3.9.16

Homenagem em versos ao Dr. António Granja (folheto de 1965)

Os versos que a seguir publicamos, foram retirados de um folheto distribuído (vendido) no distante ano de 1965, algum tempo depois da morte do Dr. António Granja, ocorrida a 5 de Novembro de 1964.
O autor dos versos - Manuel Marques Faustino - intitula-se a si próprio "autor analfabeto", mas a extensa poesia popular dedicada ao ilustre médico e humanista que serviu em Nisa, mostra, pelo contrário, um conhecimento de experiência feito sobre a língua pátria e a vida de António Granja.
O folheto - um desdobrável de 4 páginas que encontrámos, por acaso, entre diversa "papelada" - será dado a conhecer, devido à sua extensão, por quatro partes, sendo esta a primeira. O objectivo principal é divulgar a vida e obra do Dr. António Granja, enquanto médico municipal e dos pobres, às gerações actuais e vindouras, "explicando", assim, a existência do monumento inaugurado em 8 de Agosto de 1981, na Porta da Vila, no largo que, a partir dessa data passou a ostentar o nome do "excelente médico que foi cuidador dos seus doentes durante 34 anos que esteve em Nisa"
                                         PARTE I
 Abençoados livros
Onde este Dr. estudou
Quem seria o professor
Que tão bem o educou
Louvada seja a mãe
Que assim um filho criou
Que dentro do concelho de Nisa
Grande nomeada deixou.

A fama deste bom médico
A muito longe chegou
E em regiões de Alentejo Alto
Muitas saudades deixou
No dia do seu funeral
Muita gente o acompanhou

Quando se despediu de Nisa
Muito povo se comoveu
E logo daí a poucos dias
No Rossio de Abrantes faleceu
Médicos como o Dr. Granja
Nunca Nisa conheceu.

No local do Rossio de Abrantes
Por alguma gente foi visto
Estava chorando num quintal
Como um pobrezinho de Cristo.

Por quem chora sr. Dr. Granja
Nessa cadeira sentado
Está limpando as suas lágrimas
Está assim tão magoado.
- Estou chorando pelos meus doentes
Que estavam ao meu cuidado
Que não lhes posso valer
Mas fica tudo mal venturado
E estou chorando pelos meus amigos
Por quem era tão estimado
E estou prestando contas a Deus
Que tenho meu tempo chegado
Fica alguém mais à vontade
Já escuso de ser enchugado -.

Dizendo para seu cunhado
- Estou nos meus dias finais
Deixo a pobreza de Nisa
Não lhe posso valer mais
Adeus jardim deste mundo
Adeus aos meus olivais.

- Adeus concelho de Nisa
E regiões que eu transitava
Adeus todos os meus amigos
Adeus gente que me estimava
Adeus meus queridos doentes
Com caridade vos tratava
Fiz-vos aquilo que eu podia
Que a minha alma abraçava.

- Adeus aldeia do Castelo
Visitar-te já não vou
Adeus manos e cunhados
Adeus mãe que me criou
Quem vai para a eternidade
Para o mundo já não voltou.

Dizendo para seu cunhado
E acenando por sua mão
Quero ir de caixão á terra
Que é para onde os pobres vão
Quero-me despedir deste mundo
E levar esta devoção.

Ao seu verdadeiro irmão
Secundou com o mesmo pedido
Que queria ir de caixão à terra
Que não queria ir para jazigo
Lá na vila de Mação
Lhe estava um oferecido.

Por muita gente de Nisa
Ele foi acompanhado
Até o povo do Rossio de Abrantes
Ficou tudo admirado
Conduzindo-o à freguesia
Onde ele foi baptizado
Na mesma campa do pai
É onde está sepultado.

Vieram-no acompanhar
À sua última morada
Amigos que lhe queriam bem
Não lhe puderam fazer mais nada
Muita gente chorou
Por aquela alma sagrada.

Chorai pobreza de Nisa
Por que vos fez tanta equidade
E que também vos tratava
Por obras de caridade
Por quem jaz no pó da terra
Na campa da eternidade.