9.9.16

NISA: Uma foto com História (1916)

A foto amarelecida que aqui publicamos fez parte da edição nº 10 do semanário nisense "As Férias" e remonta a 1916. Tem um século de existência tal como os nossos Bombeiros Voluntários.
Sobre o jornal "As Férias" e outra imprensa publicada no concelho (que, neste aspecto, não é tão pobre como inicialmente se supunha) iremos tentar reconstituir a sua história e dá-la a conhecer aos visitantes do Portal.
Por ora - é esse o principal objectivo deste post ou mensagem - vamos focar-nos na foto, a única, saliente-se que o semanário "As Férias" publicou ao longo dos seus 19 números de existência, repartidos pelos anos de 1916 e 1917. É uma foto com muito interesse e que a um século de distância nos dá uma excelente panorâmica de parte do Rossio de Nisa e nos ajuda a compreender os desmandos (sem aspas, comas ou sufixos) praticados já neste século (2004 e 2005) com a destruição do jardim municipal, crime de lesa património e lesa memória sem castigo, que o tempo não tem ajudado, antes pelo contrário, a esquecer.
Aos 65 anos e do que conheço da vila e do concelho, este foi, para mim, o maior atentado urbanístico, ambiental e paisagístico cometido sobre um espaço nobre e público da vila de Nisa.
A foto, reparem com atenção, permite-nos reflectir sobre as intervenções que ao longo de um século foram feitas nesta zona da urbe. O Jardim Público inaugurado em 1932, desenhado por Jacinto de Matos, manteve a traça, as linhas fundamentais do Rossio e esse é, na minha opinião, o mais belo elogio que se pode fazer ao ilustre paisagista: desenhou, ordenou, implantou canteiros, plantas e estruturas sem macular a memória do lugar. O Jardim Público, a bem dizer, estava já "desenhado" e Jacinto de Matos não "inventou", não criou artifícios nem "bonecos" para ganhar mais uns tostões. E este aspecto, infelizmente, foi o que marcou as modernas obras do Rossio de Nisa e de outras, tanto no concelho como noutras regiões.
Estabelecer contacto, falar, ouvir, perceber a história, as memórias, as razões dos moradores não faz parte da maior parte dos "sistemas" políticos autárquicos. Gasta-se dinheiro a esmo, afirma-se o ego, consolida-se o poder pessoal e o clientelismo, e as obras aí ficam como cancros a marcar a paisagem e a vivência de quem as utiliza.
A "puta da Fonte" neste cenário dantesco é apenas - como dizia o ministro - um "pintelho" face a todos os atropelos praticados no Jardim de Nisa. Um jardim público que orgulhosamente ostentava esse título e nome.
Agora, o que temos? As memórias de um tempo destruído, a revolta por termos sido coniventes com os desmandos cometidos. Nisa já não tem jardim, tem uma "coisa"  qualquer sem árvores, sem plantas, sem cor, sem vida.
A foto de há 100 anos - ainda sem jardim - é, na sua singeleza, um jardim que outros e outras não quiseram aproveitar. Que pena...
Mário Mendes