29.9.16

Investigadores resgatam fósseis com 120.000 anos na Costa Alentejana

Técnico do Museu Geológico de Lisboa prepara molde das pegadas de elefantes encontradas na Praia do Malhão para posterior realização de réplica em laboratório.
Os últimos invernos têm sido nefastos para os fósseis de pegadas de animais encontrados na costa alentejana, entre Porto Covo e Vila Nova de Milfontes, concelhos de Sines e Odemira, respectivamente. Trata-se de um raro e importante registo de pegadas de mamíferos, que inclui alguns dos últimos vestígios da presença de elefantes na Europa continental, e que datam desde há mais de 125.000 anos até à última glaciação, que extinguiu muitos grandes mamíferos, com parentes hoje apenas presentes na Ásia e em África. “Da mesma forma que o mar tem contribuído decisivamente para novos achados, destruindo as arribas plistocénicas, a sua acção erosiva incessante reduz, em pouco anos, grandes rochedos areníticos com fósseis a areia, se não for tomada nenhuma medida de proteção deste património” refere Carlos Neto de Carvalho, paleontólogo e coordenador científico do Geopark Naturtejo – Geoparque Mundial da UNESCO, responsável pela descoberta e estudo deste registo paleontológico único em Portugal. As autoridades locais e o ICNF têm sido alertados pelos investigadores para a necessidade de se tomarem medidas para o resgate daqueles fósseis, que possam ser transportados desde a zona costeira para incluírem o acervo museológico local, ou para a sua proteção no local dos rigores do inverno e da acção das ondas e das marés. “Acreditamos que um dos mais belos registos de pegadas do Elefante-das-Florestas (Elephas antiquus), que nos permite saber um pouco mais sobre o modo de vida destes grandes animais hoje extintos, possa não resistir a mais um inverno, com o colapso da arriba costeira sobre este”, afirma o paleontólogo. As marcas das intempéries já estão presentes no grande rochedo com trilhos de pegadas de elefantes que se encontra na Praia do Malhão, começando a afectar os fósseis. Por essa razão, o investigador com o apoio do Museu Geológico de Lisboa esteve no terreno esta semana para monitorizar os sítios com pegadas do Sistema Dunar do Malhão, que se estende desde a Ilha do Pessegueiro a Vila Nova de Milfontes, tendo o técnico daquela instituição afecta ao Laboratório Nacional de Energia e Geologia, José Anacleto, realizado réplicas idênticas das pegadas mais importantes. “Assegura-se que não se perde o conhecimento científico na sua totalidade, fazendo cópias exactas que estarão permanentemente disponíveis para estudo no Museu Geológico de Lisboa, mas é uma pena e uma perda irreparável que não se conserve e valorize este património natural tão raro, na região onde foi encontrado, contribuindo assim para a oferta educativa disponível para as escolas locais e para o reconhecimento internacional da zona”, frisou o especialista.
Fonte: Naturtejo