15.3.21

OPINIÃO: Que o Dia da Mulher seja todos os dias!


No passado dia 8, celebrou-se mais um dia Internacional da Mulher. É comum ouvir aquela pergunta despropositada sobre a razão, do porquê haver um dia da mulher e não há um dia do homem. É não reconhecer as dificuldades, as humilhações e as agressões com que as mulheres sempre se debateram contra a bruteza masculina, nesta sociedade machista. Quem faz essa pergunta, não quer reconhecer que muitas mulheres tiveram de lutar, até para terem o direito ao voto.
Na Hungria, onde as políticas são familiares às pretensões do Chega, a Ministra da Família, Katalin Novák[1], defende que os salários das mulheres não precisam de ser iguais aos dos homens e afirma que «não há nada de errado em uma mulher viver “apenas” para sua família». Segundo a amnistia internacional, este país governado pela extrema-direita de Orban, as desigualdades de género aumentaram muito. O facto de engravidarem, ou por terem filhos, são fatores penalizadores e obrigam a que muitas mulheres, as que não são despedidas, tenham de desistir dos seus empregos para poderem dar assistência aos filhos. Portugal não é a Hungria e mesmo assim, assiste-se a despedimentos de mulheres porque engravidam.
Mas também, um pouco por todo o lado, a pandemia tem tido impacto no aumento das desigualdades. Segundo os dados do Instituto Europeu para a Igualdade de Género, a pandemia está a penalizar mais as mulheres no plano profissional, pessoal e familiar. Trata-se de um verdadeiro retrocesso, quando os avanços ainda eram tímidos. Basta ver o que acontece na desigualdade observada nas carreiras contributivas das mulheres, que resultam em reformas sempre muito mais baixas em relação às dos homens.
Outro dado preocupante, é o aumento da violência doméstica. Continuamos a assistir a violações e crimes que nada têm a ver com a pandemia e que, infelizmente se repetem ano após ano. Estima-se que desde 2004, em Portugal, mais de 500 mulheres foram assassinadas por homens que tinham sido seus companheiros. Estamos a falar de muitas vidas destruídas e de muitas crianças que ficaram sem mãe.
Os homens, o dito sexo forte, parecem ter medo das mulheres e talvez venham a ter motivos para isso. A Câmara de Paris, foi multada por não respeitar a paridade. Em causa esteve a nomeação de muitas mulheres para cargos de responsabilidade em 2018. O vice-prefeito da capital, Emmanuel Gregoire de forma irónica, pediu desculpas na sua conta no Twitter. E apetece gritar: “Mulheres de todo o mundo, uni-vos”, há muita multa por aplicar ao “excesso” de homens… Se uma mulher der um passo, todas devem avançar!
O dia 8 de março não é um dia comercial para oferecer prendas, nem um dia em especial para as mulheres imitarem os homens. É um dia de luta! E não se trata de uma luta só de mulheres, mas sim, da conquista universal pelo fim da discriminação de género, rumo a uma sociedade mais evoluída.
Uma sociedade diferente da que defende um eurodeputado polaco de extrema-direita, ao afirmar que as mulheres devem ganhar menos por serem mais fracas e menos inteligentes; assim como de um líder religioso iraniano que acusou as mulheres “pouco modestas”, de serem as causadoras dos terramotos… Enquanto a esposa de Erdogan, presidente da Turquia, confessou que acha natural o marido ter um harém de mulheres…
Na Síria, as mulheres estão sujeitas a violação sexual, em troca de ajuda humanitária; no ano de 2020, em Portugal foram apurados 101 casos de mutilação genital… Não faltam argumentos para saudar este dia de luta das mulheres e dos homens que consideram o machismo, uma violação dos direitos humanos. E para quando a correção do código do trabalho da direita que permite maior precariedade para as mulheres e a inconstitucional descriminação salarial de género?
O dia da mulher é o dia para recordar todas as lutas contra a descriminação de género, todas as mulheres que lutaram por uma sociedade mais justa, por exemplo, Rosa Luxemburgo, Simone de Beauvoir e daquelas que mostraram a sua coragem como Catarina Eufémia. É o dia de dizer que os ideais da extrema-direita, em crescimento no mundo, descriminam a mulher e reclamam um retrocesso civilizacional com atitudes machistas, sexistas e até de misoginia. É o dia para gritarmos que os novos fascismos de extrema-direita que atacam as mulheres, não passarão. É o dia para desejarmos que o dia da mulher, seja todos os dias!
Paulo Cardoso in - Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 12/3/2021