1.5.12

OPINIÃO: Poesia alentejana


O(H)VIBEJA
Aí estão as cabras
com os seus brincos
pendurados das orelhas
as vacas e os porcos
com seus piercings
no focinho e nas narinas
os burros
com a sua calma legendária
suas orelhas de abano
de grandes mais eficientes do que auscultadores
os cavalos lazões
castanhos  izabela
prontos a serem montados
por meninos e meninas.

 Aí estão os vendedores
de algodão-em-rama e de amendoins
e os cães domésticos
puxando os donos pelas trelas.

 Aí estão as aves exóticas
os papagaios   araras
e os garnizés
e os pombos gordos
que nem perus pelo Natal
e os camponeses velhos  reformados
a não perderem nada
pelos pavilhões arrastando os pés.

 Aí estão as avós
puxadas pelos netos
atrás dos fumos doces
dos churros   das farturas
e os agricultores
perdidos em projetos
que rentabilizem
a ingrata agricultura
a água do Alqueiva
os olivais  a rega
sem a qual a planta não tem seiva
o vendedor de máquinas
prometendo a entrega
do tractor New Holland
para virar a leiva.

 A gente do governo
pródiga em promessas:
baixa de impostos  subsídios  sonhos
os putos marginais
virando a Feira das avessas
limpando ao braço
transpirações e ranhos

Aí estão os balões
as espadas Excalibur
os pavilhões
de produtos regionais:
os méis  os queijos  os enchidos maduros
os cheiros assimilados
a humores corporais.

Entanto o  Sol falece
prós lados de Lisboa
são horas de apanhar o autocarro
- há quem vá devagar há quem se apresse
há os eternos retardatários
distribuindo ainda
o tinto que há num jarro

Até pró ano - a Feira estava boa
podia estar melhor diz a mulher cansada
perde a gente o tempo
por aqui à toa
com o raio da crise
não dá pra comprar nada.
- António Saias