Dia Mundial da Luta Contra o Cancro assinala-se a 4 de
Fevereiro
O cancro do pulmão é, atualmente, a primeira causa de morte
por cancro nos homens em Portugal, e a terceira no sexo feminino, atrás do
cancro do cólon e do cancro da mama. Por ano são efetuados novos diagnósticos
de cancro do pulmão em cerca de 5.730 homens e 1.430 mulheres, e morrem por
esta doença aproximadamente 5.100 homens e 1.080 mulheres.
Apesar dos progressos conseguidos no seu tratamento, os
ganhos verificados na sobrevida da maioria dos doentes, cinco anos após o
diagnóstico, são escassos. Nos Estados Unidos a taxa de sobrevida global aos
cinco anos passou de 13 por cento em 1975 para cerca de 18 por cento em 2018. O
prognóstico depende do estádio de evolução da doença na data em que é iniciado
o tratamento e a maioria dos diagnósticos são obtidos em fases avançadas da
doença. Nestes casos a taxa de sobrevida aos cinco anos varia entre os zero e
os 36 por cento. Contudo, os doentes diagnosticados durante o primeiro estádio
clínico da doença têm uma probabilidade de mais de 90 por cento de estarem
vivos passados esses cinco anos.
Podemos concluir, pelos números acima referidos, que se
trata duma doença com um peso social e económico muito significativo, com
sérias repercussões na vida das pessoas e das famílias afetadas e na sociedade
em geral, uma vez que as suas consequências, o tratamento e todo o apoio de que
necessitam os doentes com cancro do pulmão se repercutem, de diferentes formas
e intensidades, a todos estes níveis.
Será que podemos alterar este cenário?
O conhecimento atual sobre as causas do cancro do pulmão, as
capacidades disponíveis para o seu tratamento conforme o estádio da doença ao
diagnóstico e as possibilidades existentes de realizarmos diagnósticos em
estádios mais precoces permitem-nos afirmar que podemos alterar muito o cenário
atual e que não estamos, de facto, a orientar os esforços no combate à doença
na direção certa. É necessário investir muito mais em duas áreas fundamentais:
na prevenção e no diagnóstico precoce do cancro do pulmão. Podemos parar o
cancro do pulmão antes de ele aparecer e, quando isso não for possível, temos
de o diagnosticar antes de adquirir dimensões que impeçam a sua cura.
Mais de 80 por cento dos doentes com cancro do pulmão são
fumadores ou ex-fumadores. O hábito de fumar e a exposição ao fumo ambiental é
o principal fator de risco associado ao desenvolvimento de cancro no pulmão e
este risco pode ser significativamente diminuído pela mudança de hábitos. A
doença pode ser evitada numa enorme parcela dos casos com a redução do consumo
ou da exposição ao tabaco. Em Portugal cerca de dois milhões de pessoas são
fumadoras (perto de 1.33 milhões são homens e 680 mil são mulheres).
Existem ainda outros fatores de risco conhecidos que devem
ser objeto de medidas de controlo específico: poluição atmosférica (fumos de
escape diesel); exposição profissional (asbestos, pó de madeiras, vapores de
soldagem, arsénico e metais industriais como o Berílio e o Crómio) e a poluição
indoor (rádon e fumo do carvão).
Não sendo possível eliminar todo o risco, vai continuar a
existir cancro do pulmão, e por isso temos que chegar ao diagnóstico da doença
antes que esta se manifeste através dos sintomas, porque a identificação da
doença em fase precoce aumenta muito a probabilidade de cura.
A tomografia computorizada torácica de baixa dose de
radiação é o único teste de rastreio de cancro do pulmão que permite diminuir a
probabilidade de morte por cancro do pulmão numa população com alto risco de
desenvolver a doença. Este deverá ser realizado em centros capazes de
identificar doentes com alto risco e com capacidade para diagnosticar e tratar
o cancro do pulmão. Portugal tem condições para montar um programa de rastreio
de cancro do pulmão com cobertura nacional e deve fazê-lo.
Se conseguirmos ser eficazes na prevenção e montar esse
mesmo programa de rastreio com capacidade para rastrear todas as pessoas com
alto risco de cancro do pulmão, poderemos reduzir a mortalidade por esta doença
em cerca de 50 por cento em 15 anos. Isto significa que em 15 anos menos cerca
de 3.000 doentes vão morrer por ano por cancro do pulmão.
Artigo de Opinião de Alfredo Martins, Internista e
Coordenador do NEDResp
Sobre a SPMI
A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) é uma
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bem como a organização de atividades educacionais, no âmbito da formação
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