“Retratos Pequenos e Breves do Património Cultural e Natural do Concelho de Nisa” – 14/17
José Dinis Murta, in Nisa Viva – Revista de Cultura e Desenvolvimento Local, n.º 17, Dezembro 2009, págs. 3/14.
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Património cultural imaterial
Ver para o efeito: Decreto-Lei n.º 139/2009, de 15 de Junho de 2009, que desenvolve o legislado na já citada Lei 107/2001, de 8 de Setembro, nomeadamente nos seus artigos 91.º e 92.º, e na Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (foi adoptada na 32.ª Sessão da Conferência Geral da Unesco – Conferência Geral das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura -, em Paris, a 17 de Outubro de 2003. Encontra-se em vigor em Portugal desde Agosto de 2008, na sequência da sua ratificação, conforme Resolução da Assembleia da República n.º 12/2008, de 24 de Janeiro, e respectivo Decreto do Presidente da República n.º 28/2008, de 26 de Março de 2008).
No tocante ao património imaterial há muito para inventariar e registar, para estudar, salvaguardar e divulgar: o falar de Nisa, poesia popular oral, contos, lendas associadas, ou não, a determinados lugares, bruxas e lobisomens, descantes, ditos populares, Janeiras, Entrudo, Dia das Comadres, alcunhas, gastronomia, mezinhas, manifestações de religiosidade, festas populares, casamentos, baptizados, festas dos artilheiros, matança do porco.
A missão de desenvolver e executar a política cultural nacional no domínio do Património Cultural Imaterial (PCI), cujo regime jurídico de salvaguarda se encontra estabelecida pelo recente Decreto-lei n.º 139/2009, de 15 de Junho, está acometida ao Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) através da promoção do respectivo estudo, preservação, conservação, valorização e divulgação, bem como da definição e difusão dos normativos, metodologias e procedimentos relativos às diversas componentes da sua salvaguarda.
A Direcção Regional de Cultura do Alentejo (DRCA) já tem em desenvolvimento o Programa Identidades – Salvaguarda do Património Imaterial do Alentejo, em parceria com várias entidades públicas e privadas, nacionais e estrangeiras, tendo como objectivo implementar na região o espírito da Convenção para a salvaguarda do património cultural imaterial.
A DRCA já assinou diversos protocolos com diferentes autarquias. Vai a autarquia nisense celebrar algum protocolo com esta Direcção para o desenvolvimento de projecto dedicado ao estudo e salvaguarda de, por exemplo, aspectos linguísticos de Nisa?
Património gastronómico
Infelizmente não temos nenhuma publicação que compile as receitas, retrate em fotos os típicos pratos e mostre quem são os cozinheiros e boleiras da nossa rica gastronomia - afogado, sarapatel, sopa de cachola, sopa de peixe, feijão das festas, empadas, maranhos… - e doçaria - cavacas, nisas, tigeladas, rebuçados de ovos…. Há, todavia, algumas receitas dispersas.
Broas dos Santos - Nisa.
(Fotografia não incluída no texto original de “Retratos …”)
Cavacas – Monte Claro.
(Fotografia não incluída no texto original de “Retratos …”)
Quem vai recolher as receitas? Quem vai fazer o inventário deste riquíssimo património imaterial?
Quais são as ervas aromáticas utilizadas no concelho?
Património linguístico
O falar de Nisa é muito característico, é uma das marcas identitárias. Quem não foi já confrontado com a identificação das suas origens só pelo simples falar? Há quem filie o sotaque e determinadas palavras ou expressões utilizadas em Nisa, com ou sem razão, na língua francesa. Há quem estabeleça relações de proximidade linguística dos nisenses com os açorianos. Quais são os estudos científicos que existem que fundamentem, ou não, estes simples pareceres? Com quem se poderia estabelecer uma parceria para esse estudo? Nós tentámo-lo nos idos anos de 90 do século passado, mas as mentalidades políticas foram-nos adversas. Por cada ano que passa, na era da globalização, este falar vai-se perdendo! Quem o agarra?
Património toponímico
Os topónimos dão-nos informações de carácter arqueológico e/ou histórico. O levantamento toponímico rural está realizado e publicado, porém carece de actualizações.
Nos limites de Monte Claro existiu uma anta. Assim o diz um topónimo, topónimo sem registo actual – Tapada da Anta. Ficou surpreendido?!
Os topónimos urbanos, os nomes das ruas alteram-se muitas vezes ao sabor das vontades e dos interesses políticos. Querem homenagear ou recordar alguém ou algo e esquecem (ou desconhecem) o passado, a história, que, frequentemente, nada lhes diz.
Recorde-se o caso apontado para o Centro Histórico de Nisa (referido atrás), e em Montalvão deram, por questões de relações transfronteiriças, o nome de Passeio de Cedillo à Rua da Carreira. Em Nisa, a Porta da Vila, espaço carregado de história, que merecia ser dignificado (o estacionamento, caótico, por vezes, “fere” o Monumento Nacional), tem três nomes. Sabe quais são? Dir-lhe-ei que um se reporta ao local, outro a uma figura nacional e o terceiro a uma personalidade nisense. Qual deles prevalece? Porquê?
(continua em 15/17) - José Dinis Murta