27.8.19

NISA: Memória poética - José Gomes Correia

 JOSÉ GOMES CORREIA nasceu em Nisa, no dia 22 de Junho de 1922, e, com ele, Nisa começou a ser, também, uma terra de poetas. De um, pelo menos. Dele. Licenciou-se em Direito e foi funcionário público, durante toda a vida: anos e anos na terra natal, que não queria deixar. A sua obra poética está toda ela contida nos dois livros, que publicou: "Sonhos que morrem, sombras que ficam" (1942) e "Seara do bem e do mal" (1963). Pouco. Muito pouco. Infelizmente, para nós. Pouco, não só porque entre a publicação dos dois livros, aconteceu um longo intervalo de vinte anos mas também porque, quando devia ter chegado a hora, o Tempo lhe não deu tempo para mais. Digo isto porque, quando o poeta faleceu, na sua terra natal, em 2 de Julho de 1983, estava cumprido outro ciclo de vinte anos: era chegado o tempo do terceiro livro, que não chegou a vir, e o poeta contava, então, apenas, sessenta e um anos de idade. Novo. Bastante. Talvez por isso, a sua morte foi, digamos, uma morte sem despedidas: brutal, como sempre é a morte, e escalafriante, porque se não fez anunciar. Foi como que aquela fuga para a frente que ele, aliás, de há muito tinha anunciado. "Por isso fujo e fugirei liberto / e é na solidão que me pertenço / que faço do meu peito um campo aberto/ onde posso gritar tudo o que penso".
           Carlos Tomás Cebola - in "Folha de Montemor" (Abril de 1996)

A meus pais
P´la lágrima de mãe enriquecida
Dum rosário de tanta desventura,
P´la gota de suor dum pai vertida
Por distante ideal a que procura...

Por esforços que mudam a vida
E me levam - mesquinha criatura,
Por titânico exemplo e dura lida
Que uma graça de Deus se me afigura,

A vossos pés, meus Pais, grato deponho
O meu, que foi também o vosso sonho,
Como penhor da minha gratidão...

Sonhar de dezanove primaveras,
A viagem ao mundo das quimeras,
A oferta integral dum coração!
José Gomes Correia