13.2.19

OPINIÃO: Queremos o que pagámos!

Quando percebi que ia ser lançado um livro sobre o assalto que foi feito à Caixa Geral de Depósitos, intitulado – “Quem Meteu a Mão na Caixa” perguntei: Será que é desta? O livro é da autoria da economista Helena Garrido e denuncia as más práticas de vários administradores que afundaram milhares de milhões de euros, com a cumplicidade de vários governos.
PSD/CDS e PS foram os responsáveis em sucessivos governos, pelas nomeações de administradores da CGD e fecharam os olhos, à distribuição de prémios elevados, por resultados que afinal foram inflacionados. Favoreceram ainda, a acumulação de riqueza de algumas personalidades como Joe Berardo, publicitado como um homem de sucesso, a juntar a outros condecorados a braços com a justiça.
Mas os principais favorecidos foram os grandes grupos económicos que, apoiados pela maioria dos políticos ligados aos governos associaram-se ao sistema financeiro, que funcionou como uma organização mafiosa. Os casos, como os do BPN, BPP, BES, BCP e BANIF são a prova dos crimes políticos, permitidos por sucessivos governos e do comportamento lamentável e condenável do Banco de Portugal.
Em 2010, por via dos contactos a que fui forçado a ter com a administração da catalã La Seda, percebi alguns pormenores que envolviam além da CGD, o BCP e o BES. Tentei alertar e denunciar. Nicolau Santos, jornalista especialista em assuntos económicos, escreveu um artigo no Expresso com o título "Portalegre à beira do colapso"; também chamou a atenção, mas parecia que ninguém queria saber.
Com todas as trapalhadas associadas, hoje estão na praça pública os nomes dos que meteram a mão na Caixa, sendo que, aparecem nomes relacionados com Portalegre como a Artlant que levou trabalhadores de Portalegre para Sines, da La Seda e da Júpiter, também de má memória para 50 pessoas em Portalegre, despedidas de forma selvagem. E, também, ninguém quis saber.
A Júpiter, SGPS, SA do Grupo IMATOSGIL com sede em Portalegre, na hora do “aperto”, de forma habilidosa, passou a administração para um testa-de-ferro (José Carlos Cameselle Rivas). No entanto, continuou a dominar por intermédio das várias empresas fictícias, todas na mesma fábrica, antiga Finicisa, depois denominada “Parque Industrial de S. Vicente”. E a farsa foi, é permitida e nunca se conseguiu saber do paradeiro do tal testa-de-ferro. E ninguém quis saber dos lesados…
O BCE acusou recentemente os governos portugueses de terem prometido aos bancos que se existissem problemas com o crédito, o Estado resgataria as perdas. E foi neste contexto que os portugueses já pagaram à banca privada, entre 2010 a 2017, 17,5 mil milhões de euros. Mais uma hipocrisia, já que a UE, também fomentou esta prática e até criou um Tratado de Lisboa para assegurar tudo isto.
As políticas de direita optaram por privatizar os ativos valiosos e nacionalizar os ativos tóxicos que ainda continuamos a pagar. O caso mais chocante ocorreu depois de termos pago 5 mil milhões de euros pelo BPN, para depois ser vendido por 40 milhões de euros ao BIC que agora tenta penhorar casas e salários a ex-trabalhadores do grupo Alicoop/N&F, de Silves. Também o Banif depois de injetados 2250 milhões de euros foi vendido ao Santander por 150 milhões de euros.
É preciso apurar os responsáveis políticos, mas também, já é altura de condenar quem de direito pelas práticas criminosas; os partidos responsáveis terão de ser condenados nas urnas. Não podemos ter o país a pagar milhares de milhões de euros e a vender por tuta e meia; não podemos ficar com a Saúde e a Educação asfixiadas e os donos disto tudo a rirem-se de nós.
PSD e CDS estão indignados e em bicos dos pés, quando num passado recente, deixaram o processo da CGD a “marinar”, pois o objetivo era a privatização do único Banco português, depois de espoliarem a Caixa com a privatização da Seguradora Fidelidade. E não explicam como socorrer os lesados disto tudo.
Tirem a mão da Caixa e do que é público! Mas para isso, temos de acabar com a velhinha técnica salazarista de ter o Estado a suportar o privado; também é necessário defender o Estado dos mercados financeiros com políticas europeias honestas; melhorar a justiça e as leis para que não prescrevam os crimes. É preciso condenar os responsáveis! Queremos o que pagámos!
Paulo Cardoso in "Rádio Portalegre" -08-02-2019 - Programa "Desabafos"