O Enforcado
No gesto suspensivo de um sobreiro
o enforcado.
espantalho que ninguém vê,
suas botas recusam o chão que o rejeitou.
Dele sobra o cajado.
Alexandre O´Neill
Mais de 800 mil
pessoas suicidam-se todos os anos
Todos os anos mais de 800 mil pessoas põem termo à vida e um
número muito superior faz tentativas de suicídio. Cada suicídio é uma tragédia
que afeta a família e a comunidade, com efeitos a longo prazo em quem vive de
perto com esta realidade. O suicídio surge em qualquer faixa etária sendo a
segunda causa de morte entre 15 e os 29 anos, apenas ultrapassada pelos
acidentes rodoviários.
De acordo com Ana Peixinho, coordenadora da Unidade de
Psiquiatria e Psicologia do Hospital Lusíadas Lisboa: “Muitos suicídios
decorrem de situações de impulsividade em momentos de crise com dificuldade em
lidar com fatores stressantes externos, como dificuldades financeiras, roturas
conjugais, dor e doença crónicas. Por outro lado, situações de conflito,
catástrofes, violência, abuso ou luto e o próprio isolamento social estão
fortemente associados a comportamentos suicidários”.
Estima-se que cerca de 30 por cento dos suicídios ocorrem
por autoenvenenamento com pesticidas, a maioria dos quais em zonas rurais de
países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento. Outros métodos
frequentes são o enforcamento e a utilização de armas de fogo.
“É importante
reconhecer os métodos mais utilizados para se poder definir estratégias de
prevenção eficazes ao seu acesso. O suicídio é um importante problema de Saúde
Pública que pode ser prevenido com intervenções multidisciplinares adequadas
baseadas na evidência e, habitualmente, pouco dispendiosas. As medidas para a
sua prevenção requerem coordenação e colaboração entre vários sectores sociais
incluindo saúde, educação, agricultura, finanças, justiça e defesa”, revela a
médica.
Ana Peixinho enumera
os principais sinais de alarme: “falar ou escrever frequentemente sobre morte
ou suicídio, fazer comentários de desesperança e culpabilidade, utilização de
expressões que evidenciam falta de motivação para viver, aumento do consumo de
álcool ou drogas, isolamento social, comportamentos imprudentes ou de risco,
alterações bruscas de humor e falar em sentir-se aprisionado ou em ser um peso
para os outros.”
Quanto às
características que diminuem a probabilidade de um individuo considerar, tentar
ou consumar o suicídio, a psiquiatra explica que é necessário que haja “um
acompanhamento em Saúde
Mental , fácil acesso a diferentes intervenções clínicas,
relações estruturadas de amizade, familiares e comunitárias, capacidade de
resolução de problemas e conflitos e fácil acesso aos cuidadores”.
Sabe-se que 75 por
cento dos suicídios ocorrem em países subdesenvolvidos ou em vias de
desenvolvimento. Em Portugal, a taxa de mortalidade por suicídio, em 2014, foi
de 11,7 por 100 mil habitantes, enquanto em 2012 e 2013 foi de 10,1, por 100
mil habitantes. Dados revelam ainda que os homens apresentam uma taxa de
suicídio três vezes superior.