e será o novo inquilino do Palácio do Planalto. O presidente derrotado, esse sim, não atirou ainda a toalha ao chão. À medida que as horas passam, vão sendo cada vez mais os apoiantes do presidente derrotado a assumir que um novo tempo começou. Bolsonaro, esse, continuava a meio do dia de ontem em silêncio.
Esse silêncio, como é fácil de ver, alimenta a esperança daqueles que não aceitam a derrota. Em muitos estados brasileiros, o dia de ontem foi de violência, houve estradas cortadas e apelos aos militares para que levem a cabo um golpe. Mas à medida que as horas passam, vemos um homem cada vez mais só. Mais isolado. É certo que praticamente metade dos eleitores brasileiros, e isso é assustador, se reveem nas políticas e nos métodos de Jair Bolsonaro. É certo, também, que o Mundo não tardou a saudar Lula, pelo regresso à democracia no imenso Brasil. Esse Mundo, que vê em Lula um interlocutor capaz de voltar a dar voz ao Brasil, está a isolar Jair Bolsonaro e os seus mais fiéis apoiantes.
Lula, logo após serem conhecidos os resultados eleitorais, fez questão de dedicar a vitória a todos os brasileiros e vai, disse, governar com todos. Fez aquilo que não tinha deixado claro na longa campanha eleitoral. No seu discurso, o país ficou a saber o programa do novo presidente. E, sim, Lula está de volta. Embora em condições adversas, tanto internas como externas, continua fiel a si próprio. Todos os brasileiros deverão ter direito a tomar pequeno-almoço, almoço e jantar, sublinhou. Está de volta. E terá de combater a fome de um dos países mais ricos do Mundo. Como diziam, em lágrimas, alguns dos que votaram no candidato da esquerda, já conseguiu uma vez, voltará a conseguir. O resto virá depois.
* Paula Ferreira in "Jornal de Notícias" - 1Nov. 2022