19.3.21

MENSAGEM: Carta ao meu Pai

Querido Pai, espero que ao receber esta minha carta se encontre bem… sereno e em Paz!
Pai, até já estou a ouvi-lo dizer “Ó qui há?” que, para quem não sabe o que quer dizer significa “O que é que se passa?”. 
Não sei a que distância o pai está de mim, mas isso também não interessa nada… podem ser muitos os quilómetros, mas para mim o pai está aqui, está sempre junto de mim e, uma coisa eu sei, onde quer que o pai esteja agora, tudo ouve, tudo vê. 
Por isso, é desta forma que chego até si, pois já não lhe posso ligar, não ouço mais a sua voz…, mas sei que o pai me ouve e vê, sabe tudo sobre mim, agora sabe tudo e, isso dá-me um pouco de alento e, é por isso que todos os dias falo consigo, todos os dias digo que o amo!
Gosto e preciso de pensar em si, há quem não goste de falar nem pensar no passado, mas eu gosto, pois, o passado é a nossa essência, a nossa história, a nossa vivência e, esse passado já ninguém nos tira, já o vivemos… o pai já viveu esse passado e deixou marcas, deixou pegadas por onde passou e continua vivo em mim, aqui, em nós! 
E sabe pai… quem se ama não morre, não se esquece!
Pai tento visualizar o seu rosto, ouvir a sua voz… faz-me tão bem. Lembro-me das suas piadas, brincadeiras e isso faz-me sorrir!
Sabe pai, neste mês em que lhe escrevo sinto uma profunda tristeza e uma enorme saudade que dói, dói muito. É o mês de março, o mês em que se celebra o Dia do Pai e também é o mês do seu aniversário, dia 29 de março e, eu não vou poder ouvir a sua voz… é ai que o vazio se instala e a saudade aumenta!
Querido pai, para mim foi, é e, sempre será o melhor pai do mundo pois, ensinou-me valores muito bons e deixou-me tão boas recordações que jamais irei esquecer pois, ficarão para sempre presentes na minha memória.
Pai, recordo-o numa pose para uma fotografia pois, o pai gostava muito de tirar fotos quando me via de telemóvel na mão e dizia logo: “Ó Ana, tira-me aí uma fotografia!” e lá se ponha todo vaidoso, pomposo… e tenho tantas fotos suas pai. Há dias em que me ponho a vê-las no telemóvel, outras vou revelá-las pois sinto-o mais perto de mim… recordo datas, alturas, momentos.
Sim, ponho-me a recordar e, como é bom, pois recordar é viver e desta forma o pai está vivo em mim, aqui, em nós!
Enquanto eu viver o pai continua vivo também, fique descansado que eu não o vou esquecer e digo-lhe mais pai, vou dar-lhe os parabéns em todos os seus aniversários e vou desejar-lhe todos os dias do pai, porque o pai continua a existir, continua a ser o mesmo homem, simplesmente está noutra dimensão.
 Apenas partiu na mais longa viagem da nossa vida, a viagem que tem ida, mas já não tem volta… é a tal viagem eterna, a viagem que todos nós temos de fazer um dia, a viagem que todos temos de aceitar e, é o que tento fazer todos os dias, aceitar esta sua antecipada viagem, para que o meu coração fique um pouco mais sereno.
Lembro-me das suas histórias e, são tantas… das suas brincadeiras e engenhocas que me faziam rir e pensar que só podiam vir daí e dizer: “O meu pai é demais!”, lembro-me dos nossos momentos. 
No verão, nas minhas férias em agosto, à noite sentados no muro do calvário, a falarmos, a rir enquanto bebíamos um vinho do Porto sob um manto de estrelas e, este momento foi um dos últimos em que estivemos juntos Pai, foi no agosto de 2019… sim Pai, quem diria…, mas foi tão bom, lembro-me que rimos tanto, de tantas parvoíces que dizíamos, o Pai adorava rir e fazer rir!
Vejo-o tantas vezes em pensamento sentado debaixo da pinheira que outrora existiu na rampa do calvário, como o pai se deliciava com a sua sombra e ao mesmo tempo como contemplava o horizonte, sonhava, inventava, fantasiava. 
Pai, são tantas, tantas as memórias, as lembranças, as recordações… o Pai lembra-se quando chegava a casa vindo da sociedade e dizia: “Catorze… já estou aviado!” e, começava a rir-se e a esfregar a barriga.
Abençoadas “Jolas” … bons proveitos lhe tenham feito!
Muitas cervejolas fresquinhas também bebemos lá no quintal de casa nas tardes quente de Verão e que bem que sabiam!
Também o recordo em muitas brincadeiras com o seu fiel amigo, o seu Alfa, fiel companheiro de 4 patas… não sei quem era mais “maluco”, se o Pai ou se o Alfa, grande dupla. 
Tenho saudades (agora) de o ouvir dizer “Ó Ana isto não tem sal, tá insonso…”. 
Paizinho só espero que ai as cozinheiras tenham mão para o sal como o pai gosta, se não nem o quero imaginar a fazer as caretas que o pai faz… coitadas!
Querido Pai, esta carta que lhe escrevo é no fundo para homenageá-lo em mais um dia em que se celebra o Dia do Pai. Dizer-lhe que para mim é o melhor Pai do mundo, dizer-lhe que gosto e tenho tanto orgulho em si e, dizer-lhe ainda que é tão bom existir na minha vida e ter-me dado a vida!
Paizinho, termino esta carta dizendo-lhe que é o meu anjinho de luz (como agora lhe chamo), a minha estrela guia e, agora ao olhar o céu e contemplar as estrelas, lá está o pai… a estrela mais brilhante a brilhar para mim, a iluminar e a guiar a minha vida!
Aí que saudades meu Pai! Tenho e quero ter saudades, pois assim vou-o sempre lembrar.
Pai, olhe por mim, cuide de mim!
Há pai, já me esquecia, espero que o Pai continue a usar os seus típicos chapéus e o seu bigodinho como o pai gostava e faziam de si único, meu alentejaninho com o seu bigode e o seu chapéu!
Querido Pai, receba um abraço muito apertado, amo-o muito desde aqui até ai e, não se esqueça Pai, mais uma vez lhe digo, quem amamos nunca morre, nunca se esquece e, isto sim, é para si!
Da sua Ana, a sua menina do Pai.
Até sempre meu Pai!
Para: Manuel Nunes Da Conceição.