11.2.10

NISA: Retratos Pequenos e Breves do Património Cultural e Natural (2)

Continuação da divulgação do original
“Retratos Pequenos e Breves do Património Cultural e Natural do Concelho de Nisa” – 2/17
José Dinis Murta, in Nisa Viva – Revista de Cultura e Desenvolvimento Local, n.º 17, Dezembro 2009, págs. 3/14.

Anta de S. Gens
(Monumento Nacional – ex-libris do património concelhio)
(Fotografia não incluída no texto original de “Retratos …”)


O que se entende por património, por cultura, por património cultural, mas também por património natural? O que é que faz parte do património cultural e natural?
O vocábulo património tem origem no étimo latino patrimonium, ii, com o significado de património, bens de família, herança. Património é, assim, em primeira instância, os bens que recebemos do nosso pai (padre, patre, pater), é a herança paterna, é constituído por bens pessoais, privados.
Hoje fala-se muito no património genético, nos genes que nos informam das nossas origens mais longínquas e nos colocam e identificam em determinados grupos com determinadas características físicas e morfológicas localizados e/ou originários de determinadas regiões geográficas. O património genético é uma marca identitária.
E o património cultural também é uma marca identitária? Caberá ao leitor responder.
Em sentido lato, alargado, património é tudo aquilo (bens) que nos foi legado pelos nossos antepassados, faz parte do domínio público, pertence à comunidade.
E o que é que nos deixaram os nossos antepassados, os homens que nos antecederam?
Legaram-nos antas, igrejas, palácios, castelos, casas, moinhos, fontes, barragens … os chamados bens imóveis, e mobiliário, moedas, objectos de barro, fotografias, armas, documentos escritos, ferramentas, vestuário, bordados … os denominados bens móveis, mas também a língua, religião, tradições, usos e costumes, festas, contos, lendas, instituições … bens incorpóreos, sem corpo, sem matéria, ditos bens imateriais.
Todos estes bens (móveis, imóveis e imateriais) têm a marca do homem, foram feitos ou utilizados pelo homem e como tal são bens culturais (o vocábulo cultura pode ser tomado em inúmeras acepções. Nós tomamo-lo aqui no sentido antropológico). O homem, e só o homem (assim se distingue dos animais) produz cultura, é produtor e portador de cultura, de bens culturais, e, ao mesmo tempo, utilizador desses mesmos bens, dessa mesma cultura. Há uma permanente dinâmica e interacção, que não se dissocia do tempo histórico em que o homem vive - mentalidade, política, economia, sociedade, religião, conhecimentos técnicos e tecnológicos - e do lugar geográfico com a componente clima, fauna, flora, materiais… (na era da globalização as coisas são um pouco diferentes).
Há, assim, culturas diferentes, ainda que num mesmo tempo cronológico, mas não superiores, inferiores, melhores e piores (é a pretensa superioridade de cultura que alimenta guerras).
Existem outros bens que o homem utiliza e nos quais introduziu ou não a sua marca, mas que são fruto directo da mãe-natureza (da qual o próprio homem faz parte), são os bens naturais – paisagens, florestas, fauna, flora, rios, minerais … é o património natural.
Tem o homem, considerado quer no sentido individual quer no colectivo, um vasto património de bens culturais e naturais. Muitos deixaram de ser utilizados, deixaram de ser úteis, já não satisfazem os objectivos para os quais foram produzidos, perderam o valor, deixaram de ser um bem, porém outros, apesar de não cumprirem a sua missão inicial, são usados de outra forma, são reutilizados, modificados, continuam a ter valor, continuam a ser um bem. Há ainda os que, depois de anos e anos abandonados e/ou esquecidos e/ou desconhecidos, voltam, fruto de circunstâncias várias – políticas, sociais, científicas … - a ser valorizados e protegidos, e muitos outros o poderão ser se o homem dispuser, na altura, de condições humanas, económicas, técnicas, científicas … e vontade política.
(continua em 3/17)
José Dinis Murta