A exposição ao fumo do tabaco provoca efeitos adversos e imediatos ao sistema cardiovascular, podendo também desencadear o desenvolvimento de diversos problemas de saúde. As crianças, em particular, podem desenvolver patologias do foro respiratório e cardiovascular, devido à inalação involuntária do fumo de tabaco.
Por natureza, as crianças são mais vulneráveis à exposição do fumo do tabaco, devido a motivos biológicos, fisiológicos e comportamentais. A sua respiração é efetuada com maior frequência e volume, quando comparada com a dos adultos. O seu aparelho respiratório é mais sensível à generalidade dos produtos tóxicos do tabaco.
Os pais possuem aqui um papel fundamental, o da proteção da criança, nomeadamente em fases mais precoces do desenvolvimento. Não basta os pais não fumarem junto dos filhos, uma vez que as partículas acumulam-se nas roupas e nos móveis.
No entanto, não podemos considerar os pais negligentes por exporem os filhos às perigosidades toxicas do tabaco. Trata-se de uma dependência da nicotina com a qual os pais lidam diariamente.
No fumo do tabaco foram identificados mais de 4 mil compostos químicos diferentes nocivos para a saúde. O principal componente do tabaco na fase gasosa consiste no monóxido de carbono, que facilmente interfere com a circulação sanguínea. Na fase de partículas, os principais componentes são a nicotina e o alcatrão, sendo a primeira o composto responsável pela dependência.
A nicotina é uma substância alcaloide, que tem efeitos a nível do sistema nervoso e está associada à libertação de dopamina e de noradrenalina. A nível do sistema nervoso a nicotina pode causar efeitos estimulantes ou depressivos.
Deixar de fumar é difícil. Tratando-se de um hábito com dependência física e psíquica, os sintomas de privação do tabaco nem sempre se conseguem ultrapassar sem ajuda. Contudo, sabemos que é quatro vezes mais fácil deixar de fumar com ajuda médica, pois permite controlar e diminuir os níveis de ansiedade durante o processo.
Felizmente, cada vez mais, as crianças condenam o ato de fumar. A educação nas escolas sobre os malefícios do tabaco está a ter um papel essencial. As crianças já acompanham os pais às consultas para os apoiar a deixar de fumar, pois sabem quais os malefícios para a saúde dos pais.
Diria que as grandes influências nos nossos adolescentes continuam a ser os exemplos interpares e a necessidade de aceitação nos grupos sociais.
Após 6 meses de cessação tabágica, o fumador é considerado um ex-fumador.
É aconselhável ser acompanhado durante este período por uma equipa especializada em apoio intensivo à cessação tabágica.
* Artigo de opinião da Dra. Ana Raquel Marques, especialista em Medicina Geral e Familiar e coordenadora da
Consulta de Cessação Tabágica do Agrupamento de Centros de Saúde de Matosinhos