O Pelourinho de Nisa tem uma história atribulada que, a seu tempo,
será contada.
Andou, aos retalhos, por jardins e espaços públicos, serviu de
encosto a velhos e novos, suporte de cartazes de cinema e de outras
propagandas, até que, nos finais dos anos 60 do século passado, lhe juntaram as
peças e o colocaram no sítio onde, de jus, há muito deveria estar: a Praça do
Município.
Pensou-se que, com a sua definitiva instalação, acabassem, de
vez, problemas e atribulações. Mas não. Alguém, a mando da senhora Câmara, lhe mandou
plantar dois arbustos, que ali ficaram quais sentinelas, a guardar o monumento
histórico.
Os arbustos cresceram, transformaram-se em árvores e passaram a
ser a referência negativa de um largo cheio de motivos de interesse arquitectónico
e monumental. As árvores passaram a esconder o pelourinho, como se a Câmara
tivesse vergonha de mostrar o símbolo do poder municipal e municipalista.
Não têm conta, as vezes que escrevi e alertei para esta situação,
deplorável e degradante, ao longo dos últimos anos. Tal como o fez José Dinis
Murta, historiador, tentando que a sua voz e palavras tivessem algum eco e
mexessem com a (in)sensibilidade reinante na grande casa defronte. Debalde. Andámos,
um e outro, a pregar no deserto. E nunca chegámos a saber as verdadeiras razões
por que não eram atendidos os apelos que regularmente fazíamos sobre a situação.
Pouco importa, já. A Praça do Município tem um novo rosto. O Pelourinho
foi resgatado do cativeiro a que foi submetido por mulheres e homens sem sensibilidade
e respeito pela história.
Não foi preciso nenhum estudo ou parecer do Siza Vieira ou do
Cassiano Barbosa. Bastou haver um pouco de bom senso e de vontade e, de um dia
para o outro, a Praça onde nasci e brinquei nos primeiros anos da minha
meninice, surgiu mais alegre, cheia de luz e claridade. O Pelourinho, que
tantas vereações quiseram erguer, libertou-se dos escolhos que lhe tolhiam as
formas e as vistas. Os “arbustos” deram origem a duas magníficas floreiras que
embelezam o largo e nos fazem recordar os atropelos cometidos no nosso magnífico
jardim romântico.
Diz o povo que “não há
mal que sempre dure” e esta intervenção na Praça do Município mostra que, sem
grandes despesas, é possível melhorar e embelezar o espaço público e devolver
aos cidadãos o orgulho pelos espaços de memória e convivência que sempre foram
os seus.
Fico, agora, à espera, que em breve os nisenses possam assistir
ao levantamento do Menir do Patalou, igualmente, sem custos de maior para o
município e – o que é o mais importante – sem ter que solicitar os bons ofícios
da PJ do Funchal.
Para meio entendedor uma boa palavra basta...
Mário Mendes