1.5.14

OPINIÃO: Ainda um dia hás-de cantar!

O Alentejo, desde sempre vitima da organização territorial e política do estado-nação e da “inabilidade” para se posicionar face aos detentores do poder continua, quarenta anos depois da reconquista da democracia politica, em patamares de desenvolvimento que ilustram a descriminação de que é vítima.
No momento em que nos preparamos para iniciar mais um ciclo de utilização de fundos comunitários constatamos que continua a ser difícil o aproveitamento integral dos meios financeiros colocados à disposição do país.
Muitos dos obstáculos para conseguirmos transformar esses envelopes financeiros em instrumentos de mudança e de progresso continuam a existir apesar de há muito estarem sinalizados.
Acabados de aprovar um novo Plano de Acção Regional, o PAR Alentejo 2020, podemos constatar que muitas das barreiras identificadas continuam a condicionar a sua implementação e desde logo a teimosia do estado centralista em cumprir a Constituição da Republica, também, no que respeita à Regionalização e, no que a nós respeita, à criação da Região Alentejo.
Apesar de partir de um quadro que não questiona a subordinação dos fundos estruturais à Estratégia Europa 2020 e ao cumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento e como isso vai retirar ainda mais capacidade para podermos, o país e a região, definir as politicas de acordo com as nossas necessidades e não com imposições exteriores, o Plano Regional – Alentejo 2020, foi aprovado por unanimidade pelo Conselho da Região e revestir-se-á de grande importância para o próximo futuro.
O Movimento Sindical de Classe que a CGTP-IN corporiza deixou bem claro nas diferentes fases de “construção”do Plano que recusa a subordinação do princípio da coesão social aos objectivos que visam a liberalização dos principais mercados de serviços e bens, com o acelerar do processo de privatização e a desregulamentação do mercado de trabalho.
Uma estratégia de desenvolvimento para o Alentejo só tem préstimo se servir para melhorar a vida de quem aqui vive e trabalha. Tem que ser este o seu objectivo principal.
No nosso caso a perda de postos de trabalho e de população foi de tal grandeza que os principais objectivos que qualquer estratégia de desenvolvimento tem que assumir deverão ser: a facilitação da criação de emprego de qualidade e o aumento dos níveis de vida e de bem-estar da população.
Desde logo medidas para a revalorização do trabalho e para uma industrialização que abranja todas as sub-regiões.
Persistir em centrar os apoios às empresas exportadoras e situadas em “ilhas” dentro do território será o continuar das apostas erradas ou insuficientes para as necessidades da região. O caminho passa pela aposta nos bens transaccionáveis na sua globalidade como consta aliás nos contributos que em nome da CGTP-IN/Alentejo, fiz chegar à Presidência da CCDRA.
“…A proposta centra os apoios às empresas no fomento das exportações, o que consideramos insuficiente para o desenvolvimento regional. Tem sido assim no INALENTEJO, como concluiu a avaliação intercalar do mesmo (pág. 6). Na nossa opinião o próximo período de programação tem que apostar nos bens e serviços transaccionáveis na sua globalidade e não apenas ou primordialmente nas exportações, com o objectivo de substituir importações. Com este objectivo os regulamentos dos apoios deveriam premiar os projectos que visam aumentar a produção para o mercado nacional…” [1]
Este aspecto é particularmente relevante nos bens alimentares uma vez que o país não garante a auto-suficiência em praticamente nenhum produto agrícola tendo a situação vindo a piorar desde a década de 90 do século passado.
A nossa elevada dependência alimentar, gritante nas leguminosas secas (produzimos apenas 8,5% das necessidades do país, mas com grande peso também nos cereais e no arroz (produzimos menos de 30% das necessidades do país) e nas raízes e tubérculos (56,7% das necessidades). Apesar de mais reduzida essa dependência assinala-se também nas carnes, nos frutos e no azeite.
A região poderia e deveria apostar nesses sectores contribuindo para satisfazer as necessidades do país e para criar emprego.
Para o Alentejo e as suas gentes os fundos estruturais e de investimento a serem disponibilizados até 2020 têm que ser (bem) utilizados para que possamos garantir: crescimento económico e criação de emprego de qualidade; aumento da produção regional em particular em sectores que contribua para substituir exportações e diminuir a nossa dependência; diminuição das assimetrias com o exterior e no interior da região; redução da pobreza e da exclusão social; reabilitação urbana e preservação do património cultural.
Sendo certo que nos debatemos com fortes constrangimentos ao desenvolvimento: o comportamento recessivo da demografia regional, a desvitalização social e económica de importantes aglomerados urbanos e dos territórios de baixa densidade, reduzido dinamismo do tecido empresarial, debilidades dos factores estruturantes da atracção de novos investimentos e desvantagens competitivas face a regiões concorrentes,  [2] a que acrescem os resultados do desinvestimento público a que grande parte da região foi votada durante décadas. Não é menos certo existirem potencialidades suficientes para que tais constrangimentos possam ser ultrapassados.
O Alentejo detém no seu vasto território recursos suficientes para atrair pessoas e investimentos mas tal não chega para construir o desenvolvimento sustentável que os/as Alentejanos/as reclamam e merecem.
Para atingir esse patamar é essencial uma estratégia de desenvolvimento que aposte na revitalização e modernização do sector produtivo, na revalorização do trabalho e na melhoria dos serviços públicos.
Diogo Serra in Revista Alentejo - Abril/2014