Em Salvatierra de los Barros, na vizinha Extremadura
espanhola, decorreu durante o fim de semana, a principal manifestação cultural
e socio-profissional realizada na Península Ibérica em louvor da Olaria e do
Barro. Como se ilustra pela notícia publicada abaixo, mais de cinco dezenas de
olarias e de oleiros de Portugal e Espanha participaram nesta Festa Ibérica
organizada de dois em dois anos, alternadamente, em Salvatierra de los Barros e
S. Pedro do Corval (Reguengos de Monsaraz), curiosamente, um município da mesma
província (Alto Alentejo) a que Nisa pertence.
Ora, nem esse facto, nem a circunstância, histórica, de o
concelho de Nisa ter sido um importante centro oleiro e a sua olaria pedrada
constituir, ainda hoje, uma singular e genuína forma de artesanato, que deu (e
dá) nome e fama a esta terra, foram suficientes para que a Câmara Municipal se
enchesse de brio e fizesse o mínimo que o bom senso e sentido de responsabilidade
lhe impunha: fazer-se representar na mais importante iniciativa ibérica na
defesa e promoção da olaria e do barro.
Enquanto nas reuniões camarárias têm prosseguido os “jogos
florais” para se saber se a Nisartes, se
realiza ou não, este ano, os eleitos descuram o essencial e desperdiçam
energias e oportunidades de fazer vingar aquilo que o concelho tem de mais
genuíno e popular: a arte dos oleiros e a sua capacidade criativa geradora de
peças únicas e, por isso mesmo, admiradas em todo o país e estrangeiro.
Andamos a discutir os “elefantes brancos” (termas,
albergaria e outros) e vamos esquecendo, desprezando, aquilo que temos e mais
nos identifica e que outros – com sentido oportunista – vão aproveitando em
benefício próprio, fale-se dos queijos, do artesanato e da própria olaria.
O concelho de Nisa, é triste dizê-lo, mergulhou num sono
profundo, letárgico e desmobilizador. A culpa será, em grande parte, das
entidades públicas cujos dirigentes, ciclicamente, elegemos.
Mas não deixa de ser também responsabilidade nossa, do
encolher de ombros indiferente e sistemático, a tudo quanto ocorre de negativo
no concelho.
Limitamo-nos a votar, a transferir competências e deveres
para outros, depositamos neles a nossa confiança e aí termina a nossa
intervenção “democrática” e de cidadania.
Temos um papel expectante e amorfo que se traduz na falta de
vivência activa e participação democrática, na ausência de questionamento dos
poderes públicos e das instituições e na aceitação passiva, como um
determinismo fatalista, de todas as situações que nos lesam como cidadãos, como
contribuintes e como membros de uma mesma comunidade, em diversas áreas da
nossa vida colectiva.
Aqui e agora, lembro e critico esta falta de bom senso, de
responsabilidade, de empenhamento, diria até, de arrojo, da nossa Câmara na
promoção de um dos ex-libris do nosso concelho: a olaria pedrada.
Uma “nódoa” que, a um ritmo impressionante, se tem vindo a
juntar a outras e que mostra, sem sofismas, a inoperância que se instalou na
Praça do Pelourinho.
A olaria de Nisa merece, indiscutivelmente, melhores e mais
dedicados eleitos.
Mário Mendes