15.1.12

Montalvão deu início às comemorações dos 500 Anos do Foral

As associações Vamos à Vila e Salavessa Viva estão a organizar as Comemorações dos 500 Anos do Foral de Montalvão, que se assinalam em 2012, com diversas actividades de carácter cultural e histórico, que tiveram o seu início ainda em 2011.
No domingo, dia 8, a vila de Montalvão, outrora importante e cheia de vida, de tal modo que mereceu a atribuição de tão importante documento régio, vestiu-se com o traje dos dias festivos para receber a visita do Bispo da Diocese, D. Antonino Dias e abrir o livro das comemorações dos 500 anos da sua segunda carta de alforria.
Rui Correia, presidente da Associação Vamos à Vila (Montalvão) em declarações ao “Alto Alentejo” deu-nos conta dos objectivos destas Comemorações, do que foi já feito e das iniciativas previstas para 2012.
“As comemorações dos 500 anos do Foral de Montalvão são organizadas pelas associações “Vamos à Vila” e SalavessaViva, com o apoio da Câmara Municipal de Nisa, Junta de Freguesia e Santa Casa da Misericórdia de Montalvão e da ADN.
Tiveram o seu início em 2011 com a apresentação do vinho comemorativo dos 500 Anos do Foral, uma série de 500 garrafas numeradas e com rótulo próprio aprovado pelo Centro de Rotulagem dos Vinhos do Alentejo, feita em Salavessa por ocasião das festas de S. Jacinto e a segunda em Montalvão, em 26 de Agosto, numa noite de fados que promovemos na Praça da República. A venda deste vinho tem em conta a obtenção de fundos para fazer face às despesas da organização destas comemorações.
Realizámos duas sessões de esclarecimento em Salavessa e Montalvão em que contámos com a colaboração da drª Carla Sequeira e que no essencial procurou explicar às pessoas o que era a Carta de Foral e o significado destas comemorações. No mesmo sentido editámos mil folhetos onde fazemos uma breve descrição do foral.
Ontem, dia 7, houve uma distribuição simbólica de pão, nas duas localidades da freguesia e hoje damos, digamos assim, o “pontapé de saída” para as iniciativas a realizar durante o ano. Temos de enaltecer e agradecer a boa receptividade do senhor Bispo, que celebrará a missa solene, seguindo-se um almoço e convívio aberto a toda a população e mais à tarde um concerto musical pela OTINHA – Orquestra Juvenil da Orquestra Típica Albicastrense.”
Rui Correia fez questão de destacar a receptividade do Secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, ao reconhecer “o interesse cultural do projecto Programa de Comemorações dos 500 Anos de Montalvão – 2011/2012” para efeitos de Mecenato Cultural, o que abre a possibilidade de eventuais mecenas que contribuam para a realização do projecto, poderem usufruir dos benefícios fiscais que a lei lhes confere.
Montalvão: do apogeu à decadência
António Belo, presidente da Junta de Freguesia de Montalvão realçou a importância destas comemorações que “atestam o valor e a importância, quer económica, quer estratégica que Montalvão teve ao longo dos séculos” em contraste com a situação actual de decadência sentida pela freguesia, nomeadamente, “com a falta de condições para a criação de emprego e fixação de população, uma população cada vez mais envelhecida e reduzida, que não dispõe, sequer, de uma simples mercearia”.
O autarca montalvanense diz-se de “corpo e alma com a iniciativa que pode fazer despertar os naturais e ausentes para a história da sua freguesia e sentirem orgulho nas suas raízes”, embora lamente os meios de que a Junta dispõe para poder dar melhor resposta aos problemas do dia a dia.
“Os meios da Junta são precários, há falta de verbas até para manter em funcionamento os dumpers. Temos uma rede de caminhos vicinais extensa e que é necessário manter operacional. Há muitas casas devolutas, algumas a ameaçarem ruína e esta situação preocupa-nos pois não temos meios, nem é da nossa competência restaurá-las.
Os antigos postos da GNR e da Guarda-Fiscal, este, um edifício do Estado, estão abandonados, vamos fazendo o que pudermos e temos apoiado com trabalhos de recuperação alguns dos edifícios públicos da freguesia como a Casa do Povo.”
A finalizar, António Belo mostrou-se esperançado na construção da ponte internacional sobre o Sever ligando Montalvão a Cedillo.
“Sabemos que os nossos vizinhos espanhóis não têm estado parados e talvez brevemente haja novidades sobre o lançamento do projecto”.
Um projecto que o presidente da freguesia de Montalvão acredita, “poder trazer algumas mais valias e movimento não só para a freguesia como também para o concelho de Nisa”.
Um ano cheio de iniciativas
500 anos de Foral representam um acontecimento ímpar na história desta antiga vila e sede de concelho da raia, no extremo norte do Alentejo.
Por isso, as duas associações envolvidas na organização deste evento não param e avançam para novas iniciativas inseridas no simbolismo das Comemorações dos 500 anos.
Assim, a 18 de Fevereiro, na Herdade da Fonte da Feia, terá lugar uma demonstração de Falcoaria por Sebastien de Redon. A 21 de Abril, em Salavessa, haverá uma conferência com Jorge Rosa e um concerto musical na Igreja, ainda sem confirmação do grupo que irá actuar.
Em Montalvão, a 12 de Maio, nova Conferência com Jorge Rosa, seguindo-se um concerto musical na Igreja Matriz, pelo Conservatório Regional de Castelo Branco.
Em Novembro, mês de que está datado o Foral de Montalvão, as Comemorações atingirão o seu ponto alto com a publicação da Carta de Foral Traduzida e Comentada e a implantação de um mural alusivo a tão importante evento.
As associações Vamos à Vila e a Salavessa Viva têm previsto também a realização de Festas Populares em Junho e Concertos de Natal em Dezembro, estando a acertar os pormenores dessas iniciativas, que em devido tempo serão divulgadas.
NOTÍCIA HISTÓRICA
Em 22 de Novembro de 1512, o rei D. Manuel I concedeu Carta de Foral a Montalvão, reconhecendo, assim, a importância desta vila.
O Foral era o documento concedido pelo rei aos vizinhos de uma povoação e que estabelecia direitos e deveres, incluindo a criação ou o reconhecimento oficial de órgãos de administração local.
O Foral outorgado por D. Manuel insere-se na política de reforma dos forais levada a cabo por este monarca e veio reformular o primitivo Foral de Montalvão, doado nos inícios da nacionalidade, pelo Mestre da Ordem dos Templários.
As gentes de Montalvão e do seu termo ficava, assim, com um documento sancionado pelo rei, que estabelecia as regras com que a Ordem de Cristo e o Comendador podiam administrar as terras, bem como os direitos que cabiam ao povo através do Concelho, evitando os abusos e a usurpação de direitos de que o povo era, por vezes, vítima.
O Foral de Montalvão é, hoje, um documento que ajuda a descobrir o modo de vida da população de há 500 anos.
O ano de (quase) todos os Forais
Durante o reinado de D. Manuel I (1495-1521), Portugal assistiu a uma autêntica Reforma Administrativa sob a forma de concessão de Cartas de Foral, designados por Forais Novos, para se distinguirem dos primeiros forais.
Nisa, Alpalhão, Amieira do Tejo e Montalvão (1512) Arez e Tolosa (1517) foram as vilas que mereceram a concessão de Foral por parte de D. Manuel I.
Mário Mendes in "Alto Alentejo" - 11/1/2012