22.11.22

OPINIÃO: O mundo é a lixeira que o homem construiu

Termina hoje a 27.ª Cimeira Mundial do Clima (COP27), desta vez no Egipto, um país onde é proibido protestar, onde se prendem ativistas e o historial de violação dos direitos humanos é preocupante. A liberdade não existe e a comprovar, temos os largos milhares de presos políticos e ativistas por este regime ditatorial repressivo. O encontro tem lugar numa estância turística de luxo que atraiu mais de 35 mil de pessoas e que conta com cerca de 2000 oradores e centenas de lóbis.
Neste encontro discute-se, em especial, a emissão de gases com o inevitável aquecimento global. Enquanto a China e os EUA são grandes contribuintes para agravar a situação, Rússia e Índia, nem escondem, que não vão reduzir as emissões. A verdade é que as grandes multinacionais que, curiosamente, patrocinam estes encontros, como a grande poluidora Coca-Cola, não estão interessadas em assumir metas defendidas pelos cientistas e condicionam os governos a fazerem de conta que tomam medidas. Assistimos a um rol de promessas não cumpridas e teme-se que aconteça o mesmo com os incumprimentos do Acordo de Paris.
O Secretário-geral das Nações Unidas afirmou que o planeta está condenado e a maioria das pessoas com quem nos cruzamos, não querem saber disso. António Guterres foi bem explícito ao afirmar que os países ricos devem levar a cabo um acordo climático e fez várias afirmações dramáticas, mas verdadeiras.
No passado dia 3 de novembro, o representante da ONU afirmou: "Neste momento, estamos todos condenados (…) o mundo está a aproximar-se de uma crise climática irreversível e de "danos dos quais não será capaz de recuperar (…) precisamos de mais urgência, mais ambição e reconstruir a confiança entre o norte e o sul do planeta (…) metade da humanidade está na zona de perigo de enchentes, secas, tempestades extremas e incêndios florestais (…) nenhuma nação está imune. No entanto, continuamos a alimentar o nosso vício em combustíveis fósseis. Perante isto, temos uma de duas opções: ou a ação coletiva, ou o suicídio coletivo. «A humanidade tem uma escolha: cooperar ou morrer. É um Pacto de Solidariedade Climática ou um Pacto de Suicídio Coletivo, estamos perigosamente perto do ponto sem retorno».
Podemos entender, nestas palavras de Guterres, um grito de desespero de quem percebe que o mundo assiste impávido à destruição do planeta. Também é óbvio que a guerra complica tudo no que diz respeito aos combustíveis fósseis e atira-nos para uma crise energética no mundo. Mas o fator principal, tem a ver com as promessas falsas de neutralidade de carbono por parte de empresas e investidores, como, também, denunciou António Guterres.
Este, não é um problema que afeta os outros, afeta-nos a todos. A temperatura na Europa tem vindo a aumentar 0,5 graus por década, o que representa o dobro da média mundial, segundo o relatório da Organização Mundial de Meteorologia. Isto traduz-se num aumento de fenómenos meteorológicos que causaram danos graves e mortes. Enquanto os países mais pobres e menos poluidores são os mais prejudicados, são permitidas as extravagâncias que prejudicam o planeta [1]. Cerca de 15 mil pessoas na europa e mil em Portugal, morreram devido às altas temperaturas e a tendência é para piorar.
Perante tudo isto, não é possível aceitar a atitude irresponsável dos negacionistas. E os jovens um pouco por todo o mundo, vêem-se na necessidade tomarem medidas drásticas para chamar a atenção do mundo que anda entretido com o seu umbigo e não pensa no futuro das próximas gerações. Por exemplo, não se entende porque não se aproveita bem a grande fonte de energia solar que temos.
As migrações climáticas, são um problema que tende a aumentar e muito. Nas próximas décadas, vamos ter populações a verem submersos os seus territórios e vão ter que emigrar, tornando-se os refugiados, vítimas das alterações climáticas.
A defesa do ambiente, é um assunto muito sério. Estamos a destruir ecossistemas, os animais, também são seres vivos e estão a sofrer pelos crimes ambientais do ser humano. Estas questões não podem ficar para segundo plano, têm que ser prioritárias. Esta é a pior herança que deixamos para as gerações mais novas, um planeta destruído. Como escreveu recentemente o professor Avelino Bento, «o mundo é a lixeira que o Homem construiu.»

* Paulo Cardoso in Programa Desabafos / Rádio Portalegre - 18/11/2022
[1] viagens ao espaço para divertimento de alguns milionários; jatos privados; festivais aéreos acrobáticos; fórmula 1, etc.