As velhas fontes de Nisa
Centenas de anos a fio,
Vossa linfa preciosa
De refrigério serviu
À minha Nisa formosa.
Quantas gerações passaram,
Caídas na sepultura,
Que os seus filhos baptizaram
Com vossa água santa e pura!
Em noites de luar silentes,
Tão propícia ao amor,
Nas vossas bicas fluentes
De murmuroso frescor,
Lindas moças iam dantes
Com seus pares, de mãos dadas,
Entre risos e descantes,
Encher as bilhas pedradas.
Se as fontes falar pudessem,
Tinham muito que dizer,
Se contar elas quisessem
O que ouviram sem querer:
Comadres mexeriqueiras,
Do seu lidar esquecidas.
E, entretendo-se, palreiras,
Desfiando alheias vidas;
Segredos de namorados
Com arrufos caprichosos;
Sonhos de amor enlaçados
Em projectos venturosos...
Casos alegres, sombrios,
Ali, todos iam dar,
Com a certeza que os rios
Sempre correm para o mar.
Ó boas fontes velhinhas,
Que pena fazeis agora,
Vivendo assim, tão sozinhas,
Sem o bulício de outrora!
Hoje, em casa, toda gente
Já tem água quanta queira,
Sem custos, prosaicamente:
Basta abrir uma torneira!
Por isso, as fontes de Nisa
Vão chorando a sua mágoa:
Já delas não se precisa,
Ninguém lá vai buscar água!
F. Bagulho – in “Correio de Nisa”
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A bela fonte do Rossio
Lá está, atirada p´ra um cantinho
Lembra-se do seu lugar
E vai chorando de mansinho...
À espera que a promessa
Seja, por fim, cumprida
De voltar ao centro do largo
Onde, há 80 anos, foi erigida.
Só assim terá paz e alegria
Cumprido o sonho final:
De voltar ao centro da vila
O seu espaço original
Nós cá vamos esperando
E alertamos a autarquia:
- Cumpra a promessa feita
E dê à fonte, um novo dia.
Nisorro