Técnico do Museu Geológico de Lisboa prepara molde das pegadas de elefantes encontradas na Praia do Malhão para posterior realização de réplica em laboratório.
Os últimos invernos têm sido nefastos para os fósseis de
pegadas de animais encontrados na costa alentejana, entre Porto Covo e Vila
Nova de Milfontes, concelhos de Sines e Odemira, respectivamente. Trata-se de
um raro e importante registo de pegadas de mamíferos, que inclui alguns dos
últimos vestígios da presença de elefantes na Europa continental, e que datam
desde há mais de 125.000 anos até à última glaciação, que extinguiu muitos
grandes mamíferos, com parentes hoje apenas presentes na Ásia e em África. “Da
mesma forma que o mar tem contribuído decisivamente para novos achados,
destruindo as arribas plistocénicas, a sua acção erosiva incessante reduz, em
pouco anos, grandes rochedos areníticos com fósseis a areia, se não for tomada
nenhuma medida de proteção deste património” refere Carlos Neto de Carvalho,
paleontólogo e coordenador científico do Geopark Naturtejo – Geoparque Mundial
da UNESCO, responsável pela descoberta e estudo deste registo paleontológico
único em Portugal. As
autoridades locais e o ICNF têm sido alertados pelos investigadores para a
necessidade de se tomarem medidas para o resgate daqueles fósseis, que possam
ser transportados desde a zona costeira para incluírem o acervo museológico
local, ou para a sua proteção no local dos rigores do inverno e da acção das
ondas e das marés. “Acreditamos que um dos mais belos registos de pegadas do
Elefante-das-Florestas (Elephas antiquus), que nos permite saber um pouco mais
sobre o modo de vida destes grandes animais hoje extintos, possa não resistir a
mais um inverno, com o colapso da arriba costeira sobre este”, afirma o
paleontólogo. As marcas das intempéries já estão presentes no grande rochedo
com trilhos de pegadas de elefantes que se encontra na Praia do Malhão,
começando a afectar os fósseis. Por essa razão, o investigador com o apoio do
Museu Geológico de Lisboa esteve no terreno esta semana para monitorizar os
sítios com pegadas do Sistema Dunar do Malhão, que se estende desde a Ilha do
Pessegueiro a Vila Nova de Milfontes, tendo o técnico daquela instituição
afecta ao Laboratório Nacional de Energia e Geologia, José Anacleto, realizado
réplicas idênticas das pegadas mais importantes. “Assegura-se que não se perde
o conhecimento científico na sua totalidade, fazendo cópias exactas que estarão
permanentemente disponíveis para estudo no Museu Geológico de Lisboa, mas é uma
pena e uma perda irreparável que não se conserve e valorize este património
natural tão raro, na região onde foi encontrado, contribuindo assim para a
oferta educativa disponível para as escolas locais e para o reconhecimento
internacional da zona”, frisou o especialista.
Fonte: Naturtejo