Quando percebi que ia ser lançado um livro sobre o assalto
que foi feito à Caixa Geral de Depósitos, intitulado – “Quem Meteu a Mão na
Caixa” perguntei: Será que é desta? O livro é da autoria da economista Helena
Garrido e denuncia as más práticas de vários administradores que afundaram
milhares de milhões de euros, com a cumplicidade de vários governos.
PSD/CDS e PS foram os responsáveis em sucessivos governos,
pelas nomeações de administradores da CGD e fecharam os olhos, à distribuição
de prémios elevados, por resultados que afinal foram inflacionados. Favoreceram
ainda, a acumulação de riqueza de algumas personalidades como Joe Berardo,
publicitado como um homem de sucesso, a juntar a outros condecorados a braços
com a justiça.
Mas os principais
favorecidos foram os grandes grupos económicos que, apoiados pela maioria dos
políticos ligados aos governos associaram-se ao sistema financeiro, que
funcionou como uma organização mafiosa. Os casos, como os do BPN, BPP, BES, BCP
e BANIF são a prova dos crimes políticos, permitidos por sucessivos governos e
do comportamento lamentável e condenável do Banco de Portugal.
Em 2010, por via dos contactos a que fui forçado a ter com a
administração da catalã La Seda ,
percebi alguns pormenores que envolviam além da CGD, o BCP e o BES. Tentei
alertar e denunciar. Nicolau Santos, jornalista especialista em assuntos
económicos, escreveu um artigo no Expresso com o título "Portalegre à
beira do colapso"; também chamou a atenção, mas parecia que ninguém queria
saber.
Com todas as trapalhadas associadas, hoje estão na praça
pública os nomes dos que meteram a mão na Caixa, sendo que, aparecem nomes
relacionados com Portalegre como a Artlant que levou trabalhadores de
Portalegre para Sines, da La Seda
e da Júpiter, também de má memória para 50 pessoas em Portalegre, despedidas de
forma selvagem. E, também, ninguém quis saber.
A Júpiter, SGPS, SA do Grupo IMATOSGIL com sede em Portalegre,
na hora do “aperto”, de forma habilidosa, passou a administração para um
testa-de-ferro (José Carlos Cameselle Rivas). No entanto, continuou a dominar
por intermédio das várias empresas fictícias, todas na mesma fábrica, antiga
Finicisa, depois denominada “Parque Industrial de S. Vicente”. E a farsa foi, é
permitida e nunca se conseguiu saber do paradeiro do tal testa-de-ferro. E
ninguém quis saber dos lesados…
O BCE acusou recentemente os governos portugueses de terem
prometido aos bancos que se existissem problemas com o crédito, o Estado
resgataria as perdas. E foi neste contexto que os portugueses já pagaram à
banca privada, entre 2010 a
2017, 17,5 mil milhões de euros. Mais uma hipocrisia, já que a UE, também
fomentou esta prática e até criou um Tratado de Lisboa para assegurar tudo
isto.
As políticas de direita optaram por privatizar os ativos
valiosos e nacionalizar os ativos tóxicos que ainda continuamos a pagar. O caso
mais chocante ocorreu depois de termos pago 5 mil milhões de euros pelo BPN, para
depois ser vendido por 40 milhões de euros ao BIC que agora tenta penhorar
casas e salários a ex-trabalhadores do grupo Alicoop/N&F, de Silves. Também
o Banif depois de injetados 2250 milhões de euros foi vendido ao Santander por
150 milhões de euros.
É preciso apurar os responsáveis políticos, mas também, já é
altura de condenar quem de direito pelas práticas criminosas; os partidos
responsáveis terão de ser condenados nas urnas. Não podemos ter o país a pagar
milhares de milhões de euros e a vender por tuta e meia; não podemos ficar com
a Saúde e a Educação asfixiadas e os donos disto tudo a rirem-se de nós.
PSD e CDS estão indignados e em bicos dos pés, quando num
passado recente, deixaram o processo da CGD a “marinar”, pois o objetivo era a
privatização do único Banco português, depois de espoliarem a Caixa com a
privatização da Seguradora Fidelidade. E não explicam como socorrer os lesados
disto tudo.
Tirem a mão da Caixa e do que é público! Mas para isso,
temos de acabar com a velhinha técnica salazarista de ter o Estado a suportar o
privado; também é necessário defender o Estado dos mercados financeiros com
políticas europeias honestas; melhorar a justiça e as leis para que não
prescrevam os crimes. É preciso condenar os responsáveis! Queremos o que
pagámos!
Paulo Cardoso in "Rádio Portalegre" -08-02-2019 - Programa "Desabafos"