2.1.25

OPINIÃO: À nossa porta

No ano que agora começa, pelo menos um terço das câmaras municipais vai mudar de liderança. Há 103 presidentes que atingiram o limite de mandatos e é inevitável a troca de rostos, ainda que seja mais incerta a efetiva renovação de projetos. Há também um novo mapa administrativo a ter em conta, em resultado do processo de desagregação de freguesias em curso. Ingredientes que justificariam uma maior atenção às eleições autárquicas, que têm sido ofuscadas pelo constante debitar de nomes para as presidenciais. Embora desiguais na dimensão e capacidade de intervenção, até porque a assimetria é a marca de água do país pequeno mas desequilibrado que somos, as autarquias são a primeira linha de poder junto dos cidadãos e essa proximidade permite-lhes um olhar único que deve ser uma mais-valia na resolução dos problemas. É nessa base territorial que começa o trabalho por mais coesão social e a luta contra as desigualdades. Dois exemplos muito simples ilustram esse papel e o tanto a fazer a nível local. Um deles é a fraca representatividade das mulheres, que nas últimas autárquicas sofreu mesmo um retrocesso. Foram eleitas apenas 29, um peso de escassos 9% no panorama nacional. Outro exemplo passa pela integração de imigrantes. Ao contrário do passado, em que a imigração era um fenómeno marcadamente urbano ou limitado a algumas regiões do país, o peso dos estrangeiros é agora determinante e uma oportunidade em concelhos deprimidos no Interior do país. Basta dar os exemplos de Oleiros e Vila Velha de Ródão, com mais de 40% de nascimentos de estrangeiros no último ano, para se perceber de que estamos a falar. Num mundo global e carregado de incerteza, dos conflitos armados à entrada em cena de Donald Trump e os seus barões (como o influente Elon Musk a meter o dedo na Alemanha), do novo ciclo numa Europa frágil às ameaças a princípios humanistas e direitos que julgávamos estabilizados, é natural que nos balanços olhemos para o que (não) podemos esperar à escala internacional. Mas é igualmente crucial recordar que uma sociedade com mais justiça e equidade começa à nossa porta. Inês Cardoso – Jornal de Notícias -01 janeiro, 2025