Aí estão as cabras
com os seus brincos
pendurados das orelhas
as vacas e os porcos
com seus piercings
no focinho e nas narinas
os burros
com a sua calma legendária
suas orelhas de abano
de grandes mais eficientes do que auscultadores
os cavalos lazões
castanhos izabela
prontos a serem montados
por meninos e meninas.
e os cães domésticos
puxando os donos pelas trelas.
e os garnizés
e os pombos gordos
que nem perus pelo Natal
e os camponeses velhos reformados
a não perderem nada
pelos pavilhões arrastando os pés.
Aí estão as avós
puxadas
pelos netosatrás dos fumos doces
dos churros das farturas
e os agricultores
perdidos em projetos
que rentabilizem
a ingrata agricultura
a água do Alqueiva
os olivais a rega
sem a qual a planta não tem seiva
o vendedor de máquinas
prometendo a entrega
do tractor New Holland
para virar a leiva.
baixa de impostos subsídios sonhos
os putos marginais
virando a Feira das avessas
limpando ao braço
transpirações e ranhos
Aí estão os balões
as espadas
Excaliburos pavilhões
de produtos regionais:
os méis os queijos os enchidos maduros
os cheiros assimilados
a humores corporais.
Entanto
o Sol falece
prós lados
de Lisboasão horas de apanhar o autocarro
- há quem vá devagar há quem se apresse
há os eternos retardatários
distribuindo ainda
o tinto que há num jarro
Até pró ano - a Feira estava boa
podia estar melhor diz a mulher cansada
perde a gente o tempo
por aqui à toa
com o raio da crise
não dá pra comprar nada.
- António Saias