Amanhã (27-03-2021) celebra-se o Dia Nacional do Dador de Sangue. É o dia em especial para prestar homenagem a esse movimento voluntário, que mesmo em tempos difíceis, continua a garantir que nunca falte o sangue, assim como os seus derivados, necessários para salvar vidas e garantir mais qualidade de vida a quem precisa.
No início de todos os anos, as reservas de sangue sentem uma quebra nos registos das dádivas, muito por culpa dos habituais surtos gripais. Este ano e com uma pandemia assustadora, os níveis das reservas amedrontaram até os mais habituados. Os apelos aconteceram um pouco por todo o lado, com a preciosa ajuda dos órgãos de comunicação social. E os dadores mostraram mais uma vez a sua prontidão e generosidade, para garantir as reservas necessárias.
Desta situação ficou a certeza de que os dadores são aquele exército que em tempo de guerra, perante as maiores adversidades não faltam à luta pela sobrevivência de quem precisa. Contudo fica a questão: Agora, temos as reservas acima do normal, sabemos que os dadores só podem dar sangue de três em três meses e as dadoras de quatro em quatro meses e pergunta-se: Para quando um plano nacional de orientação na dádiva de sangue? Não queremos que falte, mas, também não o podemos desperdiçar.
Por falar nisso, todos os anos o Estado paga para incinerar plasma que não foi possível aproveitar. Existindo a necessidade de comprarmos plasma e medicamentos plasmáticos no estrangeiro, fazia todo o sentido que o Programa Nacional Estratégico para o aproveitamento do plasma humano fosse concretizado. Este programa de 2016, preconiza o apetrechamento de doze hospitais com condições certificadas para o armazenamento e transporte de plasma para fracionamento. Acontece que só temos três hospitais no Porto, com essas condições.
Este programa permite aproveitar na totalidade a doação dos nossos dadores e garantir maior efeito no apoio aos doentes necessitados de medicamentos plasmáticos. O investimento acaba por ter retorno e não estamos tão dependentes do maior negociante de plasma a nível mundial, os EUA. Nitidamente estamos perante a falta de investimento onde é preciso. Não esquecer, também, que uma aposta no sistema por aférese, iria potenciar a quantidade de plasma colhido. Este sistema permite ao dador doar só plasma ou plaquetas em intervalos mais curtos, satisfazendo as necessidades dos nossos doentes.
Para os que acham que não temos dinheiro para estes investimentos tão importantes, recordo que o ano de 2020 ficou marcado por uma crise que abalou o país e o ministro das finanças veio explicar, que não soube onde aplicar os 7000 milhões que não foram gastos. Quando o momento é de uma gravíssima crise e existem necessidades, o governo continua a apostar nas cativações, no lugar de investir e combater as máfias internacionais do negócio do sangue e derivados.
Depois de mais de 40 anos de luta, tivemos em 2018, os primeiros medicamentos plasmáticos com origem em Portugal; foram 30 mil litros para um país que precisa de 180 mil litros ano. Em 2019, a meta era de 50 mil litros, mas em 2020, apenas foi possível fracionar 15 mil litros. Não se percebe como é que este assunto não é considerado de interesse público, quando temos a matéria-prima doada de forma generosa e benévola.
Recentemente tivemos dois avanços que permitem anular as possibilidades de discriminação no mundo da dádiva. É o caso dos dadores homossexuais e dadores estrangeiros que não conseguem ler o português. Após algumas queixas de discriminação que impediam homens que tivessem orientação homossexual de doar sangue, foi criado um grupo de trabalho que envolveu profissionais da saúde e entidades responsáveis como o IPST, para tornar o questionário da triagem mais explícito e evitar fatores de interpretação abusiva.
E ao fim de três semanas (19-03-2021) saiu a atualização da Norma n.º 009/2016 (19-09-2016) que substitui alguns termos que geravam conflitos. Agora é possível um questionário mais claro e pela primeira vez, por insistência da Federação das Associações de Dadores de Sangue de Portugal (FAS-Portugal), vamos ter um questionário bilingue, que permite a dadores estrangeiros, terem mais facilidade na triagem.
Todos os que tiverem os requisitos exigidos contam para esta causa. Promotores da dádiva e dadores, tudo fazem para garantir as necessárias reservas. Haver ou não haver sangue e os seus derivados, é a semelhança entre a vida e a morte.
Um grande bem-haja aos nossos HERÓIS, Dadores de Sangue!
Paulo Cardoso - (vice-presidente da direção da FAS Portugal) in Programa "Desabafos" / Rádio Portalegre - 26/3/2021