15.8.19

“Falinhas mansas” e “gerigoncismo”. Greve dos motoristas divide Bloco

A forma como o Bloco de Esquerda se posicionou em plena greve dos motoristas merece críticas do dirigente do partido Pedro Soares que lamenta as “falinhas mansas” e considera que “o gerigoncismo embotou o raciocínio político”.
A posição do dirigente bloquista que vai deixar o lugar de deputado na Assembleia da República foi divulgada no perfil de Facebook de Pedro Soares.
“O gerigoncismo embotou o raciocínio político de muito boa gente, que já não sabe colocar-se com clareza de um dos lados das lutas, perdeu gume no combate político e deixa-se submeter ao pânico da contabilidade dos votos“, critica Pedro Soares, reforçando que “é esta postura rendida ao populismo que engorda o PS, não são as lutas pelos direitos de quem trabalha”.
“Ainda há quem, sendo de esquerda, hesite sobre o apoio à luta dos motoristas, venha com falinhas mansas acerca dos serviços mínimos decretados pelo Governo, faça comoventes apelos à calma entre as partes para que o país não saia prejudicado, demonize os sindicatos e as lutas ‘inorgânicas’”, escreve também Pedro Soares.
As palavras do dirigente bloquista surgiram várias horas antes de a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, ter criticado o Governo pela aplicação da medida de requisição civil parcial aos motoristas de matérias perigosas, para evitar falhas no abastecimento de combustíveis.
“Decretar uma requisição civil a pedido das entidades empregadoras é um erro, uma limitação ao direito de greve“, salientou Catarina Martins, notando que o Governo deve antes preocupar-se em resolver os problemas dos motoristas, designadamente os “horários de trabalho absolutamente selvagens” e a “fuga generalizada às contribuições à Segurança Social”.
“Este é o tempo das negociações para um contrato colectivo de trabalho que respeite os trabalhadores e seja respeitado pelas entidades empregadoras”, disse ainda Catarina Martins.
Também o PCP veio a público defender a negociação colectiva – note-se que a Fectrans, a estrutura sindical próxima dos comunistas, não aderiu à greve dos motoristas.
O PCP também critica ao de leve o Governo por ter optado pela requisição civil e pelos serviços mínimos, considerando que introduz “limitações no direito à greve”. Mas, embora reconhecendo o descontentamento dos motoristas e a sua “luta consequente”, os comunistas reparam que há uma “instrumentalização” dos “reais problemas” destes profissionais, considerando que a greve está a ser “impulsionada por exercícios de protagonismo e por obscuros objectivos políticos” e que “procura atingir mais a população que o patronato”.
Por outro lado e como seria de esperar, o PS veio defender o Governo, destacando que está a actuar de “forma apropriada” para “compatibilizar o exercício do direito à greve com o exercício dos demais direitos dos trabalhadores e da população em geral”.
Os socialistas frisam que continuam “a defender o direito à greve”, mas sustentam que foi a “falta de cumprimento dos serviços mínimos” que “conduziu à necessidade” de decretar a requisição civil.
ZAP - 14 Agosto, 2019