Diz o Dr. Graça Motta e Moura, na sua “Memória Histórica da
Notável Vila de Nisa”: “A falta de água sempre foi grande em Nisa, mas no ano
de 1725, que foi de prolongada seca, tornou-se insuportável; e porque eram muitos
os clamores, o bacharel José Pereira Leitão, juiz de fora da vila, convocou nos
Paços do Concelho, no dia 4 de Novembro, uma reunião do clero, nobreza e povo,
para se lhe procurar remédio, foram todos de parecer unânime, que se procurasse
água a todo o custo, e se fizessem os maiores sacrifícios para a alcançar.
Um dos cidadãos lembrou que no Convento de Santo António do
Crato, havia um frade muito entendedor de hidráulica, e descobridor de
nascentes, e deliberou-se que se lhe implorasse o valimento nesta crise e o
convidassem à descoberta: de bom grado se portou o religioso ao convite, e
depois de explorar os subúrbios da vila, descobriu a grande nascente que ainda
hoje admiramos.
Esta invenção suscitou tal entusiasmo na população, que se
via assim livre dos grandes apuros por que tinha passado, que depois de
compensarem generosamente o inventor, trataram logo de compor a fonte de um
modo rico e aparatoso, fazendo-lhe o frontispício, encanamento, ponte, e outras
obras antigas que ainda existem, e para que a memória do benefício fosse
permanente e a gratidão perpétua, puseram-lhe o nome do seu autor, que
conserva, chamando-lhe ainda hoje a Fonte do Frade que foi concluída no ano de
1726; mas o pavimento em roda dos chafarizes era tão baixo e a água da nascente
abundante, que no Inverno estava cheio de muita lama e lodo, exalando grande
fedor e miasmas, pelo que o mandámos levantar e subir de nível que hoje tem, no
ano de 1846.”
O livro citado, do Dr. Motta e Moura, é hoje raro e o que
aqui se transcreveu, deve ser nos seus pormenores ignorado por muitos nisenses.
O doutor era presidente da Câmara quando mandou levantar o dito pavimento.
Agora vamos a épocas mais recentes. O débito da fonte nos
nossos tempos, atendendo à antiga fartura, tinha diminuído muito. Fizeram-se
obras, por diversas vezes, na canalização e nascente, com o fim de se
aproveitar melhor a água, mas sem grande resultado.
Ultimamente, nos invernos chuvosos e logo que trabalhassem
os lagares de azeite, ela parecia nas bicas com uma coloração escura, o que
fazia supor existirem infiltrações na nascente, provenientes de uma vala que
não passava longe, com o enxurro das águas e albufeiras.
Em vista destes factos e por haver agora na vila bastante
água canalizada, a Câmara Municipal, da presidência do sr. dr. José Fraústo
Basso, acabou com a Fonte do Frade.
Foi o grande frontispício desmontado com cuidado, peça por
peça, para ser mais tarde elevado no Largo do Município da vila, como se
projectara e se fez ultimamente.
Durante a nova montagem, só faltou uma das peças da sua
primitiva construção, a cruz que o rematava, que após a revolução republicana
de 1910, aparecera no chão partida e não fora substituída. Agora, foi ali
colocada outra, muito semelhante, vinda da Quinta da Burceira e que pertencera
a um frontispício que lá existira, construído em 1774.
No lugar em que estivera a Fonte do Frade e anexos,
construiu a Câmara, com a comparticipação do Estado, um magnífico lavadouro
público, com água da Galiana, canalizada da vila.
V.F – in “Revista Alentejana” – nº 230 – Junho de 1956
Nota: V. F. são iniciais de Vieira da Fonseca, um dinâmico e ilustre filho de Nisa, a quem proximamente daremos o devido destaque, em trabalho que estamos a elaborar.
Nota: V. F. são iniciais de Vieira da Fonseca, um dinâmico e ilustre filho de Nisa, a quem proximamente daremos o devido destaque, em trabalho que estamos a elaborar.