28.2.10

ALPALHÃO: Entrevista ao Presidente da Junta

“Alargamento do cemitério é a obra mais premente”
João Duarte Moisés – Presidente da Freguesia de Alpalhão
O que faz um socialista na presidência de uma Freguesia “tradicionalmente” do PSD?
As pessoas acreditaram que eu podia fazer alguma coisa. Antes tinha estado na Santa Casa da Misericórdia, à frente do Alpalhoense e da Sociedade Recreativa e julgo que deixei uma imagem de concretização e de seriedade. Mesmo quando estive em Marvão, tive sempre Alpalhão no pensamento.
Terá havido mais mérito da sua candidatura ou demérito do trabalho do executivo anterior?
Não quero fazer juízos de valor sobre aqueles que me antecederam, mas sim partir daqui para a frente. A minha simpatia sempre foi pelo PS e candidatei-me para dar um abanão nesta terra e tentar resolver alguns problemas que não tinham sido resolvidos.
Quais são os principais problemas que pretende resolver?
Não prometi nada durante a campanha, mas a minha principal preocupação é o alargamento do cemitério, pois só temos 13 sepulturas libertas. E se lhe disser que temos cerca de 200 pessoas com mais de 80 anos e destas, 50 com 90 anos e mais fico apreensivo, pois seria muito difícil para qualquer alpalhoeiro ver um conterrâneo ser sepultado fora da sua terra.
Esse problema já existia no mandato anterior. Por que não foi resolvido?
O projecto de alargamento do cemitério está quase concluído, faltavam os sanitários. É um projecto com custos de execução de mais de 170 mil euros, uma verba incomportável para a Junta que não tem meios para o executar. Mas não deixa de ser o problema mais premente e a carecer de resolução.
O que tem feito a Junta neste início de mandato?
Quando entrei na freguesia notei um certo desleixo no aspecto da limpeza. A acção imediata foi incidir na limpeza da vila que estava muito conspurcada.
Fizemos a limpeza de muitos locais, instalação de placards para sensibilizar para o depósito correcto dos lixos e reconheço que a nível de reciclagem ainda há muito a fazer.
No aspecto patrimonial, procedemos à limpeza da Fonte da Feiteira, está completamente recuperada, com o apoio da Câmara, faltando apenas a pintura. O alpendre da ermida do Mártir Santo foi igualmente restaurado e limpo. A Torre do Relógio estava às escuras e foi reposta a iluminação.
O que poderão os alpalhoenses esperar do Plano de Actividades para 2010?
O Plano de Actividades e Orçamento foi aprovado e tem um valor de 373.140 euros. Como disse a principal preocupação é a obra de ampliação do cemitério. A outra obra que considero essencial é a substituição da conduta da Fonte Velha. São entre 1.200 a 1500 metros de tubagem desde a nascente aos fontenários e não faz sentido deixarmos de aproveitar uma água tão boa e que durante muitos anos abasteceu Alpalhão.
Faltam passeios pedonais em vários locais da vila, nomeadamente, no centro e na Estrada das Amoreiras.
E qual o apoio previsto para as festividades locais?
A Feira dos Enchidos está no Plano e Orçamento e posso adiantar-lhe que este ano, vamos ter em Alpalhão a Orquestra Ligeira do Exército. No que refere a outras festividades, as freguesias não têm vocação para organizar festas, mas sim dar toda a colaboração possível, às associações que as pretendam organizar, como por exemplo na festa do Mártir Santo e outras.
Qual o “peso” do funcionamento da Junta?
A Freguesia tem quatro funcionários permanentes e mais quatro cedidos pelo Centro de Emprego. A estes temos de pagar 20 por cento do vencimento, o subsídio de almoço e o seguro. As despesas só com pessoal são consideráveis, pouco sobrando para algum investimento mais significativo. Até ao momento, o que tenho solicitado à Câmara tem sido respondido favoravelmente, nem outra coisa seria de esperar, pois só com a colaboração entre todas as entidades é que é possível melhorar a vida das populações.
De que formas prevê a Junta apoiar as colectividades de Alpalhão?
A minha opinião é que há uma certa dispersão de colectividades em Alpalhão. A Sociedade Recreativa está um pouco amorfa. A AJAL tem algumas iniciativas. Temos o Grupo Desportivo, a Filarmónica, o Cicloturismo, as Contradanças. Não sei se são muitas associações para uma terra só, mas penso que uma “guerra” não se ganha com o exército desunido, mas com união. A esse propósito vai ser feito um contrato de comodato com o Grupo Ciclo e a AJAL para instalarem as suas sedes no antigo Matadouro.
E o que pensa acerca das obras de iniciativa camarária, nomeadamente o loteamento do Calvário e o Centro Cultural?
Sobre o Calvário é complicado para mim explicar porque estive e estou contra. Metade da vila de Alpalhão está à venda. Os que aqui residem quase todos têm casa própria. Há muita oferta e pouca procura porque não se vê possibilidades de fixação de jovens em Alpalhão.
Temos um centro histórico, muito bonito, mas está a ficar deserto, “às baratas”.
O Centro Cultural, a ser feito, é uma obra que poderá dar um grande enriquecimento cultural à freguesia, mas não deixo de referir que o edifício da Junta não tem condições. Para além de ser um edifício degradado é de difícil acesso para as pessoas mais idosas. Por outro lado falta um espaço em Alpalhão para as actividades culturais.
Justifica-se a instalação de um pólo industrial em Alpalhão?
As pequenas indústrias existentes estão muito dispersas e a instalação de um pólo industrial ou de actividades económicas poderia trazer algumas mais valias e aproveitar a proximidade do IP2 e a ligação a Espanha.
Como vê a situação social da freguesia?
A situação social não é a melhor. Não há emprego onde as pessoas se possam fixar e a própria juventude afasta-se da terra. Onde não há juventude não há vida e os idosos não investem, estão acomodados.
A Junta não tem condições financeiras nem humanas para atrair pessoas e empresas.
Esta é a realidade.
Sente-se satisfeito com o trabalho realizado?
A nossa acção inicial incidiu na limpeza, na recuperação da Praça de Touros e na recuperação e limpeza de árvores que estavam depauperadas. Temos estado a tempo inteiro na Junta e por isso estamos optimistas quanto ao futuro. Para isso contamos com a colaboração de toda a população para levarmos a bom porto este “navio” que é difícil de pilotar.
Mário Mendes in "O Distrito de Portalegre"